05 Junho 2025
Suas últimas palavras foram de esperança. “Continuem a sonhar com a Síria livre”, disse ele aos jovens da União dos Estudantes de Raqqa, que o receberam como um herói naquela que na época – era o 29-07-2013 – havia sido uma das primeiras cidades a se libertar do jugo de Bashar al Assad.
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada por la Repubblica, 04-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pouco depois dessa saudação, “Abuna” (nosso pai, em árabe), como todos o chamavam, havia ido dormir na casa da família de Yassin al Haj Saleh, intelectual sírio inimigo do regime.
Um dos irmãos do escritor, Mohammed, foi a última pessoa a vê-lo vivo, na manhã seguinte, quando o acompanhou ao quartel-general do Estado Islâmico do Levante e do Iraque, que há pouco havia se estabelecido na cidade. Lá, o religioso pretendia usar sua influência para pedir a libertação de alguns cristãos: “Ele passou pelo portão e disse ao meu irmão para não se preocupar se não o visse voltar imediatamente”, contou-nos Haj Saleh anos depois. Ele vestia a roupa de sempre: jaqueta e camisa, o cachecol preto dos jesuítas, nenhum símbolo religioso. Quando as horas se tornaram muitas e depois se transformaram em dias, disparou o alarme. Inútil. Desde então, nada mais se soube do padre Paolo Dall'Oglio. Alguns testemunhos afirmavam que ele ainda estava vivo em 2016 e 2017, mas a sua confiabilidade nunca foi comprovada. Muitos temiam que o seu corpo fosse encontrado nas valas comuns de Raqqa após a derrota do ISIS: não aconteceu, pelo menos não oficialmente, entre os (poucos) corpos reconhecidos graças ao DNA. Outros esperavam que saísse vivo das prisões da Síria libertada dos Assad: mas isso também não aconteceu. O padre Paolo desapareceu no nada.
Mas não sua memória. Ao longo dos anos, entre os ativistas que sacrificaram tudo pela luta contra o regime, o exemplo do jesuíta romano (65 anos no momento do desaparecimento) que havia abraçado sua causa desde os primeiros dias nunca foi esquecido. As imagens ou palavras de “Abuna” aparecem regularmente em encontros ou nas pastas virtuais dedicados à Síria. A ele, nos dias convulsos de dezembro em que o regime caiu, foram dirigidos pensamentos e agradecimentos.
Dificilmente poderia ter sido de outra forma. O padre havia dedicado sua vida a uma Síria tolerante, amiga das religiões e das culturas: por trinta anos, ele viveu no país, fundando a comunidade monástica de Mar Musa, um oásis de paz e diálogo onde todos eram bem-vindos. Padre Paolo era muito apegado à igreja entre as rochas e aos pequenos quartos: foi forçado a deixá-los quando o regime o expulsou por apoiar a revolução.
Teimoso como era, Dall'Oglio não desistiu: voltou para a Itália, empenhando-se a contar ao mundo – uma de suas últimas entrevistas foi para o New York Times – o que estava acontecendo na Síria. As torturas, as ameaças, os desaparecimentos, os tiros contra os manifestantes. E depois voltou clandestinamente, confiando na autoridade que sua história pessoal lhe conferia para se encontrar cara a cara com os representantes do nascente poder islâmico. Ele foi morto imediatamente? Morreu na prisão? Ainda está vivo? Sua família buscou uma resposta, muitas vezes lutando contra o silêncio das instituições. Seus amigos – entre eles muitos jornalistas que fundaram uma associação que leva seu nome – e os padres que permaneceram em Mar Musa também a procuraram. O silêncio foi interrompido apenas por rumores sem confirmação. Só há uma certeza: quem, após a queda do regime de Assad, em dezembro passado, chegou a Mar Musa, falou de um lugar vivo que continua a se inspirar nos princípios de seu fundador. “Abuna”, para aqueles que o amaram, ainda está vivo: e não morrerá tão cedo.