A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de João 16,12-15, correspondente à Solenidade da Santíssima Trindade, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu".
Neste domingo celebramos a festa da Trindade, uma festa que pode ser difícil de compreender em termos intelectuais, mas que é igualmente profunda e simples se nos deixarmos impregnar pelo seu mistério: é a festa do coração de Deus, a festa do Amor! Um Amor que cria, que dá vida, que é fonte e manancial de vida plena. Deus-Amor que entrega o que tem de mais precioso, seu Filho, para nos orientar no caminho, para nos ajudar a viver livres, sem escravidões, a percorrer esse caminho de vida que nos torna autênticos e gera relações de liberdade. No domingo passado, refletimos sobre a presença do Espírito que Jesus nos deixa para nos acompanhar, onde a chama do círio pascal, que ficou acesa durante cinquenta dias, não se apaga, mas permanece acesa em nossas vidas, nessa intimidade de amor que nos acompanhará e nos guiará sempre.
É uma festa cheia de vida à qual só têm acesso aqueles que vibram com o coração, aqueles que são crianças e se deixam surpreender pelo amor, pelo que não tem explicação, pelo que é e acontece diariamente. Aqueles que se maravilham porque uma árvore continua crescendo, pela vida que nasce e, ao mesmo tempo, sofrem porque, devido ao egoísmo humano, sofrem com aqueles que sofrem! A sensibilidade do coração é a porta de entrada para esta grande festa do amor.
Neste domingo, Jesus fala aos discípulos que estão tristes, porque sabem de sua partida iminente, que não entendem muito bem tudo o que está acontecendo. Jesus os convida a confiar, a ter paciência e a esperar. "Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora".
Em primeiro lugar, ele nos convida a ter paciência, a saber esperar. Vivemos em uma cultura onde o imediato está na ordem do dia, onde a aceleração marca a vida e onde, talvez sem saber ou conscientemente, entregamos o tempo, a vida a situações, momentos, espaços que desfilam diante de nossas telas com experiências variadas, opiniões, comentários, vidas que se entrelaçam, iniciativas valiosas, situações variadas que ocupam nosso tempo.
Fazemos nossa a reflexão de Byung-Chul Han em sua obra A sociedade do cansaço (2017), onde ele descreve a realidade do nosso tempo: a ansiedade por resultados: “O excesso de estímulos, opções, tarefas e informações resulta em uma sobrecarga psíquica, e a pressão para sermos bem-sucedidos em todas as esferas da vida, incluindo a profissional, pessoal e até mesmo nas redes sociais, cria uma forma de cansaço crônico. Esse "excesso de positividade" é o motor ansiedade contemporânea, pois impõe a ideia de que sempre há algo mais a ser alcançado, algo mais a ser feito. Nessa lógica, o repouso e a contemplação se tornam quase impossíveis, pois o sujeito é constantemente pressionado a agir, a produzir e a obter resultados (cf. A ansiedade por resultados em 'A sociedade do cansaço', de Byung-Chul Han. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves).
Neste ano em que celebramos o Jubileu da Esperança, Jesus também nos convida a esperar: “tenho ainda muitas coisas a dizer-vos”. Ele sabe que sua mensagem é uma experiência de vida, que leva tempo, que não pode ser compreendida imediatamente e, por isso, convida a esperar e confiar no Espírito que lhes ensinará tudo o que tem para lhes dizer. É preciso reconhecer que nem tudo se compreende facilmente, que em Seu caminho é preciso fazer experiência de relacionamento, de partilha, de diálogo íntimo com Ele e entre nós.
Jesus apresenta o Espírito em um movimento constante, fazendo referência ao que Ele disse e fez: “vos conduzirá à plena verdade”; “não falará por si mesmo”; “dirá tudo o que tiver ouvido”; “as coisas futuras vos anunciará”. São palavras de consolo para aqueles que, como os discípulos, não sabemos o que fazer diante de tantas situações de violência, onde a dignidade humana é constantemente maltratada, onde a vida humana parece não ter valor. Hoje, Jesus também nos convida a esperar, a confiar em seu Espírito e a nos deixarmos guiar por Ele segundo seus tempos, que não são os nossos. O Espírito nos conduz, nos faz presentes as palavras de Jesus, dirá o que tem a nos dizer no momento adequado, continua alimentando a esperança e a confiança Nele.
E neste movimento de amor, celebramos o mistério da Trindade, que não é simplesmente uma profissão de fé, mas uma pequena comunidade de amor onde somos convidados a habitar sempre, pessoal e comunitariamente. É um abraço estendido a cada pessoa e a toda a sociedade para que nos abriguemos nele!
Mais uma vez, Jesus nos convida a ser como crianças para acolher este mistério de amor que ultrapassa nossos raciocínios e discussões intelectuais, para desfrutar dessa presença amorosa de Deus que é amor.