07 Junho 2025
"As desilusões com os descaminhos de um bonito projeto-esperança para o futuro da Síria provocaram lamento e cólera no coração de Paolo Dall'Oglio. Como se sua vida espiritual e mística fosse ferida no seu íntimo pelo infernal círculo de violência que tomou conta do país que escolheu para viver. Em sua última obra assinala que o circuito do terrorismo, seja de que proveniência vier, fere sua vida de cristão enamorado do Islã".
O artigo é de Faustino Teixeira, teólogo e colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do Canal Paz e Bem.
O presente texto foi publicado em: TEIXEIRA, Faustino. Buscadores cristãos no diálogo com o Islã. São Paulo: Paulus, 2014.
Em todo esse rico repertório de buscadores cristãos no diálogo com o islã, os exemplos continuam brilhando também neste tempo contemporâneo. É o caso do padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, que se apresenta como um “monge, discípulo de Jesus e enamorado do islã” [1]. No seu trajeto dialogal a palavra que talvez melhor expresse o seu sentimento é o testemunho. De fato, toda a sua atuação na Síria vem marcada pelo gesto de doação a um povo e a uma causa: “Trata-se de dar testemunho do mistério de Jesus de Nazaré em favor dos muçulmanos no hoje dramático, doloroso e contraditório do mundo do islã” [2]. Algo bem concreto, como uma “teologia aplicada”, assim como gosta de dizer, que se espraia no cotidiano de um povo sofrido. Uma teologia movida pela “cólera” diante de todo o sofrimento em curso, mas também pela “luz”, que investe os corações de energia para enfrentar as adversidades e reagir com esperança [3]. Esta luz não pode ficar escondida sob o alqueire, mas irradiar por todo o canto (Mt 5,15). Um dos mestres espirituais de Dall'Oglio, o orientalista Louis Massignon, dizia que Deus não quis fazer de sua igreja uma ermida escondida no deserto, mas uma comunidade situada no cruzamento das estradas [4], no calor do tempo.
Paolo Dall'Oglio nasceu em 1954 em Roma, num contexto familiar pontuado pelo debate político e pela sede de mudanças. Uma veia de resistência que tinha em seu pai, Cesare, o exemplo mais vivo. Era um advogado, com histórico no movimento sindical agrário cristão, tendo também participado da Resistência italiana [5]. Bem cedo, Dall'Oglio foi firmando um rumo político de esquerda, para além da perspectiva democrata cristã assumida por seu pai. Era a forma que encontrava para galgar a sonhada emancipação. Desde cedo atuou na caminhada das comunidades de base dos “cristãos para o socialismo” e em outros movimentos de resistência política, incluindo a luta em favor da causa palestina. Como em muitos jovens daquele período na Itália, a sedução socialista ganhava terreno em seu coração.
Por ocasião de seu serviço militar, na vigília da Guerra de Yom Kippur (1973), já vinha movido por grande fascínio pela Terra Santa. A possibilidade de encontro com os palestinos aconteceu em viagem de 1975, quando pôde perceber o traço benfazejo da “hospitalidade beduína”, ao percorrer os caminhos da Galileia. Foi nessa ocasião que “a solidariedade árabe” ganha raiz em sua alma, como ele mesmo expressou em depoimento [6]. Nesse mesmo ano decide entrar no noviciado jesuíta. Sua vocação religiosa tinha despontado no ano anterior, quando tinha 19 anos [7]. Durante uma sessão de exercícios espirituais na capela dos noviços, em fevereiro de 1976, desvenda-se para ele o caminho a ser seguido, na linha do encontro islamo-cristão [8]. Abria-se um campo de apostolado prioritário, bem distinto de um chamado romântico do Oriente, e que vai empenhar todas as suas forças pelo resto da vida.
Ao iniciar seu segundo ano de noviciado jesuíta, em setembro de 1976, manifestou ao responsável pelos noviços o seu interesse pelo islã, e este recomendou-lhe tomar contato com Arij Roest Crollius, jesuíta holandês, então professor na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e grande conhecedor do islã. O contato com este jesuíta desvendou para Paolo os grandes desafios da inculturação. E sob seu conselho seguiu uma semana de exercícios espirituais com um jesuíta italiano, Francesco Rossi. Ali tomou ciência de que seu desejo de aventurar-se em terras do islã tinha que ser precedido por um mergulho na tradição judaica [9].
Um momento importante e decisivo para o seu encaminhamento espiritual ocorreu em 1977, por ocasião da visita do padre geral jesuíta, Pedro Arrupe, ao noviciado de Roma. A ele manifestou o desejo de dedicar sua vida ao encontro com os muçulmanos. O sábio e generoso papa negro escutou com atenção, e com o olhar voltado para o jovem jesuíta respondeu: “É uma missão muito difícil, mas se esta é a vontade do Senhor, ela se cumprirá”. Uma semana depois vem convocado à cúria geral dos jesuítas, nos arredores do Vaticano, e recebe a notícia esperada, por parte do jesuíta responsável pela província do Oriente Médio, que sua proposta missionária tinha sido aceita. No mês de outubro de 1977 segue para Beirute, para os estudos superiores na Universidade São José de Beirute, aprofundando-se também na língua árabe. Vem recebido pelo superior daquela província jesuíta, o padre Kolvenbach. Em dezembro professa os votos religiosos em Bikfaya, nas montanhas cristãs do Líbano.
A situação política em Beirute agravou-se quando Paolo iniciava seu segundo ano de estudos na Universidade, ao final do verão de 1978. As tensões se acumulam com a batalha de Achrafieh, com bombas atingindo o bairro cristão, no leste de Beirute. Foram momentos difíceis para o jesuíta, que chega inclusive a pensar em se engajar no conflito. Em momento de oração na capela, capta no coração, em língua árabe, palavras que indicam outro caminho: “Quero conservar-te para um tempo que vem depois deste tempo”. Isto foi percebido como uma senha para deixar o Líbano, e ele o faz com tristeza. O destino foi Roma. Na Itália, segue seus estudos em Nápoles, por dois anos, cursando filosofia, árabe e cultura islâmica. A formação ganha continuidade em Jerusalém, no verão de 1980, com o favorecimento de uma bolsa de estudos do Ministério da Cultura de Israel para o aprendizado de hebraico. Foi uma ocasião propícia para o melhor conhecimento da sociedade israelita, mas também para firmar o seu “sentimento de solidariedade” com a causa palestina. Eram tempos difíceis, com conflitos na fronteira norte e grandes tensões na Cisjordânia. Voltava seu olhar adolorado para a esplanada das mesquitas, outrora Templo de Jerusalém, e se perguntava sobre o futuro, com a possibilidade de transformação desse espaço em lugar de reconhecimento recíproco e de fraternidade [10].
Ao retornar de Jerusalém recebe a notícia de que seria enviado a Damasco, na Síria. Já tinha estado ali algumas vezes e sentia uma grande atração pela nação, que na ocasião buscava um caminho socialista. Mas as tensões já estavam em curso, com as tentativas desestabilizadoras visadas pelos Irmandos Muçulmanos, movimento radical islâmico, nascido no Egito, mas que depois se irradiou por outras regiões. Dall'Oglio revela que o período passado em Damasco, entre 1980 e 1981, foi apaixonante. Participou como ouvinte na Faculdade de Direito muçulmano da Universidade de Damasco e buscou maior aproximação com a religiosidade daquela gente muçulmana. Assinala que foi “o início de sua lua de mel com o islã”. Ali, na capital da Síria “entrou nas mesquitas, colocou-se em silêncio junto aos muçulmanos, rezou com eles. Em seu coração pronunciou suas palavras, com o seu ritmo. Participou das sessões místicas e dançou com os sufis. Estudando na faculdade islâmica, fez amizades com numerosos muçulmanos” [11]. Admirava-se com a atitude acolhedora dos fiéis muçulmanos, e podia constatar que as tradições religiosas não estão necessariamente fechadas para o mundo da diversidade, mas são capazes de se deixar hospedar pelos outros no âmbito da profundidade. A mística foi para Paolo o “precioso viático em direção ao islã” [12].
Em 1982 retorna a Roma para prosseguir o curso de teologia e concluir os estudos de islamologia em Napoles. Vai ser nessa ocasião que ele descobre as ruínas do Mosteiro de Mar Musa, situado no caminho da estrada que leva a Nebek, cidade síria a 85 quilômetros ao norte de Damasco [13]. É nesse mosteiro do deserto que Dall'Oglio transcorrerá os trinta anos seguintes de sua vida. Quanto aos estudos, concluirá sua tese de láurea em 1984, junto ao Instituto Universitário Oriental de Napoles, cujo tema foi: Uma interpretação da posição antitrinitária do Corão, através do estudo do Corão IV,171 [14]. Os estudos de doutorado foram iniciados quando ele já estava em Mar Musa, por decisão tomada pelo padre provincial e comunicada a ele em setembro de 1987 [15]. Ele parte para Roma infeliz, mas segue em frente com o projeto. O argumento para a tese nasceu num encontro com um Sheikh muçulmano, quando se deu conta de que cristãos e muçulmanos partilham de uma mesma esperança [16]. Com a preciosa ajuda de Roest Crollius, seu orientador, trabalhou o tema da esperança no islã, tendo por base a Sura 18 do Corão (Sura da Caverna – Al-Kahf). Trata-se de uma sura que aborda a história dos sete dormentes de Éfeso, de sete jovens cristãos que refugiando-se da perseguição adormeceram numa caverna e só despertam três séculos depois [17]. Em sua análise, Dall'Oglio buscou mostrar que a salvação não é um horizonte restrito a poucos, mas um campo aberto e acessível aos justos desde já. Na introdução de sua tese, publicada em 1991, assinala que a leitura do Corão, de preferência na língua árabe, revela para os cristãos a consciência de uma “profunda experiência de Deus” [18]. E também a percepção de que o Espírito de Deus está em ação em toda parte, atuando vivamente nos corações daqueles que se abrem à sua ação graciosa [19]. O trabalho veio coroado com sucesso, com a defesa do doutorado em missiologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, em 1990.
Mar Musa é o nome de um velho mosteiro, tradicionalmente conhecido como Mosteiro de são Moisés o abissínio, Dayer Mâr Musa al- Habasî. Trata-se de um antigo lugar sagrado, isolado nas montanhas a leste de Nebek (Síria), que foi no passado espaço de peregrinação e oração de eremitas cristãos [20]. As ruínas do mosteiro foram descobertas por Paolo Dall'Oglio em 1982, e o trabalho de restauração vem iniciado em 1984, com a ajuda do governo sírio e o apoio da igreja local e de um grupo de voluntários sírios e europeus. Naquele patrimônio religioso, estavam ainda bem conservados uma série de afrescos do século XI e XII.
O nome Mar Musa dizia muito, e envolvia toda uma rica simbologia: “deserto, silêncio, beleza, hospitalidade”. E ali diante das ruínas do mosteiro, o jovem jesuíta pressentia a confirmação de três grandes prioridades de seu itinerário: o absoluto da vida espiritual, o desafio do trabalho manual e o dom da hospitalidade [21]. Era a ocasião favorável para concretizar sua aventura humana, espiritual e pastoral. E a comunidade monástica surge com ideais novidadeiros: uma “comunidade mista, ecumênica, consagrada ao diálogo islamo-cristão” [22]. Nasce oficialmente em 1991. O nome assumido foi comunidade de al-Khalil (amigo de Deus). Para que sua constituição viesse aprovada, em 2006, foram necessários vários passos, entre os quais a elaboração de argumentações sólidos para justificar sua razão de ser junto à Congregação para a Doutrina da Fé, que julgava alguns de seus artigos pouco ortodoxos [23].
Dall'Oglio descreve sobre os primeiros passos da comunidade em sua obra de 2009, Enamorado do islã, crente em Jesus. Fala sobre a composição do grupo, dos que iniciaram a obra e dos noviços. Dentre os pioneiros, além de Paolo, estavam Jacques, Jens, Dima, Jihad e Houda. Esta última, originária da Síria, foi sempre uma importante parceira no trabalho comunitário. Um “amor misterioso” ligava os dois, “grande como o mosteiro e todos os desertos”. É o que assinala a jornalista francesa, Guyonne de Montjou, em seu lindo trabalho sobre a comunidade. A ela revelou Paolo: “Houda ensinou-me a amar mais profundamente. E eu a ensinei a amar a todos. Em suma, ensinamo-nos reciprocamente a amar numa casta nupcialidade. Fomos confiados a uma relação com Deus, que nos convoca continuamente ao outro, como num espelho” [24].
Como passo importante de inculturação, a comunidade de Mar Musa empenhou-se a fundo no conhecimento do islã, criando as condições necessárias para um tal aprofundamento. Isto envolvia recursos para a instrumentação da biblioteca, com a aquisição de textos e obras muçulmanas; esforços para a implementação do árabe, como língua oficial da comunidade; além de encontros e seminários inter-religiosos. A língua árabe era também a utilizada nas liturgias, com a inclusão do rito siro-católico. Como eixo da comunidade, a prática da hospitalidade, entendida como sinal essencial da relação com o islã: “O monge e a monja de Mar Musa trazem no coração a Umma, a Comunidade muçulmana, quando se colocam diante de Deus na meditação, na oração comum e na eucaristia, e recebem do Espírito de Deus indicações e conselhos sobre como amar mais e melhor, assim como energia para sua realização” [25].
Sobretudo depois do evento de Assis, em 1986, um dos mais impressionantes encontros inter-religiosos realizados com a presença da igreja católica, a discussão da oração inter-religiosa esteve sempre no centro dos debates. Esta questão foi também objeto de reflexão em Mar Musa. Dall'Oglio assinala a complexidade do problema, e indica o caminho percorrido neste campo por sua comunidade [26]. Ao abordar a questão do culto em comum, sinaliza a presença de três níveis: da intercessão em comum e do dhikr (a recordação de Deus); da participação comum na oração litúrgica cristã ou muçulmana; da operação do Espírito nos encontros inter-religiosos. No primeiro nível, a participação comum é evidenciada, nos gestos espontâneos de invocação e louvor a Deus. No segundo nível, preserva-se a especificidade de cada tradição. Assim como a comunhão eucarística vem reservada aos fiéis cristãos, o mesmo ocorre com a partilha muçulmana das refeições nos momentos rituais, destinada aos fiéis muçulmanos. Isto não impede, porém, a participação respeitosa e orante, tanto dos fiéis cristãos como muçulmanos nos momentos específicos de oração de cada tradição. No terceiro nível, aquele da operação do Espírito, a união se faz possível. É quando ocorre, pela força da graça, os louvores espontâneos daqueles que se encontram juntos [27].
Num dos preciosos trabalhos sobre o diálogo islamo-cristão, o jesuíta Christian Van Nispen Tot Sevenaer aborda esse delicado tema da oração comum entre cristãos e muçulmanos. Assinala que em primeiro lugar se faz necessário marcar a diferença que existe entre as duas tradições, e isto para favorecer relações que sejam construtivas. Indica, porém, que tal reconhecimento não elimina a importância das partilhas neste âmbito da fé em Deus. Tanto cristãos como muçulmanos voltam-se para o mesmo Deus, ainda que com a inteligência diversa na compreensão de seu mistério [28]. O teólogo belga, Jacques Dupuis, também tratou desta questão em obra sobre O cristianismo e as religiões (2001). Em defesa de uma perspectiva mais acolhedora da oração inter-religiosa, Dupuis recorre a Marcello Zago, que atuou como secretário no Secretariado para os Não Cristãos. Ele diz, em texto de outubro de 1986, publicado no jornal L'Osservatore Romano: “Ficar juntos para rezar e às vezes rezar juntos é um reconhecimento desse fato essencial da relação de todos os homens com Deus” [29].
Paolo Dall'Oglio relata uma situação delicada vivida por ele com um amigo sufi, e que expressa a complexidade dessa questão da partilha inter-religiosa. Falava ao amigo sobre um rapaz muçulmano, muito sofrido, que tinha vindo ao mosteiro requerendo a conversão. Buscava conselho junto ao amigo, que não titubeou na resposta: “Foi o Senhor que o enviou, e deves guiá-lo com sinceridade de coração”. O sufi, com sua resposta, já havia ultrapassado a letra da lei muçulmana. Em seguida, ele foi rezar, dirigindo-se ao espaço reservado para as abluções. Paolo permanecia fora. Mas o amigo, voltando-se para ele, sugeriu que também buscasse a água para fazer as abluções. A saída utilizada por Paolo foi delicada e respeitosa: fechou os olhos, dirigindo-se em intenção para o Gólgota, e ali lavou-se com a água que saía do flanco do Senhor. Assim que o amigo retornou de seu ritual, encontrou Paolo em lágrimas. E indagou: “Quer fazer tuas abluções?”. Paolo respondeu: “Eu já fiz”. Em seguida, os dois rezaram juntos longamente, com viva intensidade. Mas em seguida o amigo perguntou a Paolo sobre o local onde havia realizado as abluções. E ele tranquilo respondeu: “Em Jerusalém, aos pés da cruz”. E o amigo concluiu: “Compreendi: a tua oração é legítima” [30].
Assim como ocorreu com outros buscadores do diálogo, Paolo Dall'Oglio viveu a linda experiência da acolhida fraterna dos amigos muçulmanos, isto naqueles momentos inaugurais de sua sedução pelo islã. Em viagem de férias, aos 23 anos, quando viajava de Beirute para Luxor, adoeceu no trem, entre os passageiros da terceira classe. Não suportando as crises de paratifo pediu para descer na cidade de Sohag, situada na margem oeste do rio Nilo. Foram momentos difíceis vividos por aquele “estrangeiro” no mesmo deserto ardente em que Agar, repudiada pela casa de Abraão, fugiu com seu filho Ismael. Para a sua alegria, veio acolhido por um rapaz muçulmano, que ouviu com atenção a história contada pelo viajante. Ele propõe a Paolo sua amizade e o leva para sua casa, cedendo a ele seu leito e dedicando-lhe seus cuidados. E Paolo comenta depois sobre o significado deste gesto: “Fui hóspede por excelência. Hóspede absoluto. Era um estudante. Na manhã seguinte ele me levou à estação, onde adquiri um bilhete de segunda classe para retornar ao Cairo e poder seguir o tratamento. Foi naquele verão que cumpri o meu primeiro Ramadã, entrando na mesquita para rezar... Comecei a sentir o espírito da língua árabe” [31].
Foram gestos como este que inspiraram Dall'Oglio em sua experiência comunitária de Mar Musa. Em seu diário monástico, em passagem de março de 2007, fala do “vinho da hospitalidade” em Mar Musa. Relata que na comunidade monástica eles quase não bebiam vinho, sobretudo na presença dos amigos muçulmanos, mas sim o precioso vinho da amizade [32]. Os hóspedes muçulmanos acolhidos em Mar Musa mostraram sempre um grande respeito e entusiasmo pela experiência de vida em comum que ali acontecia. Uma admiração que era compartida pelos monges e monjas da comunidade, no carinho e dedicação com que se aproximavam das famílias no modo mais gratuito e espontâneo. O projeto comunitário vinha tecido por uma “hermenêutica do amor”, animado por uma responsabilidade espiritual partilhada. O que se visava era um horizonte diferente, “capaz de pluralismo na comunhão” [33].
Na base desta opção pelo outro, de acolhida e hospitalidade, estava presente uma clara visão teológica, de reconhecimento da dignidade da alteridade. O islã, como mostrou tantas vezes Louis Massignon, é um “bloco espiritual autêntico”, fundado numa profunda experiência de fé. Em sua tese doutoral, sobre a esperança no islã, Paolo fala da riqueza desta experiência de Deus em terras do islã. E de uma riqueza que habita não apenas o devoto muçulmano, animado em seu coração pela ação de Deus, mas também sua instituição religiosa, nascida dos corações [34]. Não consegue admitir, com razão, que tradições como esta sejam vistas apenas como “marcos de espera” para outra acomodação. E conclui: “Não se pode presumir que uma experiência e uma mensagem de tal qualidade e fecundidade sejam fruto de um jogo de fatores exclusivamente humanos, permanecendo Deus passivo e indiferente” [35]. Dall'Oglio reage igualmente àqueles que só conseguem perceber nos amigos muçulmanos “cristãos anônimos”. Na verdade, diz ele, “o muçulmano honesto se salva por meio de sua fé islâmica, pela mediação da profecia muhammediana e o livro do Corão, e não apesar disto”. Reconhece que a esperança islâmica seja efetivamente apta para “nutrir a esperança dos muçulmanos e a situá-los no caminho de manifestação final do Deus Misericordioso” [36].
O engajamento de Paolo Dall'Oglio na Síria foi criando profundas raízes em seu coração, a ponto dele reconhecer-se cada vez mais como um muçulmano, sem perder sua matriz cristã. Em seu último livro, Cólera e luz (2013), ele diz: “A comunidade muçulmana não é externa à minha consciência mais íntima, mas minha própria carne, o corpo humano a que pertenço, a minha comunidade, a minha identidade” [37]. Em verdade, nele convivem harmonicamente dois amores. O sentir-se muçulmano não é apenas um adorno que se acrescenta em sua vida, mas o resultado de um enamoramento que veio se firmando e se fortalecendo com o tempo, como o musgo na pedra. Assim também sua profunda fé em Jesus e seu compromisso cristão. Eles nunca se arrefeceram nessa dinâmica crescente de presença junto aos irmãos muçulmanos. Assinala a respeito:
“Sempre acreditei em Jesus no âmbito daquela igreja que me lançou no caminho, e um caminho distante. Daí estar o islã no meu espaço espiritual e cultural. E isto não entra em contradição com o meu batismo, mas expressa-o ainda melhor. Dito de forma mais simples, se acreditas poder ser exclusivamente cristão, então, de certo modo, és um mal cristão. Numa ou noutra maneira, toda fidelidade ao bem, à verdade, à beleza de uma pertença, traduz um convite a entrar num diálogo que visa alcançar uma espécie de síntese, de matrimônio” [38].
Os teólogos que vêm trabalhando este tema do pluralismo religioso são unânimes em reconhecer esse traço dialogal do cristianismo. A aceitação da diversidade, como indica Edward Schillebeeckx, está implicada na essência mesma do cristianismo [39]. Não há possibilidade de exercer a fundo o cristianismo sem esse traço de abertura. Foi o que percebeu e realizou Paolo Dall'Oglio. Como ele mesmo diz, sua vinculação a Jesus foi o que suscitou sua pertença ao islã [40]. A abertura ao mundo do islã se deu para ele não em virtude de uma dúvida ou dificuldade com respeito à fé em Cristo, mas em razão da tranquilidade da própria inscrição cristã [41]. E a fé cristã não sai enfraquecida nem perde a singularidade de sua dinâmica com o acréscimo desta nova pertença. Trata-se de um itinerário de partilha que está fundado e centrado na dinâmica mesma do seguimento de Jesus, na linha do que diz São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Para os judeus fiz-me como judeu (...). Para os fracos, fiz-me fraco (...). Tornei-me tudo para todos” (1 Cor 9,20-22).
Há todo um debate em curso na teologia cristã sobre esta questão da dupla pertença, ou seja, sobre a possibilidade ou não da partilha verdadeira de duas fés religiosas diferentes. Em defesa dessa possibilidade colocou-se Jacques Dupuis, em sua obra sobre a teologia cristã do pluralismo religioso. Reconhece que de um ponto de vista absoluto uma tal realidade torna-se bem difícil, em razão da adesão total que todo investimento religioso implica. Não é fácil dividir um semelhante envolvimento absoluto. Mas no trato existencial, concreto, os exemplos de uma dupla pertença são recorrentes, sem que isto signifique enfraquecimento identitário. Como sublinha Dupuis, afirmar uma tal impossibilidade é “contradizer a experiência, já que tais casos não são raros nem desconhecidos” [42].
O cotidiano da Comunidade de Mar Musa veio sendo abalado por todo o processo de tensão política que envolveu a Síria sobretudo nas duas últimas décadas. O início das atividades no mosteiro, em 1983, ocorrem no momento em que em âmbito muçulmano começa a se irradiar o movimento islamista (o islamismo radical). Com a morte de Hafez al-Asad em junho de 2000, assume o posto de presidente o seu filho, Bashar al-Assad [43]. Com o novo governo esperanças foram acesas, com a modificação da constituição do país e alguns sinais de abertura, como a libertação de numerosos presos políticos. Chegou-se a falar, ainda que de forma precipitada, em “primavera de Damasco”. Acreditava-se na afirmação de um processo democrático, e isto vinha partilhado por muitos cristãos presentes na região. E mesmo Paolo acreditava nesse “potencial democrático da versão síria da Primavera Árabe”. Mas o que ocorreu com tempo foi o agravar-se de um “círculo hermenêutico infernal”, dividindo e opondo o exército sírio regular e as forças antigovernamentais, e junto a elas os movimentos islamitas radicais [44]. A Síria foi sendo tomada pela desconfiança e o temor, com episódios sinistros de furtos, vandalismo, sabotagens, atentados, sequestros e assassinatos [45]. Os cristãos se dividiram entre as duas partes, mas muitos se inclinaram a favor do governo, como relata Dall'Oglio em entrevista publicada no Instituto Humanitas da Unisinos (IHU – 27/02/2012):
“Muitos são funcionários e empregados do Estado, e outros participam do conflito como membros do exército, da polícia e dos serviços de segurança. Muitos jovens se tornam voluntários das tropas envolvidas na repressão do 'terrorismo'. Também deve ser relevada uma presença dos cristãos nos movimentos de oposição, e eles naturalmente escolhem os partidos menos caracterizados no plano religioso” [46].
Com o agravamento do conflito, o mosteiro de Mar Musa começa a sofrer impedimentos. Em fevereiro de 2010, suprime-se o parque natural do mosteiro e todas as atividades programadas pela comunidade foram suspensas, incluindo os encontros de diálogo inter-religioso. Em 2011 vem rompida a autorização de permanência de Paolo Dall'Oglio na Síria, seguindo-se o decreto de expulsão do jesuíta em 2012.
Já no exterior, Paolo lançou-se a um trabalho incansável em favor de uma intervenção não violenta de pacificação, com inúmeras propostas em favor da resolução do conflito, como a criação de um corpo de 'acompanhadores' não violentos de várias partes do mundo, enquanto 'expoentes da sociedade civil planetária', visando o amadurecimento democrático da Síria. Ele dizia: “A comunidade mundial dos homens de boa vontade deveria fazer de tudo para detê-la (a guerra). A umma humana deveria tomar para si as angústias e as feridas da umma muçulmana, com mais misericórdia, mais solidariedade, pois todos estamos juntos embarcados neste frágil planeta” [47].
Tais iniciativas não vingaram, para a sua grande tristeza e revolta, também em razão da polarização e militarização do conflito na região. Depois de seu exílio evitou manter o contato com os membros da comunidade de Mar Musa, e isto para preservá-los de possíveis danos, e também para deixá-los livres para decidir de forma autônoma os caminhos a seguir naquele momento de crise [48]. Com um bonito poder de resiliência, parte da comunidade revive, depois de janeiro de 2012, em outro espaço, no exílio do Iraque. Por iniciativa de padre Jens, membro do grupo inicial, um novo mosteiro vem fundado na cidade de Sulaymaniyah, ao norte do Curdistão, habitada por cerca de um milhão de pessoas, de maioria curda [49].
Nos últimos meses de 2012 Paolo vem tocado por forte apelo de retornar à Síria, visando dar continuidade à sua solidariedade radical ao povo sírio e lançar uma semente de esperança. Era sua intenção passar alguns dias em oração no convento de Santo Elias, danificado pelos intensos bombardeios; bem como visitar os lugares dos massacres, onde vidas de civis - sobretudo crianças, jovens, mulheres e idosos - foram ceifadas nos cruentos combates [50]. Ele entra na Síria, mas vem sequestrado em julho de 2013 na cidade de Raqqa, e ainda hoje, pelo que se sabe, vem mantido preso sob custódia de uma organização ligada a Al-Qaida.
As desilusões com os descaminhos de um bonito projeto-esperança para o futuro da Síria provocaram lamento e cólera no coração de Paolo Dall'Oglio. Como se sua vida espiritual e mística fosse ferida no seu íntimo pelo infernal círculo de violência que tomou conta do país que escolheu para viver. Em sua última obra assinala que o circuito do terrorismo, seja de que proveniência vier, fere sua vida de cristão enamorado do islã. Mas apesar de tudo, segue acreditando na possibilidade do diálogo [51]. Há no cerne de todo esse sincero engajamento por um povo, um foco espiritual admirável, em linha de profunda sintonia com os abdal muçulmanos, aqueles amigos de Deus escolhidos para “sanar as feridas do mundo mediante o dom de si, com o recurso da paciência, da humildade, do silêncio e da pequenez assumida como amor” [52]. Em seu arriscado retorno à Síria, mesmo tendo sido expulso dali, sabia bem dos riscos que estava a correr. Mas com a coragem dos arautos da Palavra sublinha: “É evidente que desejaria morrer para poder sustentar esta posição de solidariedade e de intercessão até o fundo (...). Mas não quero viver uma vida que seja algo diverso de um dom radical, à morte, à vida” [53]. Com o vigor de um escolhido de Deus assinala sua esperança em Jerusalém como uma “terra bendita” de uma fraternidade nova, dos herdeiros de Abraão, para a bem-aventurança do mundo.
[1] P.DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù. Milano: Jaca Book, 2011, p. 64 (No original francês : Amoureux de l'islam, croyant en Jésus. Ivry-sur-Seyne: L'Atelier, 2009).
[2] Ibidem, p. 62.
[3] P.DALL'OGLIO. Collera e luce. Un prete nella rivoluzione siriana. Bologna: EMI, 2013, p. 17-18 (No original francês: La rage et la lumière. Un prête dans la révolution syrienne. Ivry-sur-Seine: L'Atelier, 2013).
[4] L.MASSIGNON. L'hospitalité sacrée. Paris: Nouvelle cité, 1987, p. 200.
[5] Os traços biográficos aqui apresentados são tirados, sobretudo, do próprio testemunho de Dall'Oglio nas obras: Collera e luce, p. 25s e MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto. Milano: Paoline, 2008.
[6] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 28.
[7] A fagulha vocacional veio acionada em maio de 1974, e ele a descreve como “um relâmpago que rasgava a noite”: o sentimento da presença de alguém que solicita sua integral adesão: G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto. Milano: Paoline, 2008, p. 43-45.
[8] G.MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 59-60; Id. Collera e luce, p. 29.
[9] E Dall'Oglio seguira também este conselho, aprofundando-se no hebraico em Jerusalém, no verão de 1980.
[10] Ao final de sua estadia em Jerusalém, agradece em carta ao Ministério da Cultura e lança uma promessa: de oferecer “toda a sua vida para levar a paz entre os filhos de Abraão”.
[11] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 72.
[12] Ibidem, p. 72. Ele dizia: “O islã me acolhia em seu seio generoso. Sentia o fascínio daquelas almas distantes da igreja. Desejava partilhar com eles o mistério cristão, amá-los 'sem espírito militante' e viver o Evangelho em seu meio”: ibidem, p. 72-73.
[13] Isso ocorreu em agosto de 1982.
[14] P.DALL'OGLIO. Speranza nell'islâm. Interpretazione della prospettiva escatológica di Corano XVIII. Genova: Marietti, 1991, p. IX.
[15] Paolo Dall'Oglio deve também ao padre Kolvenbach, que era na ocasião superior geral da Companhia de Jesus, o estímulo para concluir seu trabalho doutoral, permanecendo em Roma até o seu final. Cf. G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 102-103.
[16] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 100-101.
[17] Trata-se de um tema muito apreciado pro Louis Massignon, que o nomeia como o “apocalipse do islã”. Veja a respeito: L.MASSIGNON. Écrits mémorables I. Paris: Robert Lafont, 2009, p. 321-335 (Les 'sept dormants': apocalypse de l'islam).
[18] Experiência vivida pelos sete dormentes. Eles estavam, na verdade, em “estado de perfeito abandono a Deus” em seu misterioso sono. Cf. L.MASSIGNON. Écrits mémorables I, p. 323.
[19] P.DALL'OGLIO. Speranza nell'islâm, p. 13.
[20] Segundo Dal'Oglio, é possível que já na antiguidade o local tenha sido considerado sagrado pelos pastores semi-nômades da região. E o nome, derivado de um monge egípcio do quarto século, ou de um filho do rei devotado à castidade. São diversas as lendas em torno desta questão: P.DALL'OGLIO. Speranza nell'islâm, p. 272.
[21] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 83-84.
[22] P.DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 5.
[23] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 9, n. 2. Ver ainda p. 48-49. Diz a respeito Paolo: “Depois de mais de quinze anos de práticas, de reticências diocesanas e vaticanas, de mal-entendidos, de obstinações, e às vezes de desencorajamento, o Vaticano finalmente aprovou em 2006 a Regra da comunidade”: P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 5.
[24] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 140.
[25] Ibidem, p. 19. E também: 6-7.
[26] Paolo Dall'Oglio prefere utilizar a expressão “diálogo religioso”, em vez de “diálogo interreligioso”. A seu ver, o “fervilhar das crenças expressa o amor polissêmico, polimorfo e plural de Deus”: G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 196.
[27] P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 90-91.
[28] C.V.N.T SEVENAER. Cristiani e musulmani: fratelli davanti a Dio? Venezia: Marcianum Press, 2006, p. 145-150.
[29] Apud J.DUPUIS. O cristianismo e as religiões. Do desencontro ao encontro. São Paulo: Loyola, 2004, p. 296 (original é de 2001). Em mesma linha de sintonia, a posição de Karl-Josef KUSCHEL, na obra: Discordia en la casa de Abrahan. Navarra: Verbo Divino, 1996, p. 330-339 (Orar em comum pela paz e a reconciliação).
[30] P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 92.
[31] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 67-68.
[32] P. DALL'OGLIO. La sete di Ismaele. Siria, diario monastico islamo-cristiano. Verona: Il Segno dei Gabrielli, 2011, p. 20-21.
[33] P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 65.
[34] Uma posição também defendida com afinco por Karl Rahner, ou seja, a de que a positividade da graça atinge não apenas o fiel, mas também as objetivações da religião: Cristianesimo e religioni non cristiane. In: Id. Saggi di antropologia soprannaturali. Roma: Paoline, 1965, p. 562.
[35] P.DALL'OGLIO. Speranza nell'islâm, p. 13.
[36] Ibidem, p. 341. E também 342.
[37] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 151-152. Em outro trabalho diz: “Quando digo que pertenço ao islã, quero dizer que do ponto de vista cultural, linguístico e simbólico, sinto-me profundamente em casa no mundo muçulmano”: P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 23.
[38] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 18.
[39] E.SCHILLEBEECKX. História humana, revelação de Deus. São Paulo: Paulus, 1994, p. 213.
[40] P. DALL'OGLIO. Innamorato dell'islam, credente in Gesù, p. 40. A razão de ser do cristianismo, como sublinha Paolo, não é a de fechar-se no campo das proibições, mas de inserir-se num movimento “impulsionado pela caridade de Cristo e sair em direção a todos”: Ibidem, p. 25.
[41] M.LUCCHESI. Os olhos do deserto. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2000, p. 57.
[42] J.DUPUIS. Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 518; Id. O cristianismo e as religiões. São Paulo: Loyola, 2004, p. 288. Ver ainda: C.GEFFRÉ. Profession théologien. Quelle pensée chrétienne pour le XXI siècle? Paris: Albin Michel, 1999, p. 242; P.KNITTER. Introdução às teologias da religião. São Paulo: Paulinas, p. 357-358 (onde trabalha o exemplo de Thomas Merton). P.KNITTER. Senza Buddha non potrei essere Cristiano. Roma: Fazi, 2011, p. 283-288 (relatando sua própria experiência de dupla pertença, de cristão e budista). Na visão de Knitter, o ser religioso hoje implica cada vez mais ser interreligioso. E acrescenta: quanto “mais profundamente se entra no núcleo que caracteriza a própria tradição, mais amplamente se tem a possibilidade e, talvez a inclinação, de entrar na experiência das outras tradições”: ibidem, p. 287.
[43] A partir de julho de 2000.
[44] Dall'Oglio comenta sobre as ligações entre tais movimentos islamistas radicais e clandestinos com a máfia internacional, o que torna a situação ainda mais complexa: P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 21.
[45] No momento da publicação italiana do livro de Dall'Oglio, Cólera e luz (2013), os dados eram impressionantes: mais de cem mil vítimas, cerca de três milhões de refugiados e um grande número de prisioneiros nos cárceres do regime ou em mãos do exército: P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 69, n. 1.
[46] Disponível aqui (acesso em 20/02/2014). Muitos cristãos dedicaram-se à luta pacífica em favor da democracia na Síria, mas um bom número acabou se retirando da região com a generalização do conflito.
[47] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 152.
[48] Ibidem, p. 154.
[49] Ibidem, p. 11.
[50] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 135-136 e 152-153.
[51] Ibidem, p. 112.
[52] G. MONTJOU. Mar Musa. Un monastero, un uomo, un deserto, p. 86. Dizia: “O Oriente ajudou-me a compreender o sentido da experiência (...). Deus quer achegar-se a cada um através de um outro. Devemos ser uns para os outros uma via de acesso ao mistério”: ibidem, p. 27.
[53] P.DALL'OGLIO. Collera e luce, p. 155.