31 Mai 2025
"Há muitas manifestações contra a guerra, mas elas são obscurecidas por narrativas que geram polarização. Desmentem o mito do sionismo como ideologia etnonacionalista", escreve Davide Assael, judeu italiano, fundador e presidente da associação lech lechà, professor de filosofia e escritor, em artigo publicado por Domani, 29-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os protestos contra a guerra da sociedade civil israelense continuam ininterruptos. Após as marchas à fronteira Sul do país ao grito de “Dai HaMilchamà!” (Chega de guerra!), é deste fim de semana a carta assinada por mais de mil docentes universitários que, em tons bastante graves, pede o fim do massacre em Gaza, prolongado pela vontade desses líderes políticos, de ambos os lados, que o mantêm vivo como sua única razão de ser. Entrementes, as manifestações diárias se intensificam e se tornam mais numerosas. Elas acompanham as enormes manifestações de sexta-feira à noite, cujo epicentro foi Rechov Kaplan, em Tel Aviv, mas que se espalham por todo o país.
Mas não basta: recentemente, em Jerusalém, se realizou uma convenção organizada por sessenta associações israelenses, árabes e judaicas, com a participação de milhares de pessoas, algo nada marginal.
O objetivo: exigir o fim da guerra, a libertação dos reféns ou de seus corpos, o início de um percurso de reconhecimento mútuo. Não foram poucos os políticos envolvidos. Na liderança estão Ehud Olmert e Nasser al Qudwa, que repropuseram seu plano de paz, desenvolvido com base no plano que o próprio Olmert, como presidente do Conselho em exercício, havia proposto em 2008. Um plano indispensável, que previa até mesmo uma forma de Jerusalém federal. Abu Mazen não pôde aprová-lo devido às divisões internas da frente palestina. Gaza já havia caído nas mãos dos assassinos do Hamas, que tinham imediatamente abolido as eleições, assassinado e expulso a ANP da Faixa de Gaza e ameaçavam sua autoridade na Cisjordânia. E ainda: o trabalho diário do Círculo de Pais, que também esteve na Itália nos últimos meses, de Omdim beyachad, em inglês “standing together”.
Em resumo, o Israel democrático se levantou definitivamente contra o tirano criminoso Benjamin Netanyahu e seus acólitos supremacistas do sionismo religioso (e entristece pensar no que era esse movimento há um século), que deliram com anexações aqui e ali, indiferentes a qualquer dado demográfico que documenta como os israelenses não têm nenhuma intenção de se associar a seus delírios pseudomessiânicos. Porque o messianismo é um assunto sério demais para ser deixado nas mãos desses kahanistas, fascistas, cujo lugar natural são as pátrias prisões. Lugares, afinal de contas, bastante frequentados por muitos deles antes de Netanyahu fazer sua obra de rastreamento para garantir uma maioria para si depois de perder todos os aliados possíveis.
Um despertar que, para mim, parece a contradição mais explícita da definição do sionismo como uma ideologia etnonacionalista, que acolhe acriticamente as especulações originadas por círculos ideológicos radicais.
Mas vamos ver essa ideologia etnonacionalista que Netanyahu é acusado em seu país de estar traindo: princípio da igualdade entre todos os cidadãos sancionado pela Carta de Independência de 1948 e reafirmado por duas leis fundamentais do Estado, 21% da população árabe, sendo 18% muçulmanos e o restante cristãos. Depois, drusos, baha'i, circassianos e beduínos. Todos com direitos iguais. O árabe, embora com um leve rebaixamento devido à odiosa Lei da Nação de 2018, é um idioma oficial do Estado, assim como o hebraico. O Estado financia quatro sistemas educacionais, um dos quais é árabe. Partidos árabes no parlamento, ministros árabes, juízes árabes da Suprema Corte, batalhões inteiros do exército de beduínos e drusos.
Parâmetros nem sequer imagináveis na ultrademocrática Europa, onde as pessoas esbravejam sobre a substituição étnica em países onde os muçulmanos representam 2%. A lei do retorno? Nada mais é do que a versão israelense das nossas leis que privilegiam a imigração se alguém teve um distante parente italiano. Em suma, a imprópria definição só funciona quando se nega aos judeus o atributo de povo. A velha história que associa os judeus aos ciganos (ainda se ouve falar de etnia cigana mesmo em círculos cultos), ou aos curdos. Ou até mesmo aos palestinos, que alguns gostariam que fossem incluídos na genérica definição de árabes.
Mas é o discurso de sempre: aproveitar a guerra para exumar o antissionismo militante. Que é o que Netanyahu quer, alimentar a polarização: ou você está comigo ou está com os inimigos antissionistas/antissemitas da pátria. Enquanto isso, continuam os protestos contra o Hamas em Gaza.