16 Mai 2025
Temos dois mundos nos noticiários, distantes como o dia e a noite. O mundo de Pepe Mujica, o ex‑presidente do Uruguai que governou por cinco anos em nome da justiça, da honestidade e da partilha do bem comum, inclusive de seu salário, 90% do qual era doado aos pobres. E o mundo de Donald Trump, o bilionário sempre ávido por mais bilhões, que governa os Estados Unidos e o mundo brandindo armas, impostos e ameaças. Que promete felicidade por meio do consumo e identidade por meio do poder. Que odeia o Estado de bem‑estar social, pensa que Deus recompensa os devotos com a riqueza e pune os infiéis com a pena da pobreza.
O artigo é de Pino Corrias, jornalista, escritor, roteirista e produtor de televisão italiano, publicado por il Fatto Quotidiano, 15-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na terça‑feira Pepe morreu aos 89 anos em sua casa de fazenda de três cômodos nos arredores de Montevidéu. "Estou indo, meu corpo está exausto, o guerreiro precisa de descanso", despediu‑se de Lúcia, sua esposa há 49 anos, e de alguns companheiros que esperavam no pátio, onde floresce o hibisco, ao lado do velho Fusca que Pepe dirigia também quando era presidente. A dez mil quilômetros de distância, nas mesmas horas, Trump dançava cintilante pelos salões dourados, fontes e arco‑íris artificiais de Bin Salman, o sultão de Riad, entre outros homens bilionários: banqueiros, financistas, industriais, assinando acordos estratégicos no valor de 600 bilhões de dólares, talvez mil, talvez 3 mil, para armas, petróleo, satélites, Inteligência Artificial. Cada um para engordar sua própria Era de Ouro. E ali, à sombra do palácio real, estacionavam cem carros blindados com motoristas, escoltas, televisores planetários.
Pepe Mujica foi agricultor, guerrilheiro nas fileiras marxistas dos Tupamaros, detido por 15 anos em confinamento solitário, libertado sem rancor, com palavras de pacificação para o Uruguai, que o elegeu presidente de 2010 a 2015. O primeiro discurso que proferiu em sua posse foi sobre o direito à felicidade: "Devo lutar para melhorar a vida das pessoas. Não o fazer é imoral". E contra seu inimigo absoluto, o consumismo: "Viemos ao mundo para tentar ser felizes, porque a vida é curta e não volta. Mas se gastarmos nosso tempo trabalhando e trabalhando para consumir coisas que não duram muito, a vida se vai. Cuidado, não compramos as coisas com o dinheiro, mas com o tempo de vida, a única coisa que não podemos comprar".
Trump nasceu bilionário e mediu toda a sua aventura em dinheiro, consumos, conquistas. Com os mesmos ingredientes, ele fabricou o triunfo de sua política, que prossegue com os empurrões, as ameaças, o desafio, ao longo da diagonal que divide o mundo em amigos e inimigos. Em espertos e idiotas. Em países que não querem se submeter à sua vontade e aos beneméritos que "vêm beijar minha bunda".
Pepe falava e atuava contra um mundo que cresce na injustiça, na desigualdade, nos conflitos, aprisionado pela religião do dinheiro que distorce tudo, multiplicando o número de excluídos: "Vivemos em um mundo em que se acredita que quem triunfa deve ter muito dinheiro, ter privilégios, uma casa grande, muitos empregados. Enquanto eu penso que esse modelo vencedor é apenas uma maneira idiota de complicar a vida, acho que aqueles que passam o tempo acumulando riquezas são tão doentes quanto um viciado em drogas, deveriam ser tratados".
Trump pensa exatamente o oposto: a riqueza é o propósito da vida. Temos que agarrar tudo o que queremos, como o presente recém recebido do Catar, um Boeing 747 de 400 milhões de dólares, com onze banheiros onde você pode sentar confortavelmente para urinar em cima do mundo. Especialmente sobre aquele imaginado por Pepe Mujica, seu mundo invertido, ao qual ele havia dedicado a proposta de lei das "cinco liberdades" - da fome, da sede, da dor, do medo, da restrição - cultivada até o último dia, como as flores rosas que desde ontem continuam crescendo em seu jardim.