16 Mai 2025
"Um convite forte e necessário, portanto, que se gostaria fosse acolhido em primeiro lugar por quem o pronuncia e por sua Igreja, que muitas vezes deu e dá exemplos de uma linguagem violenta ao designar comportamentos que não aprova (por exemplo, o aborto ou o suicídio assistido, indicados pura e simplesmente como assassinato). E, no entanto, como Mancuso já observou neste jornal, em sua primeira homilia o Papa Leão XIV optou por identificar o ateísmo e os ateus não apenas como seu principal antagonista, mas também por desqualificá-los como desprovidos de moral, incapazes de solidariedade e causadores de crises da família", escreve a socióloga italiana Chiara Saraceno, membro honorária do Collegio Carlo Alberto de Turim, e professora emérita do Wissenschaftszentrum für Sozialforschung de Berlim e da Universidade de Turim, em artigo publicado por La Stampa, 14-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em seu encontro com os jornalistas que fizeram a cobertura do Conclave, o Papa Leão XIV convidou a "desarmar as palavras" como atitude necessária não apenas para uma comunicação respeitosa com o outro/a, mas também que favoreça o conhecimento e a atenção à complexidade dos fenômenos. Não se trata apenas de evitar formas de desqualificação, que reforçam estereótipos e preconceitos. "Desarmar as palavras" certamente não basta para desarmar as guerras, nem para resolver os conflitos, públicos e privados, incluindo aqueles que derivam da diversidade de pontos de vista ou de interesses em jogo. Mas oferece um campo de confronto tanto para uma releitura da realidade quanto para uma possível mediação.
Um convite forte e necessário, portanto, que se gostaria fosse acolhido em primeiro lugar por quem o pronuncia e por sua Igreja, que muitas vezes deu e dá exemplos de uma linguagem violenta ao designar comportamentos que não aprova (por exemplo, o aborto ou o suicídio assistido, indicados pura e simplesmente como assassinato). E, no entanto, como Mancuso já observou neste jornal, em sua primeira homilia o Papa Leão XIV optou por identificar o ateísmo e os ateus não apenas como seu principal antagonista, mas também por desqualificá-los como desprovidos de moral, incapazes de solidariedade e causadores de crises da família. Um verdadeiro anátema baseado em preconceitos e clichês, que negam a evidência empírica, a consciência ética e a paixão pela justiça. Assim como a fé em Deus e a prática religiosa não bastam para motivar comportamentos públicos e privados de honestidade, solidariedade e justiça, não é necessário ter fé em Deus para se importar com o bem.
Retornar a uma linguagem que divide crentes e não crentes em bons e maus não ajuda nem na compreensão da realidade, nem ao diálogo e ao respeito mútuo. São tudo menos "palavras desarmadas".
Até mesmo o termo "crise da família" mereceria um uso mais cuidadoso, sem evocar univocamente desastres e perigos, muito menos atribuí-la a um decaimento moral. É claro que a família tradicional, baseada em uma clara divisão de trabalho e poder entre homens e mulheres e entre pais e filhos/filhas no Ocidente desenvolvido, está em crise. Mas, considerando as dificuldades causadas pela insegurança econômica e pela crescente pluralização das fontes de informação e dos contextos de socialização, a família tradicional está em crise porque houve uma expansão da liberdade e um maior respeito pela individualidade de cada pessoa. Dar à crise da família uma imagem exclusivamente negativa significa ignorar, ou condenar, o laborioso processo de emancipação feminina, de redefinição dos papéis de gênero e das responsabilidades entre gerações, a busca de novas bases para fundamentar relações de amor, solidariedade e cuidado mútuo sem ter que recorrer a relações de poder assimétricas.
Espero realmente que, nessa linha, este papa não volte a definir, como muitos papas (incluindo Francisco), bispos e padres fizeram antes dele, o aborto como assassinato, as mulheres que abortam e os médicos que as atendem como assassinos, os homossexuais e transexuais como doentes, irregulares, quando não pervertidos contra a natureza. Não se pede ao Papa e à Igreja Católica que não condenem comportamentos que consideram pecaminosos; mesmo que a própria Igreja tenha mudado de opinião ao longo do tempo sobre o que é ou não pecado; e sobre várias questões existem divergências de opinião não apenas dentro do cristianismo, mas também dentro do próprio catolicismo, como também despontou das questões não resolvidas no Sínodo. Mas essas são questões que dizem respeito aos católicos e devem ser abordadas dentro da Igreja. Como pessoas, como homens e mulheres, independentemente da sua pertença religiosa ou de serem crentes ou não, esperamos respeito, também na linguagem, num contexto de convivência e confronto pacíficos, não com armas, mesmo que "apenas" verbais.