Só 14% dos católicos americanos têm opinião favorável dos muçulmanos

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21 Setembro 2016

A maioria dos católicos não conhecem pessoalmente um muçulmano; e os católicos americanos são, em geral, menos propensos a conhecer um membro da religião islâmica. Três em cada 10 católicos dos EUA conhecem pelo menos uma pessoa muçulmana, enquanto que na população em geral 4 em 10 conhecem uma pessoa da religião islâmica. Este é um dos inúmeros fatos perturbadores levantados no relatório “Danger and Dialogue: American Catholic Public Opinion and Portrayals of Islam” (Perigo e diálogo: opinião pública americana e representações do Islã, em tradução livre) emitido em 12 de setembro como parte da Iniciativa Bridge do Centro para o Entendimento Muçulmano-Cristão da Universidade de Georgetown.

O comentário é de Drew Christiansen, professor de ética e desenvolvimento humano na Universidade de Georgetown, e Ra’fat Al-Dajani, empresário e comentador político palestino-americano, publicado por National Catholic Reporter, 19-09-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Outras conclusões preocupantes incluem a crença, presente em 83% dos católicos, de que o diálogo é feito para converter muçulmanos ao cristianismo e a revelação de índices elevados de islamofobia nos meios de comunicação católicos e entre autores best-seller católicos.

O relatório confirma que os encontros face a face são fundamentais para a construção de atitudes positivas entre estranhos. Um terço dos católicos que conhecem muçulmanos se encontram com eles no local de trabalho. Quase um terço os tem como amigos, e 7% dizem que há membros islâmicos na família. Mas, no geral, apenas 14% dos católicos têm uma atitude favorável em relação aos muçulmanos.

Pessoas versadas no diálogo inter-religioso comentam que o segredo nesse âmbito é a amizade espiritual. Embora a amizade espiritual venha sendo especialmente prevalente no diálogo intermonástico, ele é também encontrado nos encontros de católicos e muçulmanos.

Na Igreja de Saint Paul, em Cambridge, a poucas quadras da Universidade de Harvard, um grupo de oração e apoio católico-muçulmano chamado de Badaliya se reúne para orar, estudar e conversar um com o outro. A ação faz parte das atividades do movimento Badaliya reavivado após o 11 de Setembro. Este movimento foi fundado por Louis Massignon e sua discípula Mary Kahil na década de 1930.

Um outro movimento católico que vem tendo relações duradouras com muçulmanos americanos é o Focolares. Os laços com a Associação Americana de Muçulmanos (American Society of Muslims, anteriormente a Nação do Islã) e com o seu líder Warith Deen Mohammed passaram a existir com o carisma pela unidade do Movimento dos Focolares.

Em 2000, a Beata Chiara Lubich, fundadora do dos Focolares, discursou a um encontro em Washington com cerca de 5 mil católicos e muçulmanos como parte do Grande Jubileu. Disse à multidão: “Li na Bíblia que Jesus, a paz esteja com ele, convidava os seus seguidores a lavar os pés uns dos outros, e acho que é isso o que estamos fazendo. Estamos lavando os pés uns dos outros”.

“Diálogo” e “diálogo inter-religioso” são termos bastante presentes entre os que os católicos reconhecem em conexão com os muçulmanos, diz o relatório. Não é deve surpreender, portanto, que 47% dos católicos consideram a finalidade do diálogo inter-religioso como sendo a de “aprender a respeito e crescer para mais perto de Deus”.

Infelizmente, o movimento Badaliya e o Focolares são exceções à regra da falta de familiaridade com os muçulmanos entre os católicos. O nível e a frequência de diálogo com o Islã estão bem abaixo de onde deveriam estar – dada a importância para o bem comum mundial daquilo que o Papa Francisco chama de a “paz social” entre cristãos e muçulmanos. (Evangelii Gaudium, n. 250)

No contexto da perseguição violenta aos cristãos, muçulmanos e outros grupos no Oriente Médio em 2014, o Comitê para Assuntos Ecumênicos e Inter-religiosos da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA declarou: “Através da construção de redes de diálogo podemos superar a ignorância, extremismo e a discriminação e, assim, ter amizade e confiança com os muçulmanos”.

Uma das razões para o baixo nível de diálogo é que, na última década, muitas dioceses reduziram ou eliminaram os departamentos para assuntos ecumênicos e inter-religiosos. Se se quiser melhorar as atitudes católicas nesse aspecto, estes espaços precisam ser restabelecidos e reforçados. Além disso, muitos mais padres, diáconos e leigos precisam estar preparados para participar de organismos inter-religiosos. Os seminários precisam especialmente incluir o diálogo inter-religioso como parte de seus currículos.

Os bispos testemunham que duas décadas de diálogo com grupos muçulmanos “forjaram laços verdadeiros de amizade que são sustentados por uma estima recíproca e uma confiança cada vez maior que nos permite falar abertamente um com o outro numa atmosfera de respeito. Através do diálogo, estamos tendo condições de trabalhar em conjunto e superar grande parte da nossa ignorância mútua, desconfiança habitual e medo debilitante”.

Deve-se reconhecer, no entanto, que a abertura cristã ao islamismo jamais atingirá o seu pleno potencial na enquanto os principais países muçulmanos negarem a liberdade religiosa aos cristãos em seus territórios ou deixarem de protegê-los da perseguição. “Rogo, imploro humildemente a esses países [de tradição islâmica] que assegurem liberdade aos cristãos para poderem celebrar o seu culto e viver a sua fé, tendo em conta a liberdade que os crentes do Islão gozam nos países ocidentais”.

Ao mesmo tempo, os católicos devem reconhecer que os muçulmanos também sofrem perseguição nas mãos de outros muçulmanos. Para os muçulmanos e cristãos, conforme escrevem os bispos americanos, “os atos aleatórios e às vezes sistemáticos de violência e assédio (...) ameaçam e perturbam a harmonia que nos une em apoio mútuo, reconhecimento e amizade”.

Um diálogo aberto é também muitas vezes dificultado pelo financiamento de governos estrangeiros a instituições muçulmanas e pelas relações entre os líderes religiosos muçulmanos e os líderes políticos dos países bem como suas políticas. As pautas da política estrangeira influem no que os interlocutores muçulmanos estão dispostos a dizer e impedem a livre troca entre fiéis das duas religiões.

Um outro obstáculo para o intercâmbio honesto de ideias é o medo muçulmano de que a discussão teológica seja usada pelos católicos para fins de proselitismo. A conclusão do relatório de que 83% dos católicos enxergam o diálogo como um prelúdio à conversão mostra que esse medo é legítimo. Em vez disso, o diálogo deve ser uma ocasião para a compreensão mútua e um apreço originado no testemunho recíproco. Por vezes, pode ocasionar a conversão, mas este não é o seu propósito.

A Iniciativa Bridge é um programa do Centro al-Alaweed para o Entendimento Muçulmano-Cristão da Universidade de Georgetown. Os dados foram coletados em pesquisas de opinião conduzidas pelo CARA (Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado), também localizado dentro desta universidade. A análise e a apresentação dos resultados foram feitas pela equipe dos respectivos centros e, especialmente, do analista Jordan Denari Duffner.

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