05 Julho 2025
Sessenta dias após sua eleição, Leão XIV se prepara para deixar Roma para passar alguns dias de descanso em Castel Gandolfo. Sem mudanças evidentes, o início de seu pontificado é caracterizado por um estilo sóbrio e de continuidade com seus antecessores. Mas, no que diz respeito ao governo e às nomeações na Cúria, é preciso esperar.
O artigo é de Mikael Corre, jornalista, publicado por La Croix, 02-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Alguns sacos de gesso e material de construção estão empilhados no chão, nos fundos do Palácio Apostólico. Escondidos pelos altos muros do Vaticano, estão sendo transportados de fora do edifício para o terceiro andar, para a dezena de cômodos do apartamento pontifício.
“Após doze anos de abandono, realmente precisava de uma reforma antes...”, explica um frequentador da casa, que depois se interrompe. Segredo de Polichinelo, a escolha de Leão XIV de reocupar esse apartamento ainda não foi anunciada. Portanto, é muito cedo para comentar sobre isso. Mas, enquanto ele se prepara para se retirar em 6 de julho para outro lugar abandonado por Francisco, Castel Gandolfo, é hora de fazer um primeiro balanço.
É difícil de formular. Dois meses após sua eleição como 267º bispo de Roma, o novo papa teve oportunidade, em diversas ocasiões, de esboçar os primeiros contornos de seu pontificado. Mas será que ele realmente fez isso? Sua primeira entrevista à televisão pública italiana, em 19 de junho, não nos comunicou nada, exceto que ele se mantém informado: “Tento acompanhar o que está acontecendo em muitos lugares do mundo”, disse ele.
Sem uma tendência clara ou anúncios programáticos concretos, seus 36 discursos, 14 homilias, 7 audiências gerais e 12 cartas e mensagens, até agora, revelam uma insistência em alguns eixos-chave – unidade, sinodalidade, vigilância contra os abusos, fidelidade ao Evangelho e reforma da Cúria –, uma linha pastoral socialmente empenhada, porém prudente, e, acima de tudo, um tom sóbrio e formal. Mas, para muitos observadores, o papa continua difícil de ser plenamente compreendido.
Como Paulo VI ou Bento XVI, Leão XIV raramente se desvia de textos preparados. "Quando encontrávamos Francisco no átrio em frente à igreja de Santa Marta – onde morava e celebrava a missa matinal – a atmosfera era muito informal", conta um visitante regular. "O papa podia dar um tapinha no ombro, rir à vontade. Normalmente, um papa não fazia isso. O que me impressionou em Leão XIV foi sua impassibilidade." Em Roma, alguns veem isso como o fim de uma dessacralização da função: "Alguém me disse que, com Francisco, que improvisava muito, todas as intervenções eram colocadas no mesmo plano", observa um observador, membro de uma grande ordem religiosa. Será que isso marca o fim das coletivas de imprensa bastante livres que o papa argentino realizava no avião ao final de suas viagens?
Muitos no Vaticano esperam que sim. A resposta deveria vir durante a primeira grande viagem de Leão XIV, ainda não anunciada, mas prevista para o outono europeu para a Turquia, por ocasião do 1.700º aniversário do Concílio de Niceia.
A menos que haja uma surpresa... "Não creio que teremos muitas surpresas", antecipa um consultor da Cúria Romana, que descreve o novo papa como um "homem de palavras comedidas" e expressa esse receio: "Recentemente, ouvi-o falar aos parlamentares sobre 'lei natural', como fazia Leão XIII (durante uma audiência em 21 de junho, no âmbito do Jubileu dos Poderes Públicos). Mas será que essa categoria do século XIX ainda é atual hoje? As pessoas a compreendem? O desafio é que a Igreja continue a transmitir ao mundo. Francisco sabia fazê-lo. Será que Leão XIV também conseguirá?”
Em média, desde a Revolução Francesa, os papas permanecem no poder por quatorze anos e quatro meses. Isso talvez explique por que eles não sentem, como um chefe de Estado eleito por cinco anos, a urgência de deixar sua marca desde as primeiras semanas de seu pontificado. Há sessenta dias, Leão XIV parece mais preocupado em seguir os passos de seus antecessores, citando regularmente João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco.
Desde suas primeiras intervenções públicas, o papa peruano-estadunidense parece demonstrar seu apego à "sinodalidade" (a tentativa de reformar a Igreja em direção a uma maior participação dos leigos), que se tornou um critério para a seleção dos bispos quando ele estava à frente desse dicastério. Até o momento, porém, não foram fornecidos esclarecimentos concretos sobre a continuação do processo sinodal iniciado por Francisco até 2028, sua reforma testamentária. Previstas para junho, as conclusões dos grupos de trabalho que surgiram do Sínodo sobre sinodalidade e dedicados, para alguns deles, a questões consideradas sensíveis (o papel do bispo, o diaconato feminino, etc.) foram finalmente adiadas para 31 de dezembro.
Em 21 de junho, Leão XIV também optou por divulgar uma primeira mensagem sobre os abusos, mas novamente sem fornecer um cronograma. "É urgente enraizar em toda a Igreja uma cultura de prevenção que não tolere nenhuma forma de abuso – nem de poder ou de autoridade, nem de consciência ou espiritual, nem sexual", escreveu em carta dirigida à equipe do Projeto Ugaz, uma obra teatral peruana dedicada às vítimas do Sodalício, uma comunidade dissolvida por Francisco no início de 2025.
Quanto às finanças, novamente nenhuma decisão importante foi anunciada. Antes do conclave, a apresentação da situação econômica da Santa Sé preocupava os cardeais. Segundo estimativas transmitidas ao La Croix, o déficit do Vaticano seria de 70 milhões por ano. O fundo de pensão (aposentadoria dos funcionários) também estaria no vermelho. O novo papa decidiu conceder um "prêmio do conclave", abolido por seu antecessor em 2013, equivalente a 500 euros líquidos para cada funcionário.
"Leão XIV acalma os ânimos da Cúria, onde as pessoas estavam muito irritadas com Francisco, mas a nova governança implementada pelo papa argentino em questões econômicas foi positiva; agora resta saber se Leão XIV pretende continuar as reformas", observa uma fonte confiável, que estima que "50% do trabalho de limpeza já foi feito". A manutenção ou não dos órgãos de controle criados durante o pontificado anterior será objeto de muitos comentários. Mas o mais fundamental, e o que todos aguardam no Vaticano, são as nomeações.
No dia seguinte à sua eleição, Leão XIV anunciou que os chefes da Cúria haviam sido prorrogados em suas funções até novo aviso. Até então, as nomeações de bispos ou dentro dos dicastérios já haviam sido amplamente decididas antes de sua eleição. "Qual é a minha avaliação inicial dos inícios de Leão XIV? É uma pergunta difícil... Precisamos esperar para conhecer o perfil dos futuros prefeitos, começando pelo de seu sucessor no dicastério para os bispos", sorri o membro de um dicastério cujo prefeito já ultrapassou a idade normal de aposentadoria.
Quando o Cardeal Prevost foi eleito, fiquei inicialmente surpreso: ver chegar à loggia um homem com quem eu cruzava nos corredores, nas escadas, a caminho do trabalho. Agora me sinto confiante: ele é alguém que conhece a Cúria por dentro. Mas ainda estamos em um período de espera."
De 6 a 20 de julho, Leão XIV se hospedará na residência pontifícia de Castel Gandolfo, a 30 quilômetros de Roma. As audiências privadas e gerais estão suspensas e serão retomadas em 30 de julho. No domingo, 13 e 20 de julho, o Papa rezará a oração do Angelus na Piazza della Libertà, em frente ao Palácio Apostólico de Castel Gandolfo. Ele também celebrará a missa em uma paróquia de Castel Gandolfo (13 de julho) e na vizinha catedral de Albano (20 de julho). Na semana de 28 de julho, ele estará presente em Roma para o Jubileu da Juventude. De 15 a 17 de agosto, Leão XIV retornará a Castel Gandolfo, onde rezará o Angelus.