07 Mai 2025
Os oponentes de Francisco não são fortes o suficiente para apresentar seu próprio candidato, mas podem impedir alguém que continue a linha de Bergoglio: o terceiro turno da votação está se configurando como um momento-chave.
O artigo é de Jesús Bastante, escritor e jornalista, publicado por El Diario, 06-05-2025.
A dança dos nomes acabou, as apostas acabaram e o jogo começou. As congregações gerais foram concluídas nesta terça-feira, e todos os cardeais eleitores já estão instalados em Santa Marta, onde residirão durante o conclave, sem comunicação externa e com uma única missão: eleger um novo Papa.
Os cardeais votarão quatro vezes por dia (duas vezes pela manhã, duas vezes à tarde, mais a votação informal na quarta-feira à tarde), e o mundo só saberá o resultado olhando para a chaminé instalada no teto da Capela Sistina: se a fumaça for preta, eles continuarão votando; Se for branco, Habemus Papam. Os cardeais não assistirão televisão, não terão acesso a celulares nem lerão a imprensa. Eles também não poderão saber nada sobre o que está acontecendo lá fora. Roma e o Vaticano criaram um sistema robusto de bloqueio de comunicações para evitar isso.
E quem pode ser Papa? Na votação mais aberta do século passado, persistem três blocos: um, claramente conservador, sem chances, mas com capacidade de bloqueio; outro, majoritário (também o mais dividido), é favorável à manutenção, com nuances, do legado de Bergoglio; e outra, a dos moderados, onde se encontram tanto os novos cardeais sem experiência romana quanto aqueles que priorizarão a segurança em cada passo em detrimento de uma reforma pura e dura.
Entre estes últimos está o candidato que todos estimam ser o mais votado na primeira volta das urnas: o Secretário de Estado, o italiano Pietro Parolin, a quem várias fontes atribuem pelo menos trinta votos, que poderiam ser acrescentados, dependendo dos resultados de outros 'papatáveis', aos oito ou dez votos que seriam acrescentados pelo setor mais ultra (com o húngaro Peter Ërdo, o holandês Willem Eljk, o canadense Frank Leo ou o sueco Ander Arborelius como principais expoentes).
E entre os bergolianos? Esta é a facção majoritária, mas a que tem mais candidatos. Para essa primeira votação, há pelo menos cinco nomes com chances de angariar um bom punhado de votos que os coloquem na linha de partida: o americano Robert Prevost; o italiano Matteo Zuppi; o francês Jean Marc Aveline; o filipino Luis Antonio Tagle; ou o brasileiro Leonardo Steiner.
Qual será a chave para determinar se este será um conclave curto ou, ao contrário, se haverá minorias de bloqueio que impedirão que os 89 votos necessários sejam alcançados? O primeiro ponto de virada virá após a primeira votação, a chamada enquete. Após essa primeira contagem, os cardeais retornarão a Santa Marta, jantarão em mesas redondas e discutirão o ocorrido.
Dependendo dos votos de cada um, a aliança Parolin-Ërdo poderia ser confirmada ou desfeita. Também seria preciso analisar se os reformistas são capazes de chegar a um acordo e concentrar seu apoio em um ou dois candidatos, algo que será crucial para alcançar uma maioria claramente pró-continuidade.
A terceira rodada de votação, marcada para o final da manhã de quinta-feira, deve ser decisiva para determinar se Prevost, Zuppi, Tagle ou Aveline serão escolhidos como candidatos pelo campo renovacionista. Caso contrário, o risco de um bloqueio poderia levar ao surgimento de candidatos outsiders, como o espanhol Ángel Fernández Artime, o filipino Pablo Virgilio David ou o brasileiro Leonardo Steiner.
Outro cenário possível, caso Parolin não consiga apoio nessas primeiras rodadas e um renomado candidato bergogliano não prevaleça, é que outros azarões, como o italiano Fernando Filoni ou o mexicano Carlos Aguiar, assumam a liderança.
Se o processo ficar um pouco lento e se arrastar, e na tarde de sábado (por volta da décima segunda votação) não houver Papa, os cardeais tirarão um dia de folga. Mas, a essa altura, os fantasmas da divisão já teriam se instalado na Capela Sistina, e o Papa cessante não teria a mesma legitimidade que teria se, como se deseja, se realizasse um conclave de curta ou média duração, resolvido no máximo durante o dia, na sexta-feira ou na manhã de sábado. De qualquer forma, essas são as últimas informações. Agora só resta esperar a fumaça sair da chaminé da Capela Sistina.