03 Mai 2025
"Um documento das igrejas alemãs em 1959, as Teses de Heidelberg (obviamente não devem ser confundidas com as Teses de Lutero de 1518!), amplamente inspirado pelo físico Carl Friedrich von Weizsäcker, afirma a necessidade de a Igreja conviver com esse dualismo (que, em 1959, dizia respeito principalmente à dissuasão nuclear), sugerindo sua analogia com o que, na física de partículas, subsiste entre os modelos ondulatório e corpuscular: duas abordagens da realidade, que não são compatíveis entre si, sem, no entanto, ser possível eliminar uma delas", escreve Fúlvio Ferrario, teólogo italiano e decano da Faculdade de Teologia Valdense, em Roma, em artigo publicado por Confronti, maio-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O debate ocidental sobre as temáticas da paz, do rearmamento e da não-violência passou por diferentes etapas desde a Segunda Guerra Mundial. Simplificando bastante, podemos mencionar: a fase da constituição da OTAN e da dissuasão nuclear (esta última, aliás, nunca faltou); a mobilização a favor e contra a instalação de mísseis de teatro (“Euro-mísseis”) no início dos anos 1980; a época das intervenções de “manutenção” ou “estabelecimento” da paz por forças internacionais, em vários casos (mas nem sempre) com um mandato da ONU.
No início dos anos 2000, ainda se pensava que uma autoridade internacional poderia, de alguma forma, exercer uma função moderadora em pelo menos algumas das principais situações de crise.
Essa perspectiva desapareceu nos anos que se seguiram, levando ao atual caos global. Em cada uma dessas ocasiões, as Igrejas Católica e Protestante se dividiram transversalmente entre aqueles que continuavam a atribuir um papel inevitável ao instrumento militar e aqueles que consideravam que havia chegado o momento do testemunho de uma rejeição total das armas.
Trata-se, como já apontamos várias vezes aqui, de uma alternativa que atravessa toda a história do cristianismo. A diferença é que, até a segunda metade do século XX, a linha amplamente predominante era a primeira; nas últimas décadas, tanto o Magistério Católico quanto muitos ambientes evangélicos, bem como as organizações ecumênicas, adotaram com força a opção não violenta.
Um documento das igrejas alemãs em 1959, as Teses de Heidelberg (obviamente não devem ser confundidas com as Teses de Lutero de 1518!), amplamente inspirado pelo físico Carl Friedrich von Weizsäcker, afirma a necessidade de a Igreja conviver com esse dualismo (que, em 1959, dizia respeito principalmente à dissuasão nuclear), sugerindo sua analogia com o que, na física de partículas, subsiste entre os modelos ondulatório e corpuscular: duas abordagens da realidade, que não são compatíveis entre si, sem, no entanto, ser possível eliminar uma delas.
É claro que essa é apenas uma analogia que, envolvendo âmbitos completamente heterogêneos, é questionável: muitos a consideraram um estratagema pseudoteórico banal para contornar uma alternativa incontornável.
Entretanto, aqueles que falam de convivência poderiam, para começar, acertar as contas com aquela entre teses radicalmente diferentes, mas ambas apoiadas com autoridade. Recentemente, as Teses de Heidelberg ressurgiram na discussão eclesial alemã: isso é certamente um sinal, embora não seja tranquilizador. As teses concluem com o que é quase um grito, em minha opinião de grande atualidade nestes meses: em todo caso, “ai dos superficiais!”.
Os superficiais, de acordo com o texto, são aqueles, de ambos os lados do debate, que banalizam o ponto de vista dos outros, simplificando indevidamente seus argumentos. Entre os que consideram o instrumento militar essencial, os superficiais são aqueles que, ao invocar apressadamente o “realismo”, tendem a silenciar uma série de elementos muito “reais”. O mais clamoroso, é claro, diz respeito à eventualidade de uma escalada bélica incontrolável, que, pelo menos para a Europa, poderia ser irremediável, mesmo se mantivesse um nível “convencional”; se, depois, se passasse para o horizonte nuclear, se prospectaria um “fim da história” bastante diferente daquele imaginado há apenas algumas décadas por Francis Fukuyama. Além disso, as armas, sejam elas convencionais ou nucleares, são mortíferas mesmo quando não são usadas em guerras, pois retiram recursos de usos que seriam bem mais humanizadores.
Aqueles que, por outro lado, rejeitam, por princípio, as formas de defesa armada e de dissuasão, não deveriam se calar sobre as consequências previsíveis dessa atitude, na presença de interlocutores internacionais que não escondem seus projetos imperialistas. Apresentar o problema, como acontece com frequência, como uma simples alternativa entre escolas e hospitais, de um lado, e bombas nucleares, de outro, constitui uma banalização demagógica.
Um recurso corajoso à honestidade intelectual poderia constituir uma contribuição microscópica, mas real, das cristãs e dos cristãos para a discussão que voltou a eclodir hoje.