09 Abril 2025
Israelenses e palestinos têm pelo menos uma coisa em comum: o prefixo telefônico +972. Foi com base nesse raro compartilhamento que um grupo de jovens jornalistas israelenses e palestinos decidiu empreender uma nova iniciativa editorial sob a bandeira da pacífica convivência entre os dois povos e denunciando a violência ligada à ocupação militar, chamando-a justamente de “+972”.
A reportagem é de Roberto Cetera, publicada por L'Osservatore Romano, 07-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Meron Rapoport, um israelense, é um dos colunistas mais conhecidos da revista, juntamente com Ghousoon Bisharat, palestina com cidadania israelense, que é sua editora-chefe. “Nos primeiros anos, cobrimos principalmente as experiências que mostravam a possibilidade de coexistência em paz entre os dois povos, mas também o caráter agressivo e violento da ocupação militar israelense na Palestina e dos colonos. Depois, com o tempo, a parte dedicada ao jornalismo investigativo aumentou, o que levou à sua crescente popularidade”. Desde então, a revista on-line “+972”, escrita em inglês, gerou um desdobramento em hebraico, significativamente chamado Local Call, do qual Meron é o responsável.
“A Local Call certamente não tem os números da +972, que se tornou um ponto de referência essencial para jornalistas europeus e ocidentais que querem entender mais sobre o conflito israelense-palestino”.
A Local Call não é simplesmente uma tradução hebraica da “+972”: ela tem, além de artigos em comum, sua própria especificidade em questões mais inerentes às dinâmicas da sociedade israelense.
“Por outro lado, a língua inglesa nos permite ter uma ampla audiência internacional e uma boa circulação também nos ambientes palestinos; somos provavelmente a mídia editada em Israel lida com mais interesse nos territórios palestinos”, constata.
A equipe editorial permanente é composta por pouco mais de 10 jornalistas profissionais, mas a rede de colaboradores é muito ampla, com correspondentes também de várias cidades e capitais estrangeiras. O boom editorial da “+972” obviamente coincidiu com o início da guerra em Gaza: “Nosso trabalho”, continua Meron, “imediatamente marcou uma diferença em relação às outras mídias, tanto pelas reportagens de nossos colaboradores dentro da Faixa (onde, vale lembrar, Israel não permite a entrada de jornalistas, ndr) quanto pelas investigações sobre a conduta do exército israelense na guerra”.
Duas matérias importantes, por exemplo, tiveram grande repercussão: aquela sobre o protocolo “Hannibal” (o procedimento contestado que permitiria o “fogo amigo” em caso de risco de tomada de reféns, ndr) e aquela sobre a plataforma digital “Lavender” (um aplicativo de inteligência artificial usado pelo exército israelense que seria supostamente responsável pelo alto número de vítimas civis em Gaza, ndr). “Essa matéria sobre a IA usada na guerra“, acrescenta Meron, “registrou mais de um milhão de visualizações, às quais devem ser acrescentadas as muitas citações de outros jornais importantes de reputação internacional, como o ‘Guardian’ e, lembro-me, também o seu jornal”.
Mas a notoriedade do jornal tornou-se mundial quando dois dos principais redatores da “+972”, o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham, realizaram o documentário “No other land”, sobre a destruição sistemática de casas palestinas na aldeia de Masafer Yatta, que ganhou um Oscar em março passado em Hollywood. No other land é um documento terrível, continua Rapoport, e é uma pena que os israelenses não tenham permissão para assisti-lo. E isso diz muito sobre o nível de liberdade de informação nesse país. Muitos israelenses ignoram o que realmente está acontecendo em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia, e a Local Call foi criada justamente para suprir esse déficit, assim como eles ignoram o isolamento internacional que Israel construiu em torno de si, porque os jornais israelenses não falam sobre isso”.
A “+972” e a Local Call não utilizam publicidade e não recebem subsídios de órgãos públicos para se manterem independentes. “O sistema de mídia israelense está sob pressão”, explica Meron Rapoport, ”os canais de TV privados são condicionados pelo mercado publicitário, no qual os anunciantes não gostam de ser associados a posições políticas antigovernamentais, o canal público está sob a mira da privatização, e não é diferente a situação dos jornais que não agradam ao governo. O “Hareetz”, o jornal histórico da área progressista e democrática, por exemplo, perdeu toda a publicidade institucional. E, de qualquer forma - talvez isso seja pouco conhecido no Ocidente -, os jornais estão sujeitos à censura militar, o que obviamente também afeta as nossas reportagens de Gaza. Todos os nossos artigos de qualquer forma podem ser acessados no site www.972mag.com. Mas essas dificuldades não diminuem nosso empenho pela democracia, pela paz, pela justiça social, pela transparência e pela liberdade de informação”. Os jornalistas da “+972” e da Local Call estarão na Itália nos próximos dias, onde participarão, entre outras atividades, do Festival Internacional de Jornalismo em Perugia.