02 Abril 2025
No vídeo de intenção de oração para abril, Francisco pede para olhar “menos as telas” e “mais nos olhos”. Assim é possível colocar a tecnologia a serviço de todos, especialmente dos mais frágeis, para descobrir “o que realmente importa: que somos irmãos, irmãs, filhos do mesmo Pai”, sem nos distanciarmos dos demais e da realidade. "Rezemos para que o uso das novas tecnologias não substitua as relações humanas, mas respeite a dignidade das pessoas", diz o Papa em voz gravada antes da internação.
A reportagem é de Andressa Collet, publicada por Vatican News, 01-04-2025.
“Como eu queria que olhássemos menos as telas e nos olhássemos mais nos olhos!”
Assim começa Francisco na mensagem em vídeo com a intenção de oração para o mês de abril que o Pontífice confia à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. A voz de Francisco foi gravada antes da sua internação de 38 dias no Hospital Gemelli de Roma. O vídeo traz uma preocupação mundial ligada ao uso das novas tecnologias e a exortação do Papa que elas não substituam as relações humanas, mas respeitem "a dignidade das pessoas" e ajudem "a enfrentar as crises do nosso tempo”. Um tema de grande atualidade, especialmente por causa da difusão das redes sociais e do crescente desenvolvimento da inteligência artificial.
O alerta do Papa para perigos e riscos
O Papa Francisco recorda, assim, que se a tecnologia não é utilizada bem, pode produzir efeitos negativos. Entre eles estão o isolamento e a falta de relações verdadeiras; riscos como o ciberbullying e o ódio nas redes sociais; além do aumento das desigualdades econômicas, sociais, educativas e de trabalho, por exemplo. Para evitar esses perigos, o Papa convida a colocar a tecnologia a serviço do ser humano, utilizando-a para unir as pessoas e ajudar quem precisa, até para fomentar a cultura do encontro e proteger o planeta:
O que devemos fazer? Usar a tecnologia para unir, não para dividir. Para ajudar aos pobres. Para melhorar a vida dos enfermos e das pessoas com capacidades diferentes. Usar a tecnologia para cuidar de nossa casa comum. Para nos encontrar como irmãos. Porque quando nos olhamos nos olhos, descobrimos o que realmente importa: que somos irmãos, irmãs, filhos do mesmo Pai.
As novas tecnologias e a família
O cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, faz ecoar as palavras do Papa Francisco: “as novas tecnologias são um importante recurso e instrumento a serviço da família humana. Para que sirvam ao seu desenvolvimento, o seu uso deve orientar-se pelo respeito da dignidade e dos direitos fundamentais do homem. Vamos nos unir ao chamado do Santo Padre, para que o progresso digital constitua um dom para a humanidade, no respeito da dignidade de cada pessoa, da justiça e do bem comum”.
A necessidade de um enfoque ético das novas tecnologiasO vídeo do Papa, realizado neste mês com a colaboração com da Coronation Media, empresa de produção dos Estados Unidos, e o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. “Coronation Media está orgulhosa de apoiar 'O Vídeo do Papa', continuando uma década de serviço à Igreja Católica como premiado estúdio de vídeo e animação”, afirmam os cofundadores, Bill Phillips e Gary Gasse. “Essa colaboração representa um marco significativo no compromisso contínuo da empresa de navegar pela convergência da expressão humana autêntica com as novas tecnologias e meios de comunicação. Foi uma honra apoiar diretamente a oportuna mensagem de Sua Santidade à comunidade eclesial mundial sobre o uso responsável da tecnologia. De um modo muito concreto, apoiar essa mensagem supõe reforçar nossa dedicação ao uso ético das tecnologias emergentes para fomentar o desenvolvimento humano e para coroar o bem em nosso trabalho”.
Os efeitos da tecnologia em nossas vidas
O diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, Pe. Cristóbal Fones, afirma que, no vídeo, “o Papa Francisco nos quer recordar que usar responsavelmente a tecnologia supõe colocá-la a serviço da pessoa humana e da criação. Se é usada dessa forma, é também um meio para dar glória a Deus, já que nossas capacidades e nossa criatividade provêm d´Ele. Além disso, o uso ético das novas tecnologias ajuda a cuidar da criação, salvaguarda a dignidade do ser humano e melhora a vida”. Nesse ponto, o Pe. Fones menciona avanços como a facilidade de acesso a uma infinidade de recursos educativos on-line; a telemedicina, os aplicativos dedicados à saúde e os novos instrumentos de diagnósticos; os aplicativos que melhoram a comunicação e que permitem manter contatos ao redor do mundo e inclusive trabalhar em equipe, apesar das distâncias; as tecnologias de reciclagem e as energias renováveis… “A tecnologia pode ser uma poderosa ferramenta para enfrentar crises globais como a pobreza ou a mudança climática”, afirma.
Porém esse uso ético da tecnologia “requer, sobretudo, que olhemos aos demais com os olhos do coração, que estabeleçamos relações fraternas com os outros, que é o que nos convida o Papa", continua Padre Fones: "o respeito à dignidade de cada pessoa e o bem comum são os princípios que devem guiar-nos no momento de discernir como usar a tecnologia e para quê”. Em resumo, “o Papa Francisco nos exorta a desenvolver uma consciência crítica sobre como usamos as novas tecnologias e seus efeitos em nossa própria vida e na sociedade. E nos anima a fazer e promover um uso responsável das novas tecnologias que favoreça o desenvolvimento humano integral de todos, especialmente dos mais desfavorecidos”.
Em respeito à dignidade das pessoas
No marco do Ano Santo, é bom recordar que uma das condições necessárias para obter as indulgências concedidas por causa do Jubileu é rezar pelas intenções do Pontífice e 'O Vídeo do Papa' apresenta precisamente essas intenções, como a do mês de abril, pelo bom uso das novas tecnologias, que não nos distanciem dos demais e da realidade:
“Rezemos para que o uso das novas tecnologias não substitua as relações humanas, mas respeite a dignidade das pessoas e ajude a enfrentar as crises do nosso tempo.”
Leia mais
- O Papa está melhorando e pode reaparecer no Angelus deste domingo
- Cardeal Fernández: É por isso que precisamos do Papa Francisco
- A angústia de morrer toca até o papa e não há nexo com a fé em Deus. Artigo de Vito Mancuso
- “Papa Francisco sabia que podia morrer. Foi ele que nos disse para não desistir. Assim o salvamos”
- O reaparecimento do papa: o tratamento, a casa e o escritório. Artigo de Andrea Grillo
- O retorno do Papa, arquiteto de tudo
- Reze pela cura do Papa. Artigo de Andrés Torres Queiruga
- O retorno do Papa Francisco: “Obrigado pelas orações. Que se calem as armas no mundo”
- Papa Francisco e Santa Marta isolados para evitar riscos
- Papa entre a vida e a morte? Quando fica sem gosto
- O papa “morto” ou “demissionário”: é uma guerra como o filme “Conclave”. Artigo de Maria Antonietta Calabrò
- Ótimas notícias do Gemelli: Francisco agora respira sozinho. O Papa continua sem febre e suas infecções pulmonares estão "sob controle"
- “Sobre a renúncia do pontífice ainda existe um vazio canônico, mas a igreja não se identifica com o papado”. Entrevista com Daniele Menozzi
- Médicos sobre a nova foto: Papa Francisco envelheceu cinco anos
- A difícil gestão de um papa idoso. Artigo de Luigi Sandri
- O Papa e a primeira foto da hospitalização: “Estou passando por um período de provação”
- Glasnost sobre a doença, mas o corpo do Papa ainda é um tabu
- “Chega de especulações. É horrível que os cardeais já estejam trabalhando no conclave”. Entrevista com Jean-Claude Hollerich
- “Papa, a recuperação lenta pode permanecer assim por mais duas semanas”
- Papa Francisco, suas condições de saúde: "Ele consegue se mover e andar, não teve outras crises"
- Papa Francisco, condições de saúde: "Nenhuma nova crise, mas o quadro continua complexo"
- A pior crise do Papa, máscara de oxigênio para ajudá-lo a respirar
- “Notícias desconcertantes, mas apesar do sofrimento o Papa sempre serve a Igreja”. Entrevista com Cardeal Enrico Feroci
- “Sobre a renúncia do pontífice ainda existe um vazio canônico, mas a igreja não se identifica com o papado”. Entrevista com Daniele Menozzi
- “A renúncia é uma escolha pessoal que Francisco decidirá junto com Deus”. Entrevista com o cardeal Lojudice