12 Dezembro 2023
Guerra entre Rússia e Ucrânia quase inviabilizou a realização da COP29 no leste europeu em 2024; escolha é polêmica por ser mais um petroestado ditatorial.
A informação é publicada por ClimaInfo, 11-12-2023.
A espera acabou – ao menos até segunda ordem. Depois de muito suspense, finalmente os países do leste europeu se alinharam em torno do Azerbaijão como sede da próxima COP29 em 2024. Será a primeira vez que a região do Cáucaso receberá uma Conferência da ONU sobre o Clima.
A decisão em torno do anfitrião da COP29 se prolongou por mais de um ano. Inicialmente, a Bulgária se prontificou a receber o evento, mas foi vetada pela Rússia por conta das sanções da União Europeia contra o regime de Vladimir Putin relacionadas à invasão russa à Ucrânia.
Além da Bulgária, Azerbaijão e Armênia também apresentaram suas candidaturas para receber a Conferência do Clima em 2024. Os dois países vivem uma relação conflituosa por conta de divergências territoriais; mais recentemente, tropas azeris invadiram e ocuparam o enclave armênio de Nagorno-Karabakh, expulsando a população para o país vizinho.
Por isso, os dois governos surpreenderam ao anunciar na semana passada um entendimento diplomático para viabilizar a realização da COP29 no Azerbaijão, como parte de um esforço de pacificação. A novidade destravou o impasse e o último obstáculo, a Rússia, deu sinal positivo à candidatura azeri no último sábado (09/12).
Com isso, é praticamente certo que a ONU confirmará o Azerbaijão como sede da COP29 ao final da Conferência de Dubai. Para ativistas climáticos e observadores, a escolha reforça o mal-estar com o processo diplomático da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Afinal, se confirmado, será o 3º ano consecutivo de COPs em países autoritários, com um péssimo histórico de Direitos Humanos.
Outro incômodo é o perfil econômico do Azerbaijão, um país que tem 75% de sua economia baseada na produção de combustíveis fósseis. De uma certa forma, é uma “volta ao passado”, já que o Azerbaijão é o berço da indústria petrolífera moderna, com as primeiras explorações ocorrendo ainda no século XIX. Assim, a COP29 acontecerá no local que testemunhou o começo da era econômica que causou a crise climática que agora precisa ser enfrentada.
Em tempo: A COP28 testemunhou a maior manifestação popular dentro do espaço oficial de negociação da história das Conferências Climáticas. Centenas de pessoas tomaram os largos corredores do Expo City Dubai para protestar contra a inação dos países e em defesa da Justiça Climática. A manifestação aconteceu dentro do espaço da COP por conta da proibição imposta pelos Emirados Árabes a qualquer tipo de protesto de rua. Mas a repressão não ficou do lado de fora: de acordo com a Reuters, ativistas reclamaram de perseguição por parte do Secretariado da UNFCCC, que teria restringido a pauta que os manifestantes tratariam da manifestação – em particular, os pedidos por cessar-fogo na Faixa de Gaza. Bloomberg, Financial Times, Inside Climate News e NY Times abordaram a manifestação e as dificuldades enfrentadas pelos ativistas em Dubai.
Leia mais
- As emissões globais de carbono provenientes de combustíveis fósseis atingem nível recorde em 2023
- A crise climática, segundo Thomas Piketty
- Sob pressão da OPEP, COP28 vive impasse sobre eliminação de combustíveis fósseis
- António Guterres, na COP28: “Não podemos salvar um planeta em chamas com uma mangueira de combustíveis fósseis”
- Acordo para triplicar energias renováveis não inclui fim dos combustíveis fósseis
- “A humanidade abriu as portas do inferno”, alerta António Guterres, secretário-geral da ONU
- COP28, Papa: necessária conversão ecológica global, comprometer-se todos agora
- COP28, Emilce Cuda: iniciar um caminho de justiça social também para o clima
- COP28, apelo dos líderes religiosos: agir juntos para curar nosso mundo ferido
- A COP28 tem muitas incongruências e corre o risco de representar um fiasco. Entrevista especial com João Alberto Alves Amorim
- COP28 precisa apontar caminho para ação rápida contra crise climática
- Passagem de Lula na COP28 evidencia que petróleo ainda é prioridade brasileira
- Países concordam com fundo para perdas e danos no 1º dia da COP28
- “A meta é um aumento de 1,5 graus, se cedermos, traímos o mundo”
- Agência vê pico de emissões até 2025, mas 1,5ºC ainda fora de alcance
- Investimento anual em renováveis precisa mais que dobrar para limitar aquecimento a 1,5ºC, diz IEA
- Setor de navegação deixa meta de 1,5ºC a ver navios
- Quando o mundo chegará ao patamar de 1,5º Celsius? Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- COP28: Onde avançamos (ou não) e qual é o tamanho do desafio para conter a crise climática
- COP 28. A luta contra os combustíveis fósseis e o reino do petróleo. Destaques da Semana no IHU
- COP28: por um futuro de bem-estar longe dos combustíveis fósseis
- COP28 e a mudança radical na emissão de combustíveis fósseis
- COP28, no final os ricos pagam os países pobres à mercê do clima
- Ações atuais não são suficientes para manter o aquecimento sob 1,5°C
- Compromissos atuais do Acordo de Paris levam a aquecimento até 2,9°C
- Aquecimento global é “questão candente de direitos humanos”
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Déjà vu? COP29 acontecerá no Azerbaijão, berço da indústria moderna dos combustíveis fósseis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU