A Índia emergente e o Brasil submergente. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Foto: nonmisvegliate | Pixabay

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

27 Abril 2023

"O Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 24-04-2023.

Eis o artigo.

A Índia já foi palco de uma das civilizações mais criativas e prósperas do mundo. Mas, nos últimos séculos, o gigante do Sul da Ásia ficou para trás em relação ao mundo Ocidental e em relação ao seu ainda mais gigantesco vizinho chinês. A despeito do tamanho, a Índia é considerada uma nação de renda baixa (inferior a US$ 10 mil).

Contudo, a Índia está a caminho de se tornar uma nação de renda média e já é a terceira maior economia do mundo (atrás apenas da China e dos EUA), quando se considera a renda em poder de paridade de compra. Embora a Índia tenha enormes desafios para vencer a pobreza, a fome e a degradação ambiental, o país tem se destacado nos indicadores econômicos. A Índia se tornou o país mais populoso do mundo em abril de 2023 e possui a maior população em idade produtiva da comunidade internacional.

O contraste com o Brasil é gritante. O gráfico abaixo mostra a participação da economia brasileira e indiana no PIB global entre 1980 e 2028. Nota-se que, em 1980, o PIB brasileiro representava mais de 4% do PIB mundial e o PIB indiano menos de 3% do PIB global. Mas a partir do início dos anos de 1990, a Índia ultrapassou o Brasil e foi deixando para trás o “gigante” da América do Sul.

Atualmente, o PIB do Brasil representa menos de 3% do PIB global e o PIB da Índia representa mais de 7%. Em algum momento da década de 2030, o PIB da Índia deve alcançar 10% do PIB global, enquanto a economia brasileira deve encolher para menos de 2%. Portanto, não é incorreto dizer que a Índia é um país emergente (cresce mais do que a média mundial) e o Brasil é um país submergente (cresce menos do que a média global).

Os dados do FMI mostram que a Índia tem um desempenho econômico muito acima do brasileiro. O gráfico abaixo mostra as taxas anuais de crescimento do PIB em 4 décadas. O Brasil só apresentou taxas ligeiramente superiores às indianas nos anos de 2000 e 2008. Em 2020, durante a pandemia da covid-19 a recessão foi maior na Índia, mas nos anos seguintes o país asiático se recuperou, enquanto o Brasil patina.

Em 1980, o Brasil tinha uma renda per capita de US$ 11,4 mil e a Índia uma renda de US$ 1,2 mil (uma diferença de 9,4 vezes), conforme mostra o gráfico abaixo com dados do FMI de 1980 a 2028, em preços constantes em poder de paridade de compra (ppp). Em 1990, a diferença tinha caído para 6 vezes. Em 2023, a renda brasileira ficou estimada em US$ 15,2 mil e da Índia em US$ 7,4 mil.

Fazendo uma projeção até 2045, considerando um crescimento médio do PIB per capita de 0,7% ao ano para o Brasil e de 4,2% ao ano na Índia, os dois países teriam renda, respectivamente, de US$ 18 mil e US$ 19 mil. Ou seja, a renda per capita da índia ultrapassaria a renda brasileira em 2043.

É claro que toda projeção está sujeita à alteração, dependendo da dinâmica econômica nacional e internacional, mas os dados parecem indicar que a Índia está superando a “armadilha da pobreza”, enquanto o Brasil está preso à “armadilha da renda média”.

A figura abaixo mostra que a China deve contribuir com 22,6% do crescimento global no quinquênio 2023-28 e a Índia vem logo em seguida com 12,9%. Os EUA aparecem em 3º lugar, com 11,3% e o Brasil com uma contribuição de apenas 1,7% para o crescimento global. É cada vez menor o peso do Brasil na economia internacional e a política externa brasileira precisa levar estes dados em consideração.

Mas como mostrei no artigo “A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais”, publicado no Portal Ecodebate (Alves, 10/08/2022): “A Índia já é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa e ocupa o 2º lugar quando se considera as emissões por área. Como se projeta grande crescimento demoeconômico nas próximas décadas, a perspectiva é que os problemas ambientais do país se agravem bastante no médio e longo prazo.

A Índia já sofre com os eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e ondas letais de calor. Não será fácil resolver de forma simultânea os problemas sociais e ambientais. Mas, com certeza, o aprofundamento da transição demográfica deve ajudar a mitigar as crises e a facilitar a adaptação para o novo cenário da crise climática e ambiental global”.

Artigo publicado na revista Plos Climate (29/04/2023) diz: “Devido aos encargos sem precedentes na saúde pública, agricultura e outros sistemas socioeconômicos e culturais, as ondas de calor induzidas pelas mudanças climáticas na Índia podem impedir ou reverter o progresso do país no cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS)”

Em síntese, o Brasil está com uma economia estagnada há diversos anos, enquanto a Índia tem apresentado crescimento significativo nas últimas 4 décadas.

Porém, em um futuro não muito distante, a crise climática e ambiental pode retroceder o desenvolvimento ou colocar uma significativa limitação para o bem-estar humano em todos os países do mundo.

Referencial Bibliográfico

ALVES, JED. A Índia como o país mais populoso do mundo e com enormes desafios ecossociais, Ecodebate, 10/08/2022.

Ramit Debnath, Ronita Bardhan, Michelle L. Bell. Lethal heatwaves are challenging India’s sustainable development, Plos Climate, April 19, 2023.

Leia mais