O humilde, do latim humilis, é aquele que adere à terra, humus, e húmus é uma das palavras com raiz mais antiga de toda a bacia indo-europeia, hum, terra entendida como solo fértil.

O comentário é do romancista italiano Maurizio Maggiani, publicado por Robinson, 03-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Homo, homem, também deriva de humus, porque o homem e a terra são um só, de modo que no mito sumério da criação o homem foi gerado pelos deuses para substituí-los no ingrato trabalho da terra, e no Gênesis é até mesmo feito de terra, misturada com argila; Quintiliano, o rei dos retóricos, o primeiro intelectual de estado do Ocidente, pago pelo fisco e, portanto, pelo imperador diretamente do próprio bolso, ria da relação entre humus e homo, mas é claro que o imperador se ressentia por ter a ver com a humildade e mais ainda com a terra nua.

O humilde não tem medo de sujar as mãos com a terra, ele é a terra e da terra é o sal, portanto a prática da humildade é prova de plena humanidade. O fato de o sistema atual, como no passado, identificar os humildes com os últimos, entendidos como aqueles que não são admitidos à nobreza humana, os excluídos, os que devem ser subjugados, necessários para serem explorados, como a terra é explorada, demonstra apenas o quão desumano é o sistema.

Que malignamente deturpa a humildade com a humilhação; humilhar é esmagar o homem na terra, literalmente aterrá-lo, que é o que o poder dominante faz com os dominados. A humildade eleva o humano à sua natureza, a humilhação corrompe sua natureza e a derruba.

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