11 Agosto 2022
Francisco não é relativista, sabe que muitos fiéis já não seguem mais os ditames da Igreja. Por impulso dele, a Pontifícia Academia da Vida lançou um debate sem temores. Entre as propostas, lemos nos atos recentemente publicados, aquela de deixar ao casal a escolha madura de quais métodos usar.
O comentário é de Iacopo Scaramuzzi, vaticanista italiano, em artigo publicado na revista Jesus, agosto de 2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o texto.
Os protestantes têm um sentimento de culpa, os católicos têm gosto pelo pecado, dizia Luis Bunuel. O brilhante diretor surrealista fotografava um paradoxo inscrito mais no inconsciente do catolicismo moderno do que no Evangelho. Perdido o poder político com a Revolução Francesa, o magistério se concentrou cada vez mais na moral sexual, último âmbito em que manter uma influência sobre as consciências e a sociedade.
Com uma concepção angelical que muitas vezes teve vieses diabólicos, como mostra a crise dos abusos sexuais. Desde a encíclica Humanae vitae com a qual Paulo VI em 1968 proibiu os métodos contraceptivos artificiais, o tema da sexualidade caiu no silêncio na Igreja. João Paulo II confirmou seu antecessor com a Evangelium vitae (1995), Jorge Mario Bergoglio mudou de direção. Relativiza os pecados "abaixo da cintura", fiel a uma sabedoria popular indulgente com a fraqueza da carne.
Francisco não é relativista, sabe que muitos fiéis já não seguem mais os ditames da Igreja. Por impulso dele, a Pontifícia Academia da Vida lançou um debate sem temores. Entre as propostas, lemos nos atos recentemente publicados (“Ética teológica da vida”, Livraria editora vaticana), aquela de deixar ao casal a escolha madura de quais métodos usar.
“É lícito perguntar-se” comentou em artigo na Civiltà Cattolica o jesuíta Jorge José Ferrer “se o papa Francisco nos entregará uma nova encíclica ou exortação apostólica sobre a bioética, que poderia talvez chamar de Gaudium vitae”.
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Uma visão madura da sexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU