Sexo e casamento: aprendendo a dar forma ao próprio amor

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25 Junho 2022

 

Após a publicação dos “Itinerários catecumenais para a vida matrimonial”, uma das questões a ser abordada certamente é a relação entre amor, sexualidade e casamento.

 

O comentário é de Stefano Fenaroli, teólogo italiano, publicado em Vino Nuovo, 18-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

Onde uma questão exigiria páginas e páginas de reflexão e de argumentações para poder esclarecer todas as dimensões e os perfis que deveriam ser trazidos à tona, talvez seja mais útil ir direto ao cerne, esperando que o esclarecimento dos aspectos fundamentais ajude a aprofundar todo o resto.

 

A meu ver, há duas coordenadas decisivas para abrir uma passagem na sempre antiga questão referente ao casamento e às relações sexuais pré-matrimoniais. Podemos enunciá-las brevemente e de forma interrogativa.

 

Em primeiro lugar, qual é o significado do matrimônio? É uma instituição socioeclesial que intervém “de fora” para dar forma, definição e (por que não?) uma estabilidade peculiar (pelo menos de acordo com o Código de Direito Canônico, § 1.056) a uma realidade que, de outra forma, seria vaga, fraca e indefinida, ou é uma experiência de fé com a qual os dois amantes (ministros do sacramento) reconhecem que a própria história de amor sempre esteve fundamentada naquele que apenas a conserva e nela se revela?

 

Em outras palavras, o matrimônio é uma imposição de alguém (mesmo que por vontade de Deus!) sobre outro para um fim terceiro (reconhecimento social, estabilidade, conveniência etc.), ou ele diz algo sobre a história de amor daqueles que o vivem, o celebram e que, assim, desejam testemunhar a própria fé naquele que, nas diversas experiências amorosas vividas, poderíamos dizer que se revelou como “guardião” dessa história?

 

A segunda coordenada poderia ser conjugada, depois, da seguinte forma: no que diz respeito à relação sexual dentro da vida de casal, é realmente necessário continuar construindo uma espécie de “recinto” de proteção, vendo-a como um tabu a ser protegido à sombra do “contrato” matrimonial (que garante uma situação de estabilidade), ou talvez não seja mais útil acompanhar os amantes, os noivos, os cônjuges para compreender o seu autêntico significado dentro da própria história de amor e, mais em geral, no universo simbólico da linguagem do amor concreto?

 

A sensação é que muitas vezes (mesmo por parte de quem gostaria de proteger o “sexo” na sua quase sacralidade) a relação de amor é reduzida à relação sexual, identificada como o seu ponto de chegada, ignorando como ela, na realidade, se situa em uma dinâmica, um conjunto de experiências, em suma, uma história que, para se dizer, tem uma linguagem muito mais articulada do que apenas o “grito” sexual.

 

Talvez seja necessário recuperar precisamente esse alfabeto afetivo para poder pronunciar novas palavras de amor no casal, partindo das sílabas mais simples (beijos, carícias, abraços) para chegar a verdadeiras frases e, portanto, à mais alta poesia.

 

Seguindo esse duplo itinerário, parece-me que, por um lado, a relação sexual pode reencontrar o seu lugar dentro de um horizonte afetivo muito mais amplo e complexo, no qual talvez ela emerja ainda mais no seu próprio significado humano e teológico, único e singular, de dedicação e acolhida recíprocas dos amantes.

 

Por outro lado, pode-se enquadrar melhor a relação entre relações sexuais e matrimônio. As primeiras não são uma atividade “perigosa” apenas para amantes “mais do que hábeis” com a licença matrimonial, e o matrimônio não é um passe para todo tipo de experiência amorosa, incluindo as mais “arriscadas”. A relação sexual é uma modalidade (certamente única e singular, por motivos bem específicos) com a qual se diz e se realiza a única história de amor dos amantes. No matrimônio, essa história é reconhecida no seu enraizamento cristológico, ou seja, no fato de ser sinal do amor de Jesus Cristo que a habita, em todos os seus aspectos, com ou sem relações sexuais.

 

Objeção: ao se fazer isso, não se corre o risco de diminuir a nobreza do gesto? Em primeiro lugar, poderíamos dizer que, se para proteger o valor de um ato humano, é necessário confiná-lo e colocá-lo sob uma “jurisdição” diferente, talvez haja na base um problema antropológico-cultural muito mais grave que deve ser enfrentado, em primeiro lugar.

 

Em segundo lugar, tal como ocorre com a linguagem, uma palavra usada e abusada, às vezes em contextos nem sempre coerentes entre si, acaba perdendo significado. O mesmo vale para a linguagem do corpo. A atenção unívoca sobre a relação sexual (a favor ou contra, não importa) acaba desautorizando a sua importância. É necessário, então, aquilo cuja ausência é mais perceptível: uma séria educação sexual, entendendo com isso o fato de saber orientar os amantes à recíproca descoberta de si e do outro, na intimidade de uma linguagem do corpo que se expressa com delicadeza, constância e progressão.

 

Só assim os sujeitos de cada história de amor poderão aprender, mesmo no impulso e na emoção afetiva juvenil, a expressar e a contar a própria história, sem sentir a necessidade de reduzi-la a um único “grito” sexual inarticulado; só assim cada história de amor não se apagará depois de um único grande ardor, como um fogo de palha, mas saberá realmente alimentar-se e queimar continuamente como uma brasa ardente, símbolo real daquele que sempre é a sua fonte (antes e depois do matrimônio).

 

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