17 Mai 2022
O alerta vem do Polo Norte. A pastora luterana Siv Limstrand, da Igreja da Noruega, trabalha, literalmente, no fim do mundo, no arquipélago de Svlabard, onde o lugar mais próximo do continente fica a mais de 1 mil quilômetros de distância. Ela relatou ao serviço de imprensa da Federação Luterana Mundial (FLM) o que a comunidade de Longyarabyen, de 3 mil pessoas, constata no dia-a-dia.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“As temperaturas estão subindo duas vezes mais rápido aqui do que no resto do mundo. Vemos isso claramente no derretimento das geleiras, nas mudanças significativas na vegetação e na perda de ursos polares e outros animais. Chove mais e o clima é mais ameno, há mais avalanches e mais deslizamentos”, contou a pastora. Ao contrário do passado, “a maioria dos fiordes não pode mais ser acessada e usada como via devido ao recuo do gelo. Assim, todos os dias somos lembrados do problema das mudanças climáticas”.
Ainda assim, as temperaturas na região chegam um pouco acima de zero graus em alguns meses no verão. Tudo o que a pequena população local precisa vem de avião ou navio. Embarcação que sai do continente fica a três dias no caminho e aporta no arquipélago a cada dez dias apenas.
A cidade de Longyearbyen é o centro administrativo do arquipélago. Ela foi fundada em 1906 como centro de mineração de carvão. A última mina na região está programada para fechar em 2023, o que traz preocupações à sociedade local, embora o turismo esteja em ascensão, o mesmo ocorrendo com o Centro Universitário e sua especialidade de pesquisa no Ártico.
Svalbard em verde escuro e a Noruega em verde claro (Fonte: Wikimedia Commons)
“A dor pela perda dos meios de subsistência tradicionais e o sentimento associado de insegurança são palpáveis”, observou Siv, que pastoreia a comunidade há três anos. “As pessoas estão passando por um processo de luto, pois perdem seus meios de subsistência tradicionais”.
Para a pastora, é uma bênção servir como Igreja essa comunidade que chega a reunir pessoas procedentes de 52 partes do mundo, servir de ponte e conector dessa diversidade. “Compartilhamos as salas da igreja e estamos lá também para pessoas de outras denominações. Um padre católico vem aqui três vezes por ano e também um padre da Igreja Ortodoxa Russa”, informou. Mas com a guerra na Ucrânia, a Igreja da Noruega suspendeu relações com os ortodoxos russos. “Ainda assim, precisamos encontrar maneiras de viver juntos”, independente da guerra, comentou a pastora.
Formada em Teologia pela Universidade de Oslo, Siv trabalhou, de 1991 a 1994, no setor de juventude da FLM. Depois disso, atuou por 11 anos como capelã universitária em Trondheim e, mais tarde, como pastora de rua para a Missão da Igreja nessa cidade norueguesa. Empenhou-se em praticar e avaliar como a Igreja pode melhor desenvolver sua missão com pessoas vulneráveis, como aidéticos, sem-teto, mendigos e viciados em drogas e álcool. Essa solidariedade “mudou significativamente minha compreensão da necessidade de a Igreja ser um local de refúgio para pessoas que não são bem-vindas em outros lugares”.
Isso foi uma bênção, foi um desafio viver a essência do Evangelho pessoal, psicológica, teológica e espiritualmente, anunciou.
Leia mais
- Degelo do permafrost acelera a erosão costeira no Ártico
- Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados – e o CO2 continua a subir
- O gelo marinho do Ártico está derretendo mais rapidamente do que se imaginava
- Ondas de calor “extremas” deixam temperaturas 40 graus acima do normal no Polo Norte e na Antártida
- O degelo do Ártico acelera a exploração comercial do Polo Norte e duplica as rotas de navios cargueiros
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Moradores de território norueguês no polo Norte percebem o aumento do clima na Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU