Bielorrússia, o drama das crianças, sozinhas na floresta sem a família

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22 Dezembro 2021

 

Nos bosques gélidos que cobrem as fronteiras entre a Polônia e a Bielorrússia, ao drama dos migrantes que há semanas estão acampados na neve se soma aquele dos menores. Entre eles, alguns viajam até sem família, como é o caso de Ali, um iraquiano de 15 anos. “Foram seus pais que o fizeram partir depois que uma das muitas milícias armadas locais matou um de seus irmãos. O pai nos explicou isso ao telefone, já que ainda atua como intermediário para Ali, que não fala bem o inglês”.

 

A reportagem é de Alessandra Fabbretti, publicada por Il Manifesto, 21-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

A história é relatada por Ewa, uma voluntária polonesa que há meses recolhe pedidos de ajuda de refugiados perdidos neste canto da Europa. Faz parte de uma das associações da aliança "Grupa Granica" que foi criada em agosto para responder à crise humanitária desencadeada por um aumento sem precedentes nas chegadas de refugiados africanos e do Oriente Médio da Bielorrússia e que o governo de Varsóvia está gerindo como uma ameaça à segurança interna. Falamos com Ewa por telefone e ela nos atende com o tom de quem tem pressa: “Tenho que me dedicar aos SOS que recebo da fronteira”, diz. Entre as pessoas a serem assistidas, no entanto, Ali está no topo da lista: “Estou sempre preocupada - continua - há semanas estou cuidando dele. Algumas noites atrás não consegui dormir porque ele não atendia o celular”.

Ewa relata que o jovem de 15 anos vagou sozinho por dias, primeiro pelas florestas no lado bielorrusso da fronteira, depois entrou na Polônia há uma semana, onde continuou a viagem com um migrante mais velho. “Segundo a sua história - continua Ewa - foram os militares bielorrussos que o obrigaram a cruzar a fronteira e entrar na Polônia. Há poucos dias, porém, ele foi encontrado por agentes da fronteira que, em vez de acolhê-lo, o mandaram de volta para a Bielorrússia. Agora ele está lá, está com febre. Para Ewa, o pai de Ali disse que "os agentes poloneses riram muito quando seu filho, chorando, implorou para que não o mandassem de volta".

 

Divisa entre a Bielorrússia e a Polônia (Foto: Reprodução | Google Maps)

 

Desde o início da emergência humanitária nas fronteiras da Bielorrússia, vários grupos foram criados nas redes sociais para colocar os refugiados em contato com os voluntários. Percorrendo os vários posts, histórias como a de Ewa são frequentes, mas não totalmente verificáveis porque desde setembro apenas os militares e a mídia estatal têm acesso à área de fronteira e qualquer pessoa que queira se aproximar - sejam políticos, jornalistas ou agentes humanitários - corre o risco de uma multa de até 500 zlotys (em um país onde o salário médio é de cerca de 2.000 a 3.000 zlotys) e prisão.

Entre as várias histórias que circulam online está a de Eileen, uma menina iraquiana de quatro anos que teria ficado sozinha no lado polonês da fronteira na noite entre 6 e 7 de dezembro. Em Grupa Granica, os pais denunciaram ter perdido sua filha quando agentes poloneses intervieram para empurrar seu grupo de volta. A busca dos voluntários não tiveram sucesso. No dia 10 de dezembro, a polícia de Byalistok divulgou que havia interceptado também crianças sem esclarecer se Eileen estivesse entre elas. E naquela floresta - destaca a mídia polonesa - há lobos. “Esta crise humanitária é enorme”, relata Anna, uma voluntária polonesa independente, “não temos estimativas exatas, mas sabemos que há centenas de pessoas escondidas nas florestas, entre as quais alguns adolescentes sem família”.

Se o direito internacional proíbe a repulsão forçada de refugiados que fogem de guerras ou situações perigosas, há ainda mais responsabilidades por parte dos Estados quando se trata de um menor estrangeiro não acompanhado. Mas a presença de menores, sozinhos ou com suas famílias, crianças ou adolescentes, não diminuiria o risco das expulsões: “A polícia de fronteira polonesa há algumas semanas garantiu o acolhimento de mães com crianças - continua Anna - mas não temos como verificar isso. Por um lado, esperamos que seja por isso que estamos recebendo menos ligações de famílias com crianças pequenas, poderiam ter decidido não se aventurar nas florestas com essas temperaturas. Mas também tememos outra explicação”.

Alguns voluntários, diz Anna, relataram ter sido perseguidos por policiais em carros civis.

“Se já aconteceu que os voluntários sem o seu conhecimento tenham conduzido os agentes até os migrantes, e estes depois foram presos ou expulsos, é normal que agora outros tenham medo de nos contatar”. Por outro lado, com crianças é mais complicado escapar. Mas mesmo os voluntários vivem com medo de serem "vigiados pelos militares": por isso tanto Ewa quanto Anna não revelam nem seu sobrenome nem a área em que atuam.

 

 

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