01 Dezembro 2021
Esse é o segundo episódio que ocorre contra o povo em menos de um mês. Segundo lideranças, a suspeita é de que o incêndio tenha sido criminoso.
A reportagem foi publicada por Conselho Indigenista Missionário (CIMI), 25-11-2021.
O povo Mbya Guarani, da comunidade Tenondé, localizada no município de Camaquã, no Rio Grande do Sul (RS), foi surpreendido nessa quarta-feira (24) por um incêndio que consumiu duas casas de indígenas que moram no local. Uma casa de reza – Opy, assim chamada por esse povo – quase foi atingida também, mas os próprios indígenas conseguiram protegê-la do fogo até a chegada dos bombeiros.
Esse é o segundo episódio que ocorre contra o povo Mbya Guarani em menos de um mês. O outro caso ocorreu a madrugada do dia 14 de novembro, na aldeia Pindó Mirim, na Terra Indígena (TI) Itapuã, em Viamão (RS).
Imagem: incêndio criminoso na aldeia Pindó Mirim, Terra Indígena Itapuã, em Viamão, no Rio Grande do Sul | Foto: Povo Mbya Guarani
Segundo lideranças, a suspeita é de que o incêndio tenha sido criminoso, pois esse já é o terceiro caso na mesma área. O momento inicial das chamas não foi visto, pois parte do povo estava em um açude distante da aldeia.
Ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma das lideranças disse que, desta vez, ninguém ficou ferido, mas houve perda de bens materiais que estavam dentro das casas.
“Está queimando tudo e a gente não consegue controlar. O vento está forte e as chamas já estão muito altas. Ninguém ficou ferido, mas os pertences das famílias foram consumidos pelo incêndio”, afirmou. Segundo os indígenas, os bombeiros ajudaram a controlar o fogo.
Imagens: chamas tomam conta de casas do povo Mbya Guarani, da comunidade Tenondé, em Camaquã (RS) | Foto: Cacique André Fernandes
Para Roberto Liebgott, coordenador do Cimi Regional Sul, caso o episódio tenha sido realmente criminoso, atribui-se aos crimes de ódio e racismo, “já que na região não há nenhum litígio sobre a área de Tenondé”.
O coordenador explica que, em 2012, o Departamento Nacional de Infraestrutura e de Transportes (DNIT) criou uma iniciativa para atender as famílias do povo Mbay Guarani após a duplicação da BR-116. “Foi criado um programa que previu uma série de atividades permanentes, porque essas comunidades viviam acampadas nas margens da BR-116. Com a duplicação, elas foram impactadas. Então o DNIT comprou áreas de terra para assentar essas famílias”.
“Essa é uma área adquirida por meio desse programa. Não há nenhum litígio fundiário, o que nos faz concluir que esses crimes sejam motivados por intolerância contra os indígenas”, aponta Roberto.
Imagem: comunidade Guarani Mbya Ñhu’ú Poty (Flor do Campo), localizada nas margens da BR-116, no município de Barra do Ribeiro (RS) | Foto: Roberto Liebgott/Cimi Regional Sul
Ainda segundo o coordenador, já foram acionados os órgãos públicos responsáveis pelas causas indígenas: o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
“Agora, os órgãos devem identificar a origem dos incêndios. Se forem criminosos, que os responsáveis por essas práticas sejam responsabilizados civil e criminalmente. Civil para a reparação dos danos materiais e morais causados. E, criminalmente, pela prática de crime do incêndio, motivadas por racismo e ódio. Nossa solidariedade aos Mbya Guarani no enfrentamento a mais esse caso de violência”, concluiu.
Leia mais
- O genocídio dos povos indígenas. A luta contra a invisibilidade, a indiferença e o aniquilamento. Revista IHU On-Line N° 478
- Em busca da terra sem males: os territórios indígenas. Revista IHU On-Line N° 257
- Mbya Guarani e Kaiowá denunciam incêndios criminosos das Casas de Reza
- Indígenas Mbya Guarani denunciam incêndio criminoso na aldeia Pindó Mirim, no Rio Grande do Sul
- Grupo Mbyá-guarani permanece em Brasília e pede apoio financeiro aos não indígenas
- Nhanderú no comando: a retomada Mbya-Guarani de Maquiné – RS
- Comunidade Guarani Mbya da Ponta do Arado é atacada a tiros em Porto Alegre
- Se dizendo policiais, homens armados ameaçam retomada Guarani Mbya em Porto Alegre
- Em memória de Sepé Tiaraju, povo Guarani Mbya reafirma luta pelos territórios tradicionais
- A detenção de Teresa Gimenes Guarani Mbya pela Guarda Municipal de POA e o direito à diferença
- RS. Indígenas Guarani Mbya ocupam área da Fepagro em Maquiné
- Povo Guarani Mbya retoma Terra Indígena Irapuá, território imemorial
- Língua Guarani Mbyá será reconhecida como bem imaterial do patrimônio nacional
- Comunidade Guarani Mbya, de Capivari - RS, denuncia que água de córrego por eles utilizado foi envenenada com agrotóxico!
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Casas de indígenas do povo Mbya Guarani, em Camaquã (RS), são incendiadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU