25 Fevereiro 2021
"O Covid? Foi um sinal de alerta".
A reportagem-entrevista com Nancy Hopkins, bióloga molecular e professora emérita do MIT, é de Adalgisa Marrocco, publicada por Huffington Post, 24-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Quando comecei a me interessar pela igualdade de gênero no mundo acadêmico há cerca de 25 anos, nunca imaginei que haveria uma mulher presidente de Harvard ou do MIT. No entanto, apenas alguns anos depois, aconteceu. Então comecei a me perguntar se algum dia eu seria capaz de ver uma mulher na Casa Branca. E agora está lá Kamala Harris". Quem fala isso ao HuffPost é Nancy Hopkins, uma renomada bióloga molecular e professora emérita do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Para a cientista, nascida em 1943, os preconceitos de gênero ainda estão enraizados hoje, mas não impossíveis de serem eliminados: “A mudança é mais lenta do que gostaríamos. Mas a mudança não acontece porque o tempo passa: acontece porque as pessoas fazem algo para gerá-la. E o fazem quando veem que algo não está como deveria ser”.
O amor de Nancy Hopkins pela biologia nasceu quando era muito jovem, depois de assistir a uma aula de 60 minutos com o ganhador do Nobel James Watson, descobridor do DNA junto com Crick, Wilkins e Franklin. “Era 1963. Depois de uma hora, eu disse 'isso é tudo. Isso vai responder a todas as perguntas que já tive sobre a vida’, ela lembra várias vezes. O seu testemunho é um dos incluídos em um recente documentário intitulado Picture a scientist, que conta a experiência e o empenho das pesquisadoras que buscam escrever um novo capítulo na história da ciência.
A bióloga - membro da National Academy of Sciences, do Institute of Medicine da National Academy e da American Academy of Arts and Sciences - destaca que desde o início de sua carreira acadêmica, as coisas mudaram para melhor, "embora em um modo que ainda não é suficiente".
“Naqueles dias - lembra Hopinks - não havia nenhuma lei contra o assédio sexual, as mulheres muitas vezes não encontravam mentores que as apoiavam, não havia políticas de licença familiar e creches disponíveis para as professoras. Nas faculdades das grandes universidades estadunidenses de pesquisa, nós, mulheres, éramos muito poucas. O número de presenças femininas chegava praticamente a zero nos cargos administrativos de topo e nenhuma era convidada a participar como oradora em conferências importantes". “Agora todas essas coisas mudaram, mas as mulheres ainda enfrentam dificuldades por conta das tarefas familiares e ainda mais pela persistência dos preconceitos de gênero inconscientes”, acrescenta a cientista.
A Nancy Hopkins, que em sua pesquisa para mapear os genes do câncer explorou a investigação da genética animal, perguntamos o que achava do manejo da pandemia e das infecções causadas pelo "salto de espécie" animal-humano.
“Acredito que o Covid-19 foi um sinal de alerta – afirma a cientista - já sabemos há algum tempo que algo assim poderia vir a acontecer. Mas é muito difícil convencer as pessoas a agir contra ameaças potenciais, sejam elas mudanças climáticas, bactérias resistentes a antibióticos, agentes infecciosos novos e letais. Estamos tão concentrados no desenvolvimento de soluções de alta tecnologia que tendemos a ignorar a saúde pública. Espero que agora o mundo acorde e possa fazer melhor”.