“Trágico fracasso ético”. A Europa esqueceu-se da vacina para os pobres

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27 Janeiro 2021

Em torno da questão das vacinas, uma Europa da solidariedade, da equidade e dos direitos humanos corre o risco de dar um dos piores exemplos de sua história. Alarmes internacionais vêm ressoando já há algum tempo, temendo-se que a corrida frenética para angariar doses por parte dos países mais ricos esteja condenando um terço da população mundial a permanecer por muito tempo sem a possibilidade de se imunizar do vírus Sars-CoV-2.

A reportagem é de Gianfranco Marcelli, publicada por Avvenire, 26-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Mas Bruxelas e as capitais irmãs até agora mostraram-se surdas e os empenhos por uma repartição universal e igualitária acabam por aparecer como um hipócrita fingimento contra os mais pobres. Os fatos são eloquentes.

Há uma semana o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde laçou um severo alerta, falando de um trágico "fracasso ético" à vista, devido ao desequilíbrio na aquisição de vacinas entre as nações de maior renda e as inseridas no programa mundial “Covax”, que foi ativado justamente para reduzir o impacto da pandemia em escala planetária.

Há um ano, no início da emergência do Coronavirus, a cúpula da OMS, incluindo seu número um, Tedros Ghebreyesus, não havia brilhado pela rapidez de ação e nem pela transparência nas relações com a China. Desta vez, porém, sua intervenção parece intocável. Nos dias que se seguiram ao alerta de Genebra, primeiro o Parlamento Europeu e depois todos os líderes da União se reuniram e discutiram vários aspectos do drama sanitário que ocorre nos 27 países membros. Em particular, eles avaliaram a frente das vacinas, observando com preocupação que o afluxo previsto de doses sofrerá atrasos e contrações.

Por outro lado, poucas vozes e apenas fugazes sugestões ressoaram sobre as consequências da desastrosa "divisão das vacinas" que se perfila para a humanidade. A primeira vídeo-cúpula de chefes de estado e de governo de 2021, portanto, se centrou sobre as responsabilidades da falta de entregas e como acelerá-las, no eventual recurso aos certificados de vacinação, nos critérios para o controlo nas fronteiras internas com base na propagação do vírus, nas variações dos mapas cromáticos do território da União (introduzindo a cor "escuro vermelho").

Infelizmente, dos relatos de Bruxelas não há referências ao que a agência Reuters revelou já em meados de dezembro, após consulta a documentos internos da Covax: ou seja, que os dois bilhões de doses previstos, a serem inoculados até o final de 2021 em pelo menos 20 por cento da população em 91 países de baixa e média renda na ÁfricaÁsia e América do Sul são agora uma quimera, porque faltam fundos, meios de estocagem e procedimentos contratuais claros. Portanto, é razoável prever que o acesso à vacina não será possível para dois ou três bilhões de pessoas antes de 2024.

Diversas vezes o executivo de Bruxelas foi criticado pelas estratégias de compra, pelos procedimentos confidenciais usados e pelos preços "secretos" pagos às empresas farmacêuticas multinacionais. Mas quem se perguntou sobre os 2 bilhões e 300 milhões de doses compradas ou reservadas? Uma quantidade suficiente para imunizar todos os cidadãos da União durante pelo menos 3 anos. No entanto, era óbvio que fazer reserva do produto causaria gargalos, aumento de preços e menor acesso para quem tem pouco poder de negociação. Em suma, a Europa, juntamente com o resto do Ocidente e desafiando os objetivos da ONU de redução da pobreza, acentuou o fosso com os países mais desfavorecidos.

É compreensível que os governantes da União estejam atentos aos cidadãos-eleitores e às suas exigências. Melhor então evitar empenhos ou promessas tipo "bons samaritanos", se acabar, como escreveu Francisco na "Fratres omnes", que "as disputas internas e internacionais e o saque de oportunidades deixam tantos marginalizados, atirados para a margem da estrada".

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