Zaqueu, os LGBT e o Encontro com Jesus

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10 Dezembro 2018

Uma oferta de misericórdia a alguém à margem sempre deixa pessoas com raiva.

O comentário é de Luís Corrêa Lima, sacerdote jesuíta e professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio. Trabalha com pesquisa sobre diversidade sexual e de gênero, e no acompanhamento espiritual de pessoas LGBT.

Eis o artigo.

O escritor jesuíta norte-americano James Martin, através de publicações e palestras, propõe a construção de uma “ponte” entre os LGBT e a Igreja. Construir pontes e não muros é parte da convocação do papa Francisco em favor de uma Igreja em saída, indo ao encontro dos que vivem nas mais diversas periferias existenciais. Martin vê no relato do encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19,1-10) uma grande inspiração para o acolhimento e a inclusão de pessoas LGBT e suas famílias.

Jesus percorria Jericó, a caminho de Jerusalém. Lá havia um homem chamado Zaqueu, que era o principal cobrador de impostos da região, e assim era visto pelo povo judeu como o principal pecador. Isto porque ele era considerado conivente com as autoridades romanas que dominavam Israel. Zaqueu provavelmente era alguém marginalizado por todos. Podemos pensar neste homem como um símbolo dos cristãos LGBT. Não porque eles sejam mais pecaminosos do que os outros. Mas porque estas pessoas são frequentemente marginalizadas e assim se sentem. Os exemplos são inumeráveis. Pensemos nestas pessoas como Zaqueu.

O Evangelho de Lucas diz que Zaqueu tinha baixa estatura. Quão pequenas as pessoas LGBT tantas vezes se sentem na Igreja. Lucas também diz que Zaqueu não podia ver Jesus “por causa da multidão”. Provavelmente foi também por causa de sua altura. Mas quantas vezes a “multidão” atrapalha as pessoas LGBT a encontrarem Jesus? E nós? Quantas vezes não estamos também na multidão paroquial que não as deixa se aproximarem de Deus?

Então Zaqueu sobe numa árvore, porque queria ver “quem era Jesus”. E é isso que a pessoa LGBT quer: ver quem é Jesus. Mas a multidão obstrui o caminho. Jesus passa, atravessando Jericó, provavelmente com centenas de pessoas clamando por sua atenção. E a quem ele aponta? Uma das autoridades religiosas? Um de seus discípulos? Não, para Zaqueu! E o que ele diz a Zaqueu? Ele grita: “Pecador”? Ele grita: “Seu cobrador de impostos terrível”? Não! Ele diz: "Desça depressa, pois eu devo ficar em sua casa hoje"! É um sinal público de boas-vindas a alguém à margem.

Então vem a frase mais intrigante da história: “Todos os que viram começaram a resmungar”! É exatamente o que acontece hoje em relação às pessoas LGBT. Outras pessoas resmungam! Fique on-line na internet e você verá todos os resmungos. Uma oferta de misericórdia a alguém à margem sempre deixa pessoas com raiva. Mas Zaqueu “pôs-se de pé”. Na língua original grega, porém, a expressão está mais perto de “permaneceu firme”. É um lembrete para não deixar aqueles que “resmungam” ficarem no caminho do encontro com Jesus. Quantas vezes as pessoas LGBT tiveram que se manter firmes diante da oposição e do preconceito na Igreja?

Então Zaqueu disse que ele daria metade de suas posses para os pobres e reembolsaria quatro vezes qualquer pessoa por ele defraudada. Um encontro com Jesus leva a uma conversão, como acontece com todos. De que se trata? Não é da "terapia de conversão". Não. O que acontece com Zaqueu é a conversão a que todos nós somos chamamos. Nos Evangelhos, Jesus fala de metanoia, uma mudança de mentes e corações.

Para Zaqueu, a conversão significava dar aos pobres. Tudo isso vem de um encontro com Jesus. Porque a abordagem de Jesus era, mais frequentemente, primeiro comunidade, segundo conversão. Primeiro vem o anúncio de se hospedar na casa de Zaqueu, em seguida a mudança em sua vida. Para João Batista, o modelo era converter-se primeiro e depois ser acolhido na comunidade. Para Jesus, é primeiro comunidade, segundo conversão. Acolhimento e estima vêm em primeiro lugar.

É assim que Jesus trata as pessoas que se sentem à margem. Ele as procura antes de qualquer outra pessoa; ele as encontra e as trata com respeito, delicadeza e compaixão. Então, quando se trata de pessoas LGBT e suas famílias em nossas paróquias e comunidades, parece que há dois lugares para se ficar. Você pode ficar com a multidão, que resmunga, que se opõe à misericórdia aos que estão à margem. Ou você pode ficar com Zaqueu e, mais importante, com Jesus.

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