A segunda carta de Viganò a Bergoglio chega dois dias antes, em nome do Arcanjo

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01 Outubro 2018

O serviço de entrega de correio do arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio dos EUA que pediu ao papa Francisco para renunciar por suposto acobertamento de abusos sexuais, funciona melhor que a Amazon. Viaje com antecedência no tempo. Sua nova carta, datada evocativamente de 29 de setembro, festa de São Miguel - o Arcanjo que derrotou o diabo, patrono das forças da ordem, da Polícia do Estado italiano e da Gendarmeria do Vaticano - foi publicada já na tarde de quinta-feira, 27 de setembro, pelo seu destinatário, um emocionado Rod Dreher.

A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 28-09-2018.

"Foi enviada para mim, escrita em inglês, por meio de um jornalista italiano", escreveu o blogueiro norte-americano de origem alemã, no "American Conservative".

O conteúdo é essencialmente o mesmo do comunicado de 25 de agosto. Mas além do conteúdo, vale a pena analisar também a mensagem, segundo o ensinamento do sociólogo das mídias canadense convertido ao catolicismo, Marshall McLuhan.

Primeiro de tudo, a data. Considerando que o Papa falou do ataque sobre os abusos sexuais como ataque do Grande acusador, a referência temporal a São Miguel, como data da carta, de fato revela o desejo de "virar" contra o próprio Papa essa afirmação. Mas às vezes as panelas são feitas sem as tampas e a carta foi publicada com dois dias de antecedência.

E agora, o destinatário. Rob Dreher, antes metodista, depois católico e convertido à ortodoxia do Patriarcado de Moscou em 2006, é o autor do best-seller "A Opção Bento" - publicado na Itália pela editora San Paolo, em primeiro lugar entre os mais vendidos na categoria "Igreja Católica "(e isso já dá a ideia da confusão dos tempos). "A Opção Bento", título que atrai a benevolência dos fiéis às posições do Papa Ratzinger, mas que se refere ao santo de Núrsia, é o livro apresentado à Câmara em 11 de setembro último, aniversário do ataque terrorista às Torres Gêmeas, pelo prefeito da Casa Pontifícia e secretário do papa emérito, monsenhor Georg Gaenswein, aquele que comparou o escândalo de pedofilia na Igreja precisamente com o atentado em Nova York executado pela al Qaeda. Para dizer a verdade, não é a única referência ao terrorismo islâmico, de fato, nesta história. O comentarista do The American Conservative usou a imagem da Arca de Noé - a única salvação para os crentes sobreviventes - assumida em nível mundial pela divulgação da revista do Isis, Dabiq a partir de julho de 2014. A figura de são Bento há mais de dez anos é usada pelos chamados "ateus devotos", antes na versão da reafirmação das raízes cristãs, dos valores não negociáveis na Europa - mas sem fé em Deus ("etsi Deus non daretur") - e agora na versão do "retiro monástico" (sugerido para os outros, exceto si mesmo) do cenário público de acordo com acentos próximos à heresia donatista (que pregava uma Igreja dos duros e puros).

Dreher começou a falar sobre a Opção de Bento mais de dez anos atrás, a partir das colunas dos jornais conservadores americanos. Quando lhe pediram para reunir suas hipóteses em um livro, tornou-se um verdadeiro manifesto do conservadorismo e das perspectivas futuras para o cristianismo.

A nova carta de Viganò, o exterminador de Papas, é basicamente um desafio para o Vaticano para responder rapidamente. Um ataque é lançado, além de Francisco, contra o Prefeito da Congregação dos Bispos, o cardeal canadense Marc Ouellet, em 2010 nomeado por Ratzinger. Ouellet foi convidado ontem por Viganò para mostrar os documentos, os dossiês sobre Theodore McCarrick que seriam mantidos em sua Congregação. Quase uma resposta ao que Ouellet afirmou em 15 de setembro à margem da Assembleia Plenária dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa na Polônia: "Quando há um ataque contra o Santo Padre, é um exemplo muito ruim e uma ofensa muito séria. Não é uma resposta positiva, apenas um ataque injusto ... Estamos diante de uma crise na vida da Igreja e é uma crise que está sendo experimentada no nível da liderança, dos bispos. Vemos que há também uma certa rebelião e este é um assunto sério que deve ser enfrentado de maneira espiritual e não política”.

A segunda carta de Viganò contém também a referência ao acordo assinado pelo Papa Francisco com a China. Ninguém pode negar que o acordo do Vaticano adquire um valor geopolítico, além de espiritual e religioso. Justamente quando os Estados Unidos de Trump começaram uma guerra comercial com Pequim, a direita católica norte-americana lembrou nos últimos dias o papel de negociador não oficial desempenhado pelo agora ex-cardeal McCarrick, justamente com a China. É precisamente de uma viagem à China de McCarrick em 2013, falou o ex-núncio Viganò em seu "comunicado", como prova da condescendência do Papa para com ele. Também o predecessor de Francisco, o papa emérito Bento XVI, que também foi autor de uma carta aberta aos católicos chineses, recebeu no início de 2012 ameaças obscuras depois de uma viagem à China por outro prelado. E tal documento terminou entre aqueles do primeiro escândalo Vatileaks, do qual Viganò foi protagonista.

Para nos limitar a McLuhan, pode-se citar uma frase para esclarecer o que aconteceu: "Eu não errei em lembrar constantemente que o ‘Príncipe deste mundo’ é um ótimo ‘P.R. man’, um grande vendedor das inovações de hardware e software, um grande engenheiro eletrônico, um grande mestre das mídias".

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