Por: Vitor Necchi | 06 Outubro 2017
O economista Vinicius Cardoso de Barros Fornari foca na indústria sua trajetória acadêmica e sua atividade profissional, porque entende que este segmento é fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Com esta manifestação, ele iniciou na noite de quarta-feira (4/10) a conferência Impacto da quarta Revolução Industrial na economia e na indústria, proferida na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. A atividade integra o ciclo de estudos Revolução 4.0 – Inteligência artificial e internet das coisas – Impactos no modo de produzir e viver.
Fornari trabalha na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, entidade que defende os interesses do setor industrial, principalmente em relação ao governo federal. Sua fala foi baseada na pesquisa que desenvolveu para o doutorado e em sua atuação na CNI. Na primeira parte da conferência, conceituou o que é a indústria 4.0. Começou lembrando as três revoluções na indústria que antecedem a atual: a primeira, em torno de 1780, com a invenção do motor a vapor; a segunda, em torno de 1870, com a utilização da energia elétrica; a terceira, em torno de 1970, com a automação dos processos industriais. A quarta revolução se encontra em curso. “Estamos tratando de uma revolução que ainda não terminou”, destacou.
A indústria 4.0 decorre das políticas industriais promovidos por governos, em especial de três países que estão à frente desse processo, a partir da elaboração de documentos que detalham suas diretrizes: Estados Unidos, que lançou o Advanced Manufacturing Partnership (AMP) em 2011, a Alemanha, onde a Academia Alemã de Ciência e Engenharia (Acatech) publicou o Industrie 4.0, em 2013, e a China, que em 2015 divulgou um documento sugestivamente intitulado Made in China 2025.
Atualmente, quase todos os países da Europa desenvolvem estratégias para sua indústria com foco na quarta revolução industrial. No Brasil, a CNI começou a estudar o tema para a construção de uma política industrial. O resultado desta empreitada foi o documento Desafios para indústria 4.0 no Brasil, elaborado por Fornari e que pautou parte de sua conferência no IHU.
Conforme o economista, a digitalização é um processo cada vez mais presente na vida das empresas e das pessoas, em áreas como energia, mobilidade urbana, agricultura, indústria, bens de consumo e saúde. E a indústria 4.0 integra tecnologias que combinam componentes físicos e digitais: internet das coisas, big data, robótica avançada, computação em nuvem, impressão 3D (manufatura aditiva), manufatura híbrida, inteligência artificial, sistema de conexão máquina-máquina, sensores e atuadores, sistemas de simulação, novos materiais e infraestrutura de comunicação.
A partir das transformações compreendidas nesta revolução em curso, espera-se que haja impacto na produtividade (qualidade/redução de defeitos, eficiência no uso de insumo, tempo de desenvolvimento de produtos e flexibilidade da produção), na integração da produção (P&D, design, desenvolvimento do produto, insumos, produção, marketing, venda e distribuição, pós-venda) e na gestão empresarial (relações entre diferentes áreas da empresa e novos modelos de negócios). Para que esses objetivos sejam alcançados, Fornari considera fundamental que se estabeleça um fluxo de informações e dados para monitoramento do processo.
O economista apresentou as possíveis consequências econômicas da disseminação e da consolidação da indústria 4.0. O primeiro ponto destacado foi a redução das vantagens comparativas, que tenderão a ser abaladas pelos ganhos de produtividade decorrentes da adoção de novas tecnologias, com a possibilidade de redefinir fatores determinantes de localização de investimentos produtivos.
Outras consequências elencadas foram a ampliação da cooperação entre agentes econômicos, o reforço da competitividade que se estabelece entre sistemas produtivos, o estabelecimento de novos modelos de negócios e de inserção nos mercados, a ampliação da escala de negócios e o surgimento de novas atividades e profissões, que demandarão adaptações no padrão de formação de recursos humanos.
Fornari enfatizou que a produtividade é um dos determinantes da competitividade. E, ao analisar a situação do Brasil, no que se refere à indústria de transformação, o quadro não é nada animador. Citando a publicação Indústria brasileira: da perda de competitividade à recuperação?, o economista apresentou dados que evidenciam que, ao contrário do que ocorre com os principais países emergentes, a indústria brasileira perdeu competitividade nos últimos anos. “Temos que melhorar”, afirmou. “Em um primeiro momento, parece que perdemos mais uma revolução.” Por isso, ressaltou, é importante que se pense em uma política industrial e em competitividade, que se alcança com qualidade ou preço.
Nesse sentido, um dos desafios é identificar oportunidades para adoção das tecnologias da indústria 4.0. Em relação às indústrias de processo contínuo de produção, Fornari afirmou que “os impactos estão mais relacionados a melhoras no processo produtivo e na relação com clientes e fornecedores”. E nas indústrias de processo discreto de produção, “os setores precisão traçar uma dupla estratégia, com investimentos em produtos mais tecnológicos e na incorporação das tecnologias habilitadoras na produção”.
Vinicius Fornari | Foto: Susana Rocca
Outro panorama apresentado durante a conferência trata do estado de digitalização na indústria brasileira. Conforme dados da CNI publicados em maio de 2016, 42% das empresas do país desconhecem a importância das tecnologias digitais para a competitividade da indústria e 52% não utilizam nenhuma tecnologia digital, tendo por referência uma lista que contempla dez opções. Para se chegar a esses índices, foram consultadas 2.225 empresas, sendo 910 pequenas, 815 médias e 500 grandes.
Ao tratar dos desafios para o desenvolvimento e adoção da indústria 4.0 no Brasil, Fornari afirmou que é necessário aplicar nas cadeias produtivas e no desenvolvimento de fornecedores (desenvolvimento tecnológico, recursos humanos, mecanismos para adoção das tecnologias da indústria 4.0, infraestrutura e regulação). Pairando sobre todos esses processos, é importante que se desenvolva uma articulação institucional, conforme o entendimento do economista que atua na Diretoria de Desenvolvimento Industrial da CNI. Por fim, ao discutir políticas para adoção da indústria 4.0, Fornari apontou a necessidade de se estabelecer “políticas horizontais”, que compreendem formação de recursos humanos (capacitação e requalificação), regulação e certificação de protocolos de segurança, proteção de dados e infraestrutura de telecomunicações.
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É importante pensar política industrial e competitividade para o Brasil não perder a revolução 4.0 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU