Revolução ignorada

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12 Março 2016

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo João 8,1-11 que corresponde ao 5° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

Apresentam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. Todos conhecem o seu destino: será apedrejada até a morte segundo o estabelecido pela lei. Ninguém fala do adúltero. Como ocorre sempre numa sociedade machista, condena-se a mulher e desculpa-se o homem. O desafio a Jesus é frontal: «A lei de Moisés manda-nos apedrejar as adúlteras. Tu, que dizes?».

Jesus não suporta aquela hipocrisia social alimentada pela prepotência dos homens. Aquela sentença à morte não vem de Deus. Com simplicidade e ousadia admiráveis, introduz ao mesmo tempo verdade, justiça e compaixão no julgamento à adúltera: «o que esteja sem pecado, que atire a primeira pedra».

Os acusadores retiram-se envergonhados. Eles sabem que são os principais responsáveis dos adultérios que se cometem naquela sociedade. Então Jesus dirige-se à mulher que acaba de escapar da execução e, com ternura e grande respeito, diz-lhe: «Tampouco Eu te condeno». Logo, anima-a para que Seu perdão se converta no ponto de partida de uma vida nova: «Anda, e daqui em diante não peques mais».

Assim é Jesus. Por fim existiu sobre a terra alguém que não se deixou condicionar por nenhuma lei nem poder opressivo. Alguém livre e magnânimo que nunca odiou nem condenou, nunca devolveu mal por mal. Na Sua defesa e no Seu perdão a esta adúltera há mais verdade e justiça que nas nossas reivindicações e condenações ressentidas.

Os cristãos, não fomos capazes todavia de extrair todas as consequências que encerra a atuação libertadora de Jesus face à opressão da mulher. A partir de uma Igreja dirigida e inspirada majoritariamente por homens, não temos consciência de todas as injustiças que continua padecendo a mulher em todos os âmbitos da vida. Algum teólogo falava há uns anos «da revolução ignorada» pelo cristianismo.

A verdade é que, vinte séculos depois nos países de raízes supostamente cristãs, continuamos a viver numa sociedade onde com frequência a mulher não pode mover-se livremente sem medo do homem. O estupro, o abuso e a humilhação não são imaginários. Pelo contrário, constituem uma das violências mais arraigadas e que mais sofrimento gera.

O sofrimento da mulher não deveria ter um eco mais vivo e concreto nas nossas celebrações, e um lugar mais importante no nosso trabalho de conscientização social? Mas, sobretudo, não devemos estar mais próximos de todas as mulheres oprimidas para denunciar os abusos, fornecer defesa inteligente e proteção eficaz?

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