22 Mai 2024
"Nossos mundos precisam ser reconduzidos com a sabedoria da natureza. Assim, viveremos de forma criativa, com menos catástrofes. É preciso reconduzir a Vida de cada um para o interior da Vida no Planeta", escreve Rosana Batista Almeida, especialista em meio ambiente e recursos hídricos no órgão ambiental do estado da Bahia (Inema); autora do livro de poemas, intitulado Circuitos de Solaris. Experienciou vivências no Xamanismo.
Eis o artigo.
A catástrofe enfrentada pelos habitantes no Rio Grande do Sul fora estimada por pesquisadores, não podendo ser mais um capítulo a ser naturalizado, sem aprendizado concreto nem mudanças radicais de ações do governo e de toda a sociedade. Ao longo de muito tempo, as ações humanas estão relacionadas a perpetuar um sistema político-econômico insustentável. A discussão principal converge à força motriz das relações de ocupação humana no ambiente: as relações patológicas do sistema político-econômico vigente.
Após as perdas materiais, de Vida e rastro de traumas, é imprescindível uma mudança de rumo ao encontro de um efetivo planejamento ambiental dos territórios brasileiros. Os corpos hídricos romperam seus aparentes limites, mas, em tempos de outrora, ultrapassamos os limites de razoabilidade a querer nos impor diante da complexidade dos processos naturais. É urgente que a gestão ambiental, no território, tenha como ponto central as mudanças climáticas, de modo a desenvolver ações articuladas entre os entes federados e os diversos setores. Por outro lado, o planejamento territorial deve ter como base a integração entre os saberes tradicional e técnico-científico. Este Planejamento, pois, deve ser orquestrado e discutido por representantes das bacias hidrográficas, promovendo o debate com municípios e a sociedade.
As relações sociais no território são como fios infinitesimais e invisíveis – e, a qualquer momento, podem se romper. Os movimentos das águas do planeta, impulsionados por quaisquer conjuntos de fatores, regem os nossos destinos – não podemos subestimá-los. Os modelos da natureza nos devem emprestar a sabedoria, não para querer ser mais potentes que eles – o que é impossível, com nosso mundo criado - mas para tomá-lo por ponto de reflexão. Devemos fazer um exercício de relembrar as nossas origens naturais, as nossas crenças ancestrais, ligadas a terra. Podemos imergir no interior dos quatro elementos, como nos lembra o xamanismo, de forma a tentar recriar este mundo a partir da alquimia da Vida. Nossos mundos precisam ser reconduzidos com a sabedoria da natureza. Assim, viveremos de forma criativa, com menos catástrofes. É preciso reconduzir a Vida de cada um para o interior da Vida no Planeta.
As catástrofes mostram o nosso próprio esquecimento em relação à nossa origem viva. Não obstante, neste momento de reflexão e de necessária ação, vale lembrar a frase do poeta sufi, Rumi, “a ferida é o lugar onde a luz entra em você”. Parece que estamos, mais uma vez, neste ponto de dor e de possibilidade de transformação de nossa sociedade.
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As catástrofes mostram o nosso próprio esquecimento em relação à nossa origem viva. Artigo de Rosana Batista Almeida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU