12 Janeiro 2024
“A agonia do direito internacional esmagado pela lei do mais forte”.
O artigo é de Antonio Padellaro, publicado por il Fatto Quotidiano, 07-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Domenico Quirico, La Stampa, 3 de janeiro. Quando no domingo, urbi et orbi e em toda outra possível ocasião, o Papa Francisco apela à paz num mundo cegado pelo sono da razão e da humanidade, que eleva em direção ao céu montanhas de escombros e massacra multidões de civis inocentes, pode surgir uma pergunta talvez injusta e desrespeitosa: alguém, por acaso, presta atenção a isso? Palavras nobres e inspiradas são aquelas proferidas na mensagem de Ano Novo pelo Presidente Sergio Mattarella quando afirma que abrir espaço para a cultura da paz não é um “abstrato bom-mocismo”. Certo, e daí? Domenico Quirico escreveu: infelizmente, palavras que marcam com fogo "uma verdade tragicamente verificável, todos os dias em milhares de lugares onde agonizam humanidades exaustas: o direito internacional, bélico, humanitário não existe mais, é um postulado, um gesto normativo indemonstrável na realidade”. Não vamos aviltar essa “verdade” com a costumeira invocação preguiçosa e hipócrita sobre onde está a ONU e que diabos fazem os inúteis organismos internacionais e para que serve todo o dinheiro com que são mantidos? Outra verdade é que nos sentimos terrivelmente confusos.
Ontem saiu nos jornais o apelo "Não podemos ficar em silêncio" sobre as atrocidades indescritíveis cometidas pelos monstros do Hamas contra as mulheres, em 7 de outubro, durante o ataque a Israel. Horror que foi seguido pela retaliação feroz e indiscriminada do Governo Netanyahu contra os habitantes de Gaza, exterminados sem piedade. Poderemos jamais aceitar uma equivalência de horrores? Ou julgar os erros e as razões com base na lúgubre contabilidade do número de mortes de uma parte e da outra, das crueldades cometidas contra as vítimas indefesas: de um lado as mulheres, do outro as crianças? E, além disso, existe o medo indescritível que despertam as imagens da imensa frente de guerra: como quem observa de longe uma tempestade que se aproxima. Isso acontecerá também conosco?
Caro Padre Antonio Spadaro (dirijo-me a você que nestas colunas todos os domingos nos explica a mensagem do Evangelho), sabemos (queremos fortemente acreditar) que aquela do Pontífice não seja uma voz clamando no deserto, que a diplomacia vaticana trabalhe incessantemente, em silêncio, para remendar os fios rompidos de uma trégua na Ucrânia e no Oriente Médio. Mas se, apesar dos homens de boa vontade, ainda é a lei do mais forte que toma conta de todo o espaço por meio da dominação ilimitada das armas (com o dedo no gatilho naquelas definitivas), realmente a última, ilusória, esperança é que alguma luz providencial ilumine aquelas mentes, aqueles poderes estruturados no ódio e pelo ódio? Como se a responsabilidade pelo massacre permanente, pela “Terceira guerra mundial em pedaços” (Bergoglio) fosse apenas dos bandidos, dos canalhas, de um grupo de açougueiros psicopatas? Quando sabemos e vemos, nos fala Quirico, que “todos, mesmo as democracias, são forçados a descer no terreno da violência pura porque a reciprocidade é o princípio da guerra e é preciso vencer, porque a derrota não poupa ninguém." Quem nos salvará, então?
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