02 Junho 2023
Numa Igreja sinodal é importante construir pontes, redes, compreender que a Igreja é uma só, que está presente de diferentes maneiras. O XX Congresso da Caritas da América Latina e do Caribe, que se realiza em Aguas Buenas (Porto Rico), é um exemplo de que olhar para fora das nossas organizações, contemplar a realidade eclesial e social, fora dos nossos âmbitos, é essencial para construir o futuro.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Somos desafiados a ouvir os clamores, ainda mais quando eles vêm das bases, das pessoas que estão no terreno. A Igreja na América Latina e Caribe fez um grande exercício de escuta na Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, em cujo processo de escuta, apesar das dificuldades decorrentes do momento em que decorreu, em plena pandemia da COVID-19.
A Irmã Birgit Weiler recordou alguns dos clamores que se levantaram, a partir do apelo do Papa a estar atento à escuta e ao transbordamento, pedindo para "escutar a voz do Espírito que emana do santo Povo de Deus". A religiosa, que vive no Peru, citou entre os clamores o apelo à conversão pessoal, comunitária e institucional, a viver com paciência, compreensão mútua, disponibilidade para pedir perdão e perdoar, a reconhecer o protagonismo juvenil, a superar o clericalismo, a favorecer uma maior participação de todos, especialmente das mulheres, nos processos de discernimento e decisão, a ser uma Igreja em saída para as periferias.
Entre as reivindicações, mencionou também o acompanhamento das comunidades afetadas por projetos mineiros e de hidrocarbonetos, ser uma Igreja mais acolhedora e aberta, acolher os povos indígenas e afrodescendentes, as pessoas LGTBQI, as vítimas de abusos e as pessoas com deficiência. Por fim, destacou a estreita ligação entre sinodalidade e missão, que aparece no processo.
Por seu lado, Francisco Campos, do Centro de Gestão do Conhecimento do Celam, com base numa análise das estatísticas, mostrou as tendências na América Latina e no Caribe. O seu ponto de partida foi que as sociedades latino-americanas estão afetadas por dívidas sociais históricas, que conduzem a desigualdades e privações injustas, porque afetam os direitos econômicos e sociais consagrados na Doutrina Social, nas Constituições Nacionais e nos pactos internacionais, e a um futuro insustentável para uma ecologia integral. A partir daí, defendeu o direito social a um bem viver justo e a fazer parte de uma sociedade de iguais.
Campos caracterizou a fragilidade e a heterogeneidade econômica, iluminando tudo isto com números estatísticos relativos à pobreza, à insegurança alimentar, à cobertura da saúde, à informalidade laboral e ao desemprego, ao acesso à energia e à Internet. A partir daí, mostrou as barreiras estruturais ao desenvolvimento humano com integração social, chegando à conclusão de que "a dificuldade de mudança não está no modelo econômico nem no espírito da sociedade, mas no sistema político-direcional, cada vez mais distante da sociedade dos pobres e do bem comum".
XX Congresso da Caritas da América Latina e Caribe | Foto: Luis Miguel Modino
Analisando a realidade da Igreja e da Caritas, Emilce Cuda apelou à compreensão do que significa a pobreza no continente e o que a figura do Papa Francisco tem feito para universalizar o Magistério latino-americano. Em suas palavras, ela destacou a importância do discernimento social e evangélico comunitário e da organização eclesial que existe no continente, na qual todos participam. Da Laudato si' e da Fratelli tutti, destacou a nova lógica nascida da Laudato si', que leva a "mudar a lógica da produtividade em termos de rendimento e acumulação exclusiva, para uma lógica de cuidado". A partir da Fratelli tutti, apelou à solidariedade coordenada.
Nesta solidariedade, citando o Papa Francisco, disse que temos uma bússola, que é o Evangelho, uma ferramenta, que são as redes eclesiais, e uma âncora, que é a esperança. O seu secretário afirmou que "a CAL é para o cuidado da vida e do desenvolvimento", o que tem de ser feito de forma coordenada, em sinodalidade concreta, procurando construir pontes.
No 20º Congresso Latino-Americano e Caribenho da Caritas, as 8 Comunidades de Vida ocupam um lugar de destaque, sendo um espaço de escuta e análise da realidade. Os debates realizados em cada uma delas devem se tornar elementos que ajudem a estabelecer os passos a serem dados nos próximos quatro anos.
Dom Gustavo Rodríguez, arcebispo de Yucatán (México), presidiu à Eucaristia no dia em que a Igreja celebra a festa do Sumo e Eterno Sacerdote. Na sua homilia, sublinhou a importância de os sacerdotes "procurarem a santidade no ministério de santificar os seus irmãos", insistindo que esta festa é de todos, recordando que "Jesus nunca foi chamado sacerdote enquanto esteve na terra, nunca usou vestes sacerdotais, nunca oficiou no Templo", mas fez a vontade do Pai.
Lembrando que "a desobediência com orgulho foi o grande pecado original dos nossos primeiros pais", insistiu que "a obediência é a grande lição de humildade do Filho de Deus, que assim nos salva", e daí que "a obediência nos leva a construir a Igreja, o orgulho e a desobediência nos levam a destruir a Igreja e qualquer grupo humano", apelando a ser obedientes e humildes à vontade do Pai para construir a unidade e a paz.
O presidente da Caritas América Latina e Caribe lembrou que "também hoje deve ser celebrado o sacerdócio comum dos fiéis", um sacerdócio que se vive na obediência à vontade do Pai. "De nada serve dar Cristo ao altar se não nos oferecermos ao serviço dos nossos irmãos e irmãs", disse, vendo na Caritas "um espaço ideal para encontrar Cristo e servi-lo na pessoa de todos os necessitados, para aí viver o sacerdócio". Por fim, disse que a Eucaristia não é só para o padre celebrar, mas para a comunidade cristã celebrá-la, desfrutá-la e participar neste dom do Senhor que nos compromete a darmo-nos", colocando Maria como exemplo de humildade e obediência.
XX Congresso da Caritas da América Latina e Caribe | Foto: Luis Miguel Modino
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