05 Abril 2020
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do ABC e da Universidade de Bristol construiu um software que simula diferentes cenários de evolução da transmissão comunitária do Coronavírus (Covid-19). Sob determinadas condições de confinamento, de reintrodução do vírus no ambiente, imunidade ou mutação das cepas do patógeno, as análises apontam que o novo Coronavírus pode perpetuar-se, provocando surtos de epidemia recorrentes por tempo indeterminado. Isso submeteria a população a novos períodos de confinamento e a impactos econômicos ainda mais profundos até a criação e popularização de vacinas e outros tratamentos.
A informação é da Universidade Federal do ABC, publicada por Ecodebate, 03-04-2020.
Segundo a constatação dos acadêmicos, a saída da quarentena e do isolamento representa um fator decisivo, pois caso isso ocorra de forma antecipada pode reiniciar um processo agudo de contaminação. José Paulo Guedes, um dos autores do trabalho, economista e professor da UFABC conta que todos os casos simulados reforçam a eficácia da estratégia de confinamento máximo, extremo, como a melhor forma de achatar a curva de dispersão do vírus. “A eficácia mais garantida depende de uma alta porcentagem de isolamento de aproximadamente 90% das pessoas durante os surtos de contaminação”, aponta o pesquisador.
Segundo ele, como um agente contaminado é reintroduzido a cada três meses no ambiente, mesmo que tenhamos alta imunidade ao vírus, um comportamento cíclico de contágio só cessaria caso fosse estabelecido o isolamento nesse nível durante os surtos. O draft do artigo acadêmico avaliou diferentes cenários, em que o mais pessimista considera a inexistência de confinamento e isolamento: nessa condição, enfrentaríamos uma recorrência de surtos de contaminação social (crescimentos seguidos de baixas) em curtos períodos de tempo e a convivência com o Coronavírus por tempo indeterminado. “Além do fator social evidente, podemos dizer que a previsão atual de quedas drásticas nos PIBs dos países desenvolvidos, algo que pode chegar até -18%, será ainda pior em um cenário cíclico”, comenta Guedes.
A ferramenta funciona on-line e pode ser abastecida livremente por usuários para simulações, usando parâmetros como densidade populacional, imunidade, capacidade e janela de transmissão, dentre outros. A aplicação adaptou um modelo desenvolvido em 1998 que simula a disseminação do vírus da gripe, agora reprogramado com as condições conhecidas do novo “supervírus”.
Os pesquisadores desenvolveram a plataforma de maneira independente e buscam financiamento de agências de fomento para ampliar as variáveis e envolver especialistas de outras áreas. O software é aberto para uso público com objetivo de servir tanto para fins educacionais e de pesquisa, como para, de forma cautelosa, tomada de decisões.
Junto com José Paulo Guedes, assinam a pesquisa e o código do simulador Patrícia Camargo Magalhães (física, pós-doutoranda na Universidade de Bristol) e Carlos da Silva dos Santos (cientista da computação e professor da UFABC).
Leia mais
- Diante do Covid-19, mundo precisa reforçar a solidariedade, dizem luteranos
- Os desequilíbrios sociais do contágio
- ‘Chegou a hora de os ricos contribuírem’, diz professor da USP
- "Em momento de alta fragilidade, colocar pessoas com medo para negociarem sozinhas será sempre imposição", afirma Anamatra sobre MP 936
- Não usar máscara para se proteger do coronavírus é um “grande erro”, diz cientista chinês
- O dia em que Bill Gates previu a pandemia
- Colaboração frente à concorrência. Quem vencerá a corrida pela vacina contra o coronavírus?
- Integrantes de força-tarefa da PUCRS contra o coronavírus perdem bolsas Capes
- Grupos antivacina mudam foco para covid-19
- Será em “V”, “U” ou, o que seria pior, em “L”? O alfabeto da recessão, que descreve a economia do coronavírus
- Crise da pandemia revela uma pobreza de compreensão e de solidariedade
- China: as lições da pandemia e o depois
- 2020: o ano zero de uma nova sociedade
- Coronavírus (Covid-19): Saída precoce do isolamento levaria a confinamentos mais longos, diz estudo
- 92% das mães nas favelas dizem que faltará comida após um mês de isolamento, aponta pesquisa
- Até Trump recua, mas Bolsonaro segue na campanha contra isolamento
- Desrespeitar a prescrição de isolamento na pandemia do Coronavírus é crime, artigo de Débora Veneral
- Papados em confinamento: até que ponto a pandemia é comparável às crises do passado? Artigo de Massimo Faggioli
- Governo italiano esclarece regras de confinamento para igrejas
- A frustração do Papa Francisco com o coronavírus e o “confinamento litúrgico”
- Novo coronavírus (COVID-19): A experiência de um confinamento compulsório
- Distanciamento social pode evitar 89 mil mortes em 60 dias em São Paulo, diz estudo
- CNBB reforça recomendação ao episcopado brasileiro de manter o distanciamento social
- Coronavírus, distanciamento social e a companhia da fé. Artigo de Massimo Faggioli
- Caminho do Brasil até fim da quarentena promete ser árduo
- Quarentena para salvar vidas
- Renda Cidadã, para uma quarentena segura
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Coronavírus (Covid-19): Saída precoce do isolamento levaria a confinamentos mais longos, diz estudo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU