Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Primeira Leitura: At 12,1-11
Salmo: 33,2-9
Segunda Leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
Evangelho: Mt 16,13-19
O trecho do evangelho de hoje apresenta o famoso diálogo em que Jesus constitui e confirma a Pedro como princípio de união da comunidade dos discípulos. Após questionar os discípulos sobre o que o povo diz a seu respeito, Jesus pergunta o que os próprios discípulos pensam. Em nome de todos os discípulos, Pedro responde: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo (v. 16). Em outras palavras, Pedro proclama sua fé: “Tu és o Filho do Deus da vida. Tu és aquele que vai nos ensinar o caminho para a vida.” As palavras e as ações de Jesus demonstram não só que ele é poderoso, o Filho de Deus, mas também que o poder de Jesus está direcionado para a vida e não para a morte.
Quem descobre e professa que esta é a verdadeira identidade de Jesus não pode mais ficar sem se comprometer com ele. É uma descoberta que chama ao discipulado e à missão. Não basta ser discípula/o, é necessário também ser missionária/o. Não basta descobrir para si mesmo que Deus é bom e que Jesus é a salvação encarnada. É necessário também dar um passo a mais e participar do projeto de Jesus.
Em reação à profissão de fé de Pedro, Jesus lhe diz: Tu és Pedro (Kefa) e sobre esta rocha (kefa) edificarei a minha Igreja, e as portas da mansão dos mortos não prevalecerão sobre ela (v. 18). A afirmação de Jesus confirma Pedro em uma missão. Mas o que torna Pedro capaz de cumprir tal tarefa não são as palavras de Jesus, mas as palavras do próprio Pedro, isto é, aquela mesma fé que ele acaba de professar. É como se Jesus dissesse: “Muito bem, Pedro. Você concluiu que eu sou o Cristo, e agora você pode ser ‘pedra’ para eu edificar minha Igreja.”
Em hebraico e aramaico, “rocha/pedra” se diz kefa. Este termo significa uma gruta natural ou escavada nos rochedos, algo muito comum na Palestina. Estas grutas sempre serviram para abrigo de pastores e viajantes, peregrinos surpreendidos pela noite ou pela chuva encontravam nelas um local seguro de espera e pernoite. Elas eram igualmente usadas pelos pobres sem casa e sem teto e perseguidos em tempos de guerra; em algumas regiões, eram a moradia regular de famílias e grupos. Este uso é citado algumas vezes no Antigo Testamento. Apenas dois exemplos: toda a cidade fugiu: foram para os bosques ou subiram para as grutas (Jr 4,29); para habitar nos barrancos dos vales e nas cavernas da terra e das rochas (Jó 30,6). Estas rochas também eram usadas como sepultura.
Estas informações sobre a palavra kefa ajudam a repensar a teologia sobre a Igreja e sobre o papa, não só porque Jesus dá a Simão o apelido de kefa, mas também porque a própria história de Jesus é marcada pela imagem da gruta. Jesus nasceu numa kefa e foi sepultado em outra kefa. Ambas lhe foram emprestadas: a primeira por pastores; a segunda por José de Arimateia. É o destino do pobre: não tem onde nascer, nem onde cair morto! É para isso que ainda hoje servem as grutas da Palestina e do Oriente Médio.
Portanto, o kefa de Mateus não é uma rocha maciça, onde se constrói por cima um edifício. O kefa a que o evangelista se refere é uma gruta protetora, que cobre, protege e defende. Esta deve ser a vida e a missão da Igreja.
Em nossa casa, em nossa comunidade, em nossa sociedade, em todos os ambientes e situações que vivemos: é a coerência com nossa fé que nos faz “grutas/ kefa” que servem de abrigo para Jesus trazer a salvação e o Reino de seu Pai, o Deus da vida.
No versículo que conclui a leitura de hoje – Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (v. 19a) –, a imagem da porta e das chaves nos faz pensar nos grandes portões das antigas cidades. Por eles, saíam os exércitos para a guerra. Por eles, entrava o povo para encontrar proteção e abrigo em momentos de perigo e medo. Pedro tem as chaves: é ele quem vai encabeçar os que querem continuar a missão de Jesus, os que querem lutar para defender os que Deus ama, socorrer e acolher os que sofrem.
E Jesus continua: "o que porventura ligares na terra estará ligado nos céus, e o que porventura desligares na terra estará desligado nos céus” (v. 19b). A imagem de “ligar” e “desligar” pode ser compreendida no sentido de reconhecer que alguém está em comunhão com Deus ou, ao contrário, que alguém se afastou dele. Como discípulas/os e missionárias/os, todas/os nós somos chamadas/os a ter a mesma fé de Pedro e a nos empenharmos para que a morte não vença a vida, para que as forças do inferno não esmaguem e sufoquem as forças da vida.