10 Janeiro 2017
"Num momento em que cientistas recomendam reduções drásticas das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global, a adoção de fins de semana de três dias poderia ser a maneira mais fácil para tornar a nossa economia menos nociva ao meio ambiente", escreve Alex Williams, professor de sociologia na City University London, publicado na BBC Brasil, 06-01-2017.
Eis o artigo.
Imagine se, em vez de curtir alguns feriadões ao longo do ano, tivéssemos três dias de fim de semana todas as semanas.
Não se trata apenas de uma boa ideia para quem quer passar mais tempo com a família ou praticar seus hobbies, poderia ser uma maneira fácil de melhorar radicalmente o nosso ambiente e a economia.
Segundo os economistas David Rosnik e Mark Weisbrot, geralmente a redução da jornada de trabalho acarreta uma queda no consumo de energia.
Na verdade, se os Estados Unidos adotassem seguissem um horário de trabalho como o dos europeus, de 40 horas por semana, reduziriam o uso de energia e, consequentemente, das emissões de carbono em 20%.
E com apenas quatro dias de trabalho por semana também seriam reduzidas as emissões de carbono geradas pelo transporte para o trabalho.
Num momento em que cientistas recomendam reduções drásticas das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global, a adoção de fins de semana de três dias poderia ser a maneira mais fácil para tornar a nossa economia menos nociva ao meio ambiente.
E a ideia já foi implementada em 2007, no estado de Utah, nos Estados Unidos.
Lá, funcionários públicos estenderam as horas trabalhadas de segunda a quinta-feira para eliminar sextas-feiras.
Nos primeiros dez meses, foram economizados pelo menos US$ 1,8 milhão em energia elétrica.
Um número menor de dias de trabalho levou à redução das despesas com energia em escritórios, menor consumo de ar condicionado e menos tempo usando computadores e outros equipamentos.
Se forem levados em conta os gases do efeito estufa do transporte ao local de trabalho, Utah deixou de emitir mais de 12 mil toneladas de gás carbônico por ano.
Apesar destas vantagens, em 2011 o governo de Utah foi forçado a abandonar a medida após reclamações de moradores que queriam ter acesso a serviços nas sextas-feiras.
Isso indica que medidas deste tipo devem ser acompanhadas por uma mudança em nossas expectativas para sextas-feiras. O primeiro passo é pensar naquele dia como o primeiro do fim de semana, e não um dia sem trabalho.
No entanto, a experiência de Utah mostra que, se replicada em todo o país, uma semana de quatro dias poderia levar a um grande avanço no sentido de uma economia que causa menos danos ao meio ambiente.
Haveria ainda possível aumento no bem-estar físico e mental da população, pois trabalhar menos dias poderia melhorar o "equilíbrio trabalho-vida".
"Quando vemos a forma como vivemos, o estresse que as pessoas sofrem, a pressão sobre o tempo e as ausências por motivo de doença e saúde mental relacionados ao trabalho, vemos claramente que é um grande problema", disse o professor John Ashton ao jornal "The Guardian", ex-presidente da Escola de Saúde Pública no Reino Unido.
Três dias fim de semana nos proporcionariam mais tempo para atividades sociais, para conviver com filhos e idosos e para se envolver mais com a comunidade.
Em 2015, a Suécia fez várias experiências com redução nas horas de trabalho, e como resultado registraram menos ausências por questões de saúde e aumento da produtividade.
Existem razões econômicas e tecnológicas para que os governos, partidos políticos, consultores e movimentos sociais comecem a considerar a adoção de fins de semana de três dias.
Recentemente, o antropólogo David Graeber, da London School of Economics, publicou um estudo no qual argumenta que muitos dos trabalhos atuais seriam desnecessários.
Para Graeber, a previsão feita em 1930 pelo economista John Maynard Keynes, de que no fim do século 20 os seres humanos só estariam trabalhando 15 horas por semana graças aos avanços tecnológicos, deveria ter sido realizada.
Mas não foi assim.
Economistas dizem que muitos dias de trabalho são subutilizados pelos empregados. Mas os funcionários são incapazes de sair do local de trabalho por uma exigência de "presença".
Eles argumentam que em vez de trabalhar mais horas com pouca produtividade, deveríamos ter uma semana mais curta e ajudar a salvar o planeta e o nosso próprio bem-estar.
Cada vez mais, é esperada uma automação dos ambientes de trabalho. Sistemas de robótica avançada e inteligência artificial substituirão 47% dos empregos atuais nos Estados Unidos e 54% na Europa nas próximas décadas, segundo estudos recentes.
Nestas circunstâncias, onde haverá muito menos trabalho disponível, a adaptação aos fins de semana de três dias seria essencial para manter o funcionamento da economia.
Como Nick Srnícek e eu expomos em nosso livro Inventing the Future: Postcapitalism and a World Without Work ("Inventando o futuro: Pós-capitalismo e um mundo sem trabalho", em tradução livre), a automação nos oferecerá a perspectiva de uma visão muito diferente sobre o trabalho.
Uma maior automatização tornará processos de produção mais eficientes com menos energia e menos trabalho humano até, em última instância, nos libertar do trabalho.
A chave para obter os benefícios da automação sem qualquer deslocamento social drástico depende em parte do desenvolvimento de políticas para redistribuir esses benefícios.
Isto significa uma jornada de trabalho semanal reduzida graças a um fim de semana mais longo, aliado a um salário básico universal.
Nada disso vai acontecer de um dia para o outro.
Mas se você está de folga, lendo este artigo em casa, pense que não está apenas desfrutando de um dia de lazer, mas também está colaborando no combate às mudanças climáticas.
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Como fins de semana de três dias podem ajudar a salvar o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU