Por: Jonas | 22 Novembro 2012
É abundantemente conhecido que a reforma litúrgica, há cinco décadas ativada com a “Sacrosanctum Concilium”, criou dores de cabeça nos setores tradicionalistas da Igreja de Roma. Naquele momento, tratou-se de danos colaterais, bastante toleráveis, provocados pelo passo que aquela Constituição conciliar dava na forma de “dizer a missa” e na participação dos fiéis leigos.
A reportagem é de Giampaolo Petrucci, publicada no blog Bizkaiko Abadeen Foroa, 18-11-2012. A tradução é do Cepat.
Driblando amplíssimos setores do clero romano, que saudaram com alegria a reforma litúrgica, há cinco anos, o papa Ratzinger deu um duro golpe nesta reforma por meio do motu proprio “Summorum Pontificum”. E fez isto repescando do fundo da história o velho missal de celebração segundo o ritual tridentino. Um claro sinal dos novos ares políticos que correm pelo Vaticano, e um claro sinal de sua aliança com o universo tradicionalista e anticonciliar; certamente, mais ruidoso do que numericamente importante, de difícil trato e um ótimo aliado na cruzada contra a secularização.
A peregrinação e o agradecimento
Talvez, por isso, não seja um simples fato fortuito que a “peregrinação internacional das associações, grupos e movimentos pró “Summorum Pontificum”, em agradecimento a Deus e ao Papa pela missa pré-conciliar, com o título “A una com nuestro Papa” (1-3 de novembro, unacumpapanostro.wordpress.com), tenha celebrado o quinto ano do “motu proprio”, fazendo com que coincidisse com a abertura do Ano da Fé, poucos dias antes do encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização e, sobretudo, com o momento auge das cerimônias pelo 50º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II.
O encontro – que no dia 3 de novembro congregou peregrinos tradicionalistas de todo o mundo, em oração ao longo da Rua da Conciliación, terminou com a celebração presidida pelo cardeal Antonio Cañizares Llovera (prefeito da Congregação para o Culto Divino).
Um dia antes, numa entrevista concedida ao portal “Vatican Insider”, o prefeito comentou ter aceitado de boa vontade celebrar a “missa”, “porque é um modo de fazer compreender a normalidade que é o emprego do missal de 1962”. “A Congregação para a qual o Papa me chamou para ser prefeito não tem nada contra a liturgia antiga, embora a tarefa própria de nosso ministério seja (...) andar na trilha do Concílio Vaticano II”.
Os partidários do ritual pré-conciliar não são, segundo o cardeal, “apenas alguns poucos fiéis que vivem a nostalgia do latim”: é preciso, concluiu, “aprofundar o sentido da liturgia. Todos nós somos Igreja, todos nós vivemos a mesma comunhão. O papa Bento XVI explicou muito bem, por ocasião do primeiro aniversário do ‘motu proprio’, que “na Igreja nada está como sobra””.
Cordiais saudações do Papa
“Sua Santidade, o papa Bento XVI, saúda cordialmente todos os participantes, assegurando-lhes sua fervente oração”, escreveu o secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, numa mensagem aos peregrinos. “Mediante este ‘motu proprio’, o Santo Padre quis dar uma resposta aos fiéis ligados às formas litúrgicas precedentes”. Com efeito, continua, “é bom conservar as riquezas que surgiram na fé e na oração da Igreja, e dotá-las de um adequado espaço, reconhecendo plenamente o valor e a santidade da forma ordinária do ritual romano”.
Tradicionalistas, sem pelos na língua
Não há grandes surpresas nos comentários, presentes nos sítios tradicionalistas, a respeito do encontro.
Segundo o blog sobre a Tradição ‘Católica’ Cordialiter (05/11), “a peregrinação foi um êxito clamoroso”! “Até algumas semanas atrás, poucos apostavam em seu êxito. Ainda mais: um fracasso estrondoso teria sido desastroso para o movimento tradicionalista, já que os modernistas teriam uma ocasião imperdoável para nos pintar como aqueles que apenas fazem barulho. No entanto, no centro da cristandade, milhares de valentes leões se apresentaram dispostos a combater sem trégua a batalha da fé”.
“A partir de agora, a “Linha Maginot” modernista se enfraqueceu, e para as antigas e prensadas tropas progressistas não fica outra saída a não ser golpear às cegas, em sua ruinosa retirada”, afirma-se no blog.
E mais ainda: “as esperanças que ontem pareciam sonhos malucos, hoje são realidade. O que nos espera no futuro? Algum dia a Missa tridentina será celebrada no altar de Bernini?” “A batalha não é apenas na frente litúrgica, mas em todas as frentes da vida cristã. É preciso se encarregar da ‘revolução cultural’ que desfigurou a imagem do catolicismo”.
Damos graças a Deus “por estes primeiros cinco anos de renascimento espiritual, propiciado pelo motu proprio “Summorum Pontificum”, pode ser lido no sítio Messainlatino.it (04/11), que, em seguida, questiona: “nos muitos momentos de desalento, quando nos sentimos objetivamente sós, mas não estamos, em nossas santas batalhas contra as ondas do tsunami das banalidades litúrgicas, sempre temos que nos fazer esta pergunta: “Como estávamos antes do motu proprio “Summorum Pontificum”?
“A peregrinação de ontem, que permitiu que todos nós rezássemos juntos na Basílica Papal de São Pedro, foi uma primeira resposta para as angustiantes interrogações que se somam em nosso coração, e que gritam “a una com nuestro Papa”. Ao mesmo tempo, é o último estímulo para continuar em nossa diária “Via crucis”, em nome e em fidelidade ao Magistério imutável da Igreja”.
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Cinco anos após a “Summorum Pontificum”, a celebração da “normalidade” tridentina no Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU