Pode-se observar uma queda nos números de alunos matriculados na Região Metropolitana de Porto Alegre, totalizando 24,3 mil a menos de 2019 para 2020. Isso pode apontar para o crescente desinteresse por parte dos jovens em estudar, assim como resultado das dificuldades de acesso ao ensino devido às desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira, que se evidenciaram com a pandemia da Covid-19 na realidade da população.
Os dados fazem parte do estudo “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” desenvolvido pelo Observatório do Vale do Rio dos Sinos e o Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas.
O quadro tem se tornado ainda mais grave na pandemia e, embora os números tenham melhorado, ainda são preocupantes. “Com a retomada das atividades econômicas no terceiro e quarto trimestres de 2020, uma parcela dos jovens que estava em busca de uma colocação conseguiu se inserir novamente no mercado de trabalho, fazendo com que a taxa recuasse, mas ainda em um patamar elevado. O que demonstra que esses jovens necessitam de políticas públicas direcionadas aos seus problemas”, explica Denise Guichard Freire, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em entrevista para a IHU On-Line.
E, para Denise, políticas têm de ser efetivas para assegurar esse público na escola. “O Bolsa Família atualmente auxilia as famílias com jovens até 17 anos, mas infelizmente nem todos conseguem concluir os seus estudos dentro do prazo”, constata. É por isso que defende “bolsas de estudo, de auxílio financeiro para as famílias ao longo do ensino médio, para que os jovens não abandonem precocemente os estudos para se inserirem no mercado de trabalho em ocupações informais, precárias, de baixa remuneração e alta rotatividade”.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do primeiro trimestre de 2021, a Região Metropolitana de Porto Alegre possui 158,8 mil jovens entre 15 e 29 anos que não estudam e nem trabalham. Em 2020, no primeiro trimestre, portanto, um ano atrás, havia 197,2 mil jovens nessa condição. A diminuição deve-se ao aumento de 78,5% daqueles que querem trabalhar, mas não acham emprego.
O perfil dos jovens é composto por 54,4% mulheres e 45,6% homens; 60,2% são filhos; 15,4% são chefes de família e 9,8% são cônjuge ou companheiro(a). A faixa etária com maior número de jovens que não estudam e nem trabalham é de 23 anos, concentrando 19,9 mil.
A entrevistada do IHU chamou atenção para extensão de auxílio financeiro para os jovens conseguirem finalizar ao menos o ensino médio. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, os que deveriam estar no ensino médio representam mais de 10%, sendo 2 mil jovens de 16 e 17 e 15,5 mil com 18 anos que não estudam e nem trabalham.
Os dados completos dos jovens nem-nem podem ser acessados aqui.
Pode-se observar uma queda nos números de alunos matriculados na Região Metropolitana de Porto Alegre, totalizando 24,3 mil a menos de 2019 para 2020. Isso pode apontar para o crescente desinteresse por parte dos jovens em estudar, assim como para as dificuldades de acesso ao ensino devido às desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira, e para o impacto da pandemia da Covid-19 na vida e na realidade da população.
A queda no ensino regular e na educação profissional foi pequena, de 1,3% e 1,2%, respectivamente. Entretanto, os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP apontam para uma queda de 6,2% na Educação para Jovens e Adultos - EJA. Antes da pandemia, em 2019, eram 58,1 mil alunos matriculados no EJA na Região Metropolitana de Porto Alegre. No primeiro ano da Covid-19, em 2020, o número caiu para 54,5 mil.
Para além do abandono da escola, é importante atentar-se para o desalento, uma categoria definida pelo IBGE, em que desalentados são aqueles que desistiram de procurar trabalho. Na Região Metropolitana de Porto Alegre antes da pandemia, eram 19 mil pessoas desalentadas. Com os dados do quarto trimestre de 2020, o número disparou para 42,2 mil pessoas desalentadas.
As mulheres foram a maioria das desalentadas, representando 60,7% em 2020. No primeiro ano da pandemia, houve um crescimento de 170,1% de mulheres em relação ao ano de 2019. No caso específico dos jovens, o aumento foi de 123%, quando comparado com o mesmo período.
Na esteira da precariedade do mercado de trabalho, os dados da PNAD indicam que durante o primeiro ano da pandemia aumentou consideravelmente o número de pessoas com ensino superior incompleto e completo como trabalhadora doméstica. Inversamente, diminuiu o número de trabalhadores analfabetos e com ensino fundamental incompleto e completo.
Nesse sentido, houve queda no número de trabalhadores informais durante a pandemia, que atualmente é de 531,8 mil na Região Metropolitana de Porto Alegre, embora a presença dos trabalhadores com mais escolaridade tenha aumentado.
O trabalho doméstico é desempenhado em quase sua totalidade por mulheres. Na Região Metropolitana de Porto Alegre não é diferente, elas representavam 90,2%, participação percentual que aumentou durante a pandemia. Os jovens representavam 32,4% dos trabalhadores domésticos no final de 2020, participação que se manteve praticamente a mesma do primeiro trimestre do ano analisado.
Os dados apresentados fazem parte do estudo “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” desenvolvido pelo Observatório do Vale do Rio dos Sinos e o Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. Todos os artigos produzidos podem ser acessados na página especial da pesquisa, que tem o objetivo de acompanhar os dados do trabalho e dos trabalhadores durante a pandemia do novo coronavírus.