05 Novembro 2025
O encontro das equipes sinodais em Roma deixou Mara Klein profundamente impressionada. A integrante da presidência do Comitê Sinodal fala, em entrevista ao katholisch.de, sobre a forma da sinodalidade na Alemanha e sobre a resposta do Papa Leão XIV à questão das mulheres.
Como delegada do grupo dos menores de 30 anos, Mara Klein participou do Caminho Sinodal. No Comitê Sinodal, ela faz parte da presidência – e viajou para Roma para o encontro das equipes sinodais durante o Ano Santo. Na entrevista ao katholisch.de, Klein fala sobre as diferenças entre o Sínodo Mundial e o Caminho Sinodal alemão, bem como sobre ideias para novos formatos.
A entrevista é de Christoph Brüwer, publicada por katolisch.de, 04-11-2025.
Eis a entrevista.
Que impressões você levou do encontro das equipes sinodais em Roma, Mara Klein?
O que me impressionou e tocou profundamente foi a atmosfera: essa imensa multidão de pessoas unidas pelo desejo da sinodalidade. A sensação de ter um propósito comum, de caminhar juntas e de escutar umas às outras foi avassaladora. E, do meu ponto de vista, isso representa um outro nível de escuta em comparação com a sinodalidade na Alemanha.
Em que sentido?
Há uma diferença entre discutir no Caminho Sinodal com bispos, dos quais depende se algo concreto pode mudar para as minorias, e ouvir irmãos e irmãs da Igreja mundial falarem sobre os debates em seus contextos. Isso se parece mais com um espaço livre de poder — sem querer avaliar isso como algo positivo ou negativo.
Você faz parte da presidência do Comitê Sinodal. Em Roma, falaram muito com você sobre o Caminho Sinodal da Igreja na Alemanha?
Praticamente não. Nas conversas, eu contei sobre o caminho que percorremos e compartilhei minhas próprias experiências no Caminho Sinodal da Alemanha. Quando surgiam perguntas, elas se referiam mais à minha posição como minoria. Especialmente em conversas com mulheres que também falaram sobre resistências vindas principalmente do clero, o tema era frequentemente: como você, como pessoa trans*, conseguiu suportar isso?
O que você pôde responder?
Que é difícil e cansativo, mas que na Alemanha temos uma posição privilegiada, especialmente no que diz respeito à abertura. Faz parte da forma específica de sinodalidade alemã o fato de ela permitir que pessoas trans* falem.
Muitos que rejeitam reformas profundas na Igreja Católica dizem que os temas tratados pelo Caminho Sinodal alemão não são os mesmos da Igreja mundial. Você também percebeu isso em Roma?
Não, pelo contrário. Justamente a questão dos direitos dos leigos e das mulheres foi levantada no painel com o papa Leão XIV. O papa acolheu a pergunta e tentou respondê-la. O tema da sexualidade, eu percebi menos. Mas ouvi de outros membros da nossa delegação que falar sobre o abuso sexual como ponto de partida do Caminho Sinodal alemão teve um efeito libertador, e que os interlocutores também falaram sobre suas próprias experiências em seus contextos.
Você mencionou a resposta do papa Leão XIV à questão dos cargos ministeriais para as mulheres. A resposta dele a decepcionou?
Não exatamente, porque eu não esperava algo mais aberto ou progressista. Na resposta, ele não me pareceu muito eloquente — como se estivesse em dúvida. Tive a impressão de que ele reconhece que as pessoas precisam de uma resposta para essa questão, mas não pôde dizer nada realmente encorajador.
Os temas da justiça de gênero e da diversidade são importantes para você também por razões biográficas. Isso foi um tema nas conversas em Roma — o fato de você se apresentar como pessoa trans* e não binária?
Mais ou menos. Eu não me declarei em todas as rodas de conversa, nem tinha um rótulo na testa. Isso surgiu principalmente em conversas paralelas ou quando falávamos sobre nossas próprias experiências de sinodalidade. Com frequência, o assunto era a visibilidade.
Você teve alguma experiência negativa, talvez por haver sinodais de outros contextos incomodados com sua presença?
Não, não tive. Pelo contrário, recebi basicamente reações positivas, de que é bom termos essa visibilidade. Não se pode esquecer que muitas pessoas ali estavam realmente interessadas em movimento e diálogo. O encontro foi fortemente marcado pelo espírito do “caminhar juntos”. Imagino que, assim como no nosso Comitê Sinodal, quem não consegue lidar com um diálogo real provavelmente nem estava lá.
Você mencionou o Comitê Sinodal. Dentro de menos de um mês haverá outra reunião do grupo, que também discutirá o estatuto de um órgão sinodal permanente em nível nacional. Você trouxe impulso de Roma para isso?
Sim, muito! Já fazemos muitas coisas no espírito da sinodalidade tal como ela é pensada em Roma. E a criação de uma sinodalidade em nível nacional pode continuar isso de uma boa maneira — e corresponde ao que foi discutido em Roma. Diante da resistência que sentimos de Roma nos últimos anos, eu quase esperava que os responsáveis tivessem uma concepção totalmente diferente de sinodalidade. Mas não é o caso. E isso, sem dúvida, me fortalece.
Você também trouxe ideias sobre o que poderia mudar no Caminho Sinodal alemão?
Sim. Toda a equipe considerou os formatos vivenciados em Roma muito positivos. A escuta ganhou mais espaço em muitos momentos. Tivemos formatos semelhantes no Caminho Sinodal, mas eu consigo imaginar que isso ainda possa ser mais enfatizado.
Como seria um formato assim?
Em Roma, praticamos a “conversa no espírito”, ou seja, conversas no Espírito Santo, por assim dizer. Sentávamos em grupos moderados, onde cada pessoa tinha dois minutos para contar quais experiências teve com a sinodalidade em seu próprio contexto e quais desafios enfrentou. Nessas rodas, trata-se de ouvir com muita atenção. E isso muda o ponto de partida das conversas seguintes. Não funciona para uma assembleia inteira, mas para grupos pequenos é excelente. Tivemos formatos parecidos no Caminho Sinodal – mas certamente ainda há espaço para melhorar.
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