23 Abril 2025
A última homilia do Papa Francisco foi a homilia que ele escreveu para o Domingo de Páscoa. Por causa da voz cansada, o Papa não conseguiu lê-la, mas confiou a leitura ao Cardeal Comastri. É uma homilia densa e breve, que significativamente se abre com o nome de Maria Madalena e se encerra com uma citação da teóloga e poeta Adriana Zarri.
O comentário Anita Prati, publicado em 21-04-2025.
A última homilia do Papa Francisco foi a homilia que ele escreveu para o Domingo de Páscoa. Por causa da voz cansada, o Papa não conseguiu lê-la, mas confiou a leitura ao Cardeal Comastri. É uma homilia densa e breve, que significativamente se abre com o nome de Maria Madalena e se encerra com uma citação da teóloga e poeta Adriana Zarri.
Maria, depois de ver a pedra removida do túmulo, corre para contar a Pedro e João; e Pedro e João, por sua vez, imediatamente começam a correr em direção ao local do sepultamento de Jesus. Essa corrida é, para o Papa Francisco, muito mais do que um simples fato narrativo:
A corrida de Maria Madalena, Pedro e João fala do desejo, do impulso do coração, da atitude interior daqueles que partem em busca de Jesus. Ele, de fato, ressuscitou dos mortos e, portanto, não está mais no túmulo. Devemos procurá-lo em outro lugar.
Francisco nos faz este convite urgente e peremptório, e esta responsabilidade: devemos buscar o Senhor da Vida em outro lugar. Não nos túmulos, nos museus de tempos passados, nas histórias embalsamadas, mas na vida, nos rostos e nas histórias vivas dos irmãos e irmãs que caminham conosco pelas ruas deste mundo. Devemos procurá-lo em outro lugar, e sempre procurá-lo:
“Procurai-O sempre. Porque, se Ele ressuscitou dos mortos, então está presente em toda a parte, habita entre nós, esconde-se e revela-se ainda hoje nas irmãs e nos irmãos que encontramos ao longo do caminho, nas situações mais anónimas e imprevisíveis da nossa vida. Ele está vivo e permanece sempre conosco, derramando as lágrimas dos que sofrem e multiplicando a beleza da vida nos pequenos gestos de amor de cada um de nós.”
Nessa busca, nessa busca constante, está a raiz da nossa fé pascal: uma fé que não se apoia na estática do “sempre foi feito assim” e não se acomoda na tranquilidade das garantias religiosas, mas ousa a coragem inquieta da busca.
“Como Maria Madalena, todos os dias podemos experimentar a perda do Senhor, mas todos os dias podemos correr para procurá-lo novamente, sabendo com certeza que Ele pode ser encontrado e nos ilumina com a luz da sua ressurreição.”
Os passos rápidos de Maria Madalena, Pedro e João dão substância à esperança: não uma simples ideia, uma ilusão piedosa, mas um movimento vital que dá substância à nossa jornada com significado.
Não podemos estacionar nossos corações nas ilusões deste mundo nem encerrá-los na tristeza; precisamos correr, cheios de alegria. Corramos ao encontro de Jesus, redescubramos a graça inestimável de sermos seus amigos. Deixemos que sua Palavra de vida e de verdade ilumine nosso caminho.
A homilia termina com uma oração de Adriana Zarri: “Raspa, ó Deus, o pó triste do hábito, do cansaço e do desencanto; dá-nos a alegria de acordar, todas as manhãs, com os olhos maravilhados ao ver as cores novas dessa manhã, única e diferente de todas as outras.”
Esta manhã, os olhos do Papa Francisco acolheram com espanto e gratidão uma manhã verdadeiramente nova.
Eu estava procurando por
Eu procurava o silêncio
dos bosques e das montanhas,
dos olhares profundos,
do vento no mar.
Eu estava procurando por passos
que levassem para casa,
que traçassem caminhos,
que caminhassem juntos.
Procurei luz
para iluminar a noite –
chamas bruxuleantes,
velas bruxuleantes.
Eu estava procurando uma água
que matasse a sede,
refrescasse a pele,
inundasse os pensamentos.
Eu procurava pão
para quebrar o trabalho,
para sustentar as preocupações,
para acariciar a dor.
Eu estava procurando vinho
para dançar a festa,
para cantar a vida,
para liberar alegria.
Procurei palavras
para colocar silenciosamente
nas dobras do meu coração —
palavras para ouvir,
palavras para falar,
palavras para tecer
com laços de amor.
Eu estava procurando –
sempre estive procurando –
e Você, todas as vezes,
sempre me encontrou (Anita Prati).