19 Novembro 2024
“No Dia da Consciência Negra, reafirmamos que a valorização da diversidade é um caminho sem volta para a construção de um Brasil mais forte, mais unido e mais humano. É tempo de escutar as vozes negras, de aprender com elas e de marcharmos juntos por um país onde a igualdade seja mais do que uma promessa, mas uma realidade”, escreve Roberto Mistrorigo Barbosa, membro das Comunidades de Vida Cristã – CVX e da Comissão Nacional de Formação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB.
Eis o artigo.
O Dia da Consciência Negra é muito mais do que uma data no calendário. É um convite à reflexão sobre o papel fundamental dos negros na formação do Brasil e sobre a dívida histórica que ainda persiste. É uma oportunidade para reconhecermos que a luta contra o racismo não é apenas uma bandeira de um povo, mas de toda a sociedade que almeja justiça, igualdade e respeito.
A presença negra no Brasil é um valor inestimável. Não apenas porque os negros foram a base da mão de obra que construiu nosso país sob a exploração e o martírio, mas porque, mesmo diante das adversidades, trouxeram consigo uma riqueza cultural inigualável. Suas tradições, ritmos, culinária, espiritualidade e força de resistência são elementos que moldaram o Brasil como o conhecemos. Essa contribuição vai além de números ou estatísticas: está cravada na alma da nossa identidade nacional.
Somos uma nação marcada pela miscigenação, pela mistura de raças e culturas. Esse caldeirão de influências é um dos maiores símbolos da nossa diversidade. No entanto, para que essa riqueza cultural seja de fato celebrada, é imprescindível que avancemos na valorização da negritude em todas as esferas da sociedade. Isso significa reconhecer que, apesar de sua enorme contribuição, os negros ainda são os que mais sofrem com desigualdade, preconceito e exclusão social no Brasil.
A reparação histórica não é apenas uma questão moral; é uma necessidade para construir um país mais justo. Reparar não é apenas olhar para o passado com mea-culpa, mas criar condições para um futuro onde todos, independentemente de sua cor de pele, tenham acesso igualitário a oportunidades. Políticas públicas de inclusão, como cotas em universidades e no mercado de trabalho, são passos importantes, mas ainda insuficientes diante do tamanho do desafio.
É preciso mais. É necessário que a história dos povos negros e sua luta por liberdade e dignidade sejam contadas de maneira honesta em nossas escolas. É essencial que a presença negra nos espaços de poder seja ampliada e que a representatividade seja uma prioridade. Mais do que nunca, é vital que a luta por igualdade não seja apenas um ideal distante, mas uma prática cotidiana, assumida por todos nós.
No Dia da Consciência Negra, reafirmamos que a valorização da diversidade é um caminho sem volta para a construção de um Brasil mais forte, mais unido e mais humano. É tempo de escutar as vozes negras, de aprender com elas e de marcharmos juntos por um país onde a igualdade seja mais do que uma promessa, mas uma realidade.
Que essa data nos inspire a agir, a lutar e a transformar. Porque a consciência negra é, em última instância, a consciência de um Brasil que não pode mais fechar os olhos para sua própria história — e que precisa urgentemente reescrevê-la com justiça e dignidade para todos.
Leia mais
- “Não é possível pensar um projeto de Brasil sem pensar na importância das mulheres negras”. Entrevista com Djamila Ribeiro
- A cada 24 horas, 7 pessoas negras são mortas pela polícia do Brasil
- Mulheres negras no topo, como deve ser
- Quase 90% dos mortos por policiais em 2023 eram negros, diz estudo
- No mês da consciência negra, segunda temporada de podcast traz casos de prisão injusta por reconhecimento facial
- Raio-x carcerário: superlotação, prisão ilegal e morosidade
- “Pobres e negros são as principais vítimas do sistema prisional”, afirma estudioso
- Prisões brasileiras. O calabouço da modernidade. Revista IHU On-Line, Nº. 471
- A herança colonial e escravocrata constitui o racismo no Brasil. Entrevista especial com Berenice Bento
- “Questão do racismo tem a ver com a sobrevivência do capitalismo”. Entrevista com Diva Moreira
- A cada 100 mortos pela polícia em 2022, 65 eram negros, mostra estudo
- Há racismo estrutural, SIM!
- Deus não é racista
- Proibir PM de dar golpe de enforcamento sem discutir racismo não reduz violência, afirmam especialistas
- Racismo é sempre uma nova roupagem para práticas do período da colonização. Entrevista Especial com Wanderson Flor do Nascimento
- A pauta agora (e de muito tempo) é o racismo
- Racismo no Brasil: todo mundo sabe que existe, mas ninguém acha que é racista, diz Djamila Ribeiro
- Da senzala às periferias: o racismo institucionalizado nas forças policiais. Entrevista especial com Almir Felitte
- A violência policial como dispositivo da ordem política. Artigo de Donatella Di Cesare
- Negro, jovem e tatuado: os principais fatores de suspeita policial na Região Metropolitana
- Orçamento, necropolítica e racismo estrutural