06 Junho 2022
A visita do metropolita ortodoxo Hilarion Volokolamsk, número dois da Igreja Ortodoxa Russa, braço direito do Patriarca Kirill, ao cardeal Péter Erdő, arcebispo metropolitano de Esztergom-Budapeste, no dia 2 de junho, é para os especialistas e estudiosos das relações entre católicos e ortodoxos um evento muito importante na atual crise que se iniciou com a agressão da Rússia contra a Ucrânia.
A reportagem é de Il Sismografo, 03-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa crise inclui a contenção das relações entre o papado de Roma e o Patriarcado de Moscou, que recentemente cancelaram – a pedido do pontífice – um segundo encontro histórico em Jerusalém depois do primeiro em Havana (12 de fevereiro de 2016).
Depois da videoconferência entre Francisco e Kirill (16 de março) e depois das críticas do patriarcado ao papa no dia 4 de maio, que na entrevista ao jornal Corriere della Sera (3 de maio) havia contado que tinha dito ao patriarca que “não somos clérigos de Estado, não podemos utilizar a linguagem da política, mas a de Jesus”, as relações entre os dois se esfriaram fortemente.
Desde então, entre Francisco e Kirill, tudo congelou. As relações bilaterais são mínimas e se mantêm vivas graças ao compromisso do cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, organismo que vive as suas últimas horas de vida, já que no domingo se tornará dicastério da Santa Sé. Provavelmente o seu presidente, o cardeal Koch, se tornará seu prefeito.
A presença, experiência e personalidade desse purpurado suíço são a melhor garantia para o papel desse dicastério nesta crise que não é apenas militar e política, econômica e social, mas também religiosa e eclesiástica.
Por que Hilarion foi em peregrinação, por assim dizer, à sede episcopal liderada pelo cardeal Péter Erdő na Hungria?
Para entregar mensagens à Santa Sé, ao papa, às Conferências Episcopais europeias, todos interlocutores que o purpurado húngaro conhece há muitos anos e junto aos quais tem um grande prestígio e autoridade.
Muito provavelmente, essas mensagens dizem respeito sobretudo a um possível encontro entre os dois líderes, Kirill e Francisco, em Nur-Sultan, capital do Cazaquistão, no contexto do VII Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais (14 a 15 de setembro de 2022). Ambos confirmaram oficialmente que irão ao encontro.
Portanto, pelo que podemos entender a partir daquilo que se diz em ambientes diplomáticos eclesiásticos, na realidade o Patriarcado de Moscou confiou a Hilarion, presidente do Departamento para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou (DECR), a missão de retomar a preparação do encontro que estava em andamento quando foi suspensa no dia 3 de março, no contexto das graves consequências da guerra desencadeada por Putin, que se recusa a falar pessoalmente com o Papa Francisco desde 24 de fevereiro passado.
Os mesmos analistas que sublinham a importância desse possível segundo encontro entre Francisco e Kirill, porém, acrescentam que tal reunião não é necessariamente de utilidade decisiva para acelerar o fim da guerra, que tende a gangrenar com consequências humanitárias devastadoras.
Para muitos deles, a gravidade da crise já reduziu significativamente a influência das confissões religiosas e, por enquanto, em um contexto geopolítico mundial, elas não parecem relevantes. Tanto entre fiéis católicos quanto entre fiéis ortodoxos, há uma espécie de curto-circuito com aquilo que as respectivas hierarquias costumam dizer.
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Metropolita Hilarion visita cardeal húngaro Péter Erdő: uma importante operação político-eclesiástica? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU