01 Dezembro 2021
Michael G. Lawler e Todd A. Salzman são os autores do mais novo número dos Cadernos Teologia Pública. Em sua 156ª edição, os Cadernos contemplam o ensaio “O ensino moral da Igreja no pontificado do Papa Francisco: avanços, desafios e perspectivas”. Segundo Lawler e Salzman, “Papa Francisco tem introduzido novos paradigmas eclesiais, ético-metodológicos e antropológicos para reformar a Igreja. Neste ensaio, exploramos os avanços, investigamos os vários desafios que ameaçam enfraquecê-los e discutimos as diferentes perspectivas teológicas necessárias a fim de nos engajar em sinodalidade e levar adiante a Igreja peregrina através do diálogo da caridade”.
Uma história da vida de São Francisco de Assis ilumina a vida e o papado do Papa Francisco, de Roma. Certo dia, quando São Francisco rezava, Deus lhe perguntou: “Francisco, não vês que minha casa está destruída? Vai, portanto, e restaura-a para mim”. Assim começou a caminhada de São Francisco, de reconstruir moral e espiritualmente a Igreja através da palavra e ação. O Papa Francisco parece ter modelado o seu papado, implícita e explicitamente, a partir de um chamado semelhante a reconstruir a Igreja de Deus. Talvez o exemplo mais explícito disso é a sua tentativa de resolver a crise de abuso sexual clerical e pôr em prática reformas que promovem transparência e responsabilização. Implicitamente, vêm ocorrendo reformas fundamentais em teologia moral com implicações morais e pastorais profundas, embora não plenamente realizadas ainda.
Imagem: Capa dos Cadernos Teologia Pública, edição 156, de Michael G. Lawler e Todd A. Salzman.
Na exortação apostólica Amoris Laetitia (doravante AL), o Papa Francisco introduziu aquilo que o cardeal Parolin refere como uma “mudança de paradigma”, que convida a um “novo espírito”, um “novo [método]” na ética teológica católica. O texto clássico de Thomas Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, explica a natureza dos paradigmas e o papel e a função que eles têm nas revoluções científicas [1]. Kuhn insiste que a realidade é mais complexa do que aquilo que os paradigmas conseguem explicar; assim também o é, insistimos nós, a teologia católica. As revoluções ocorrem em um período de crise, tal como o que a Igreja experimenta hoje. A rejeição dos leigos e o questionamento episcopal de alguns dos ensinamentos católicos indicam que o presente paradigma eclesial não consegue mais explicar adequadamente as inconsistências entre o paradigma e a realidade. Um novo paradigma, com conceitos, estruturas e métodos reconstruídos, o substitui. O Papa Francisco tem introduzido novos paradigmas eclesiais, ético-metodológicos e antropológicos para reformar a Igreja. Estes novos paradigmas têm implicações fundantes para a reforma institucional e para a conversão de perspectivas teológicas.
O artigo é a conferência dos autores para o XX Simpósio Internacional IHU – Cristianismo, Sociedade, Teologia. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação.
O simpósio teve como propósito debater transdisciplinarmente o sentido, os desafios e as possibilidades para o cristianismo, a Igreja, a teologia e fé cristã em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição, um mundo (pós)pandêmico.
Para aprofundar a reflexão e os debates sobre o tema, conferências online foram ministradas por especialistas nacionais e estrangeiros. Para ampliar a reflexão e os debates sobre o tema do Simpósio, houve a possibilidade de comunicação de pesquisas científicas por pesquisadores e pesquisadoras nas áreas de Ciências Sociais e Políticas, Ecologia e Gestão ambiental, Relações Internacionais, Antropologia, Direito/Direito Internacional, Filosofia, Ciências da Religião, Teologia e outras áreas afins.
Michael G. Lawler é graduado em Matemática pela Universidade de Dublin e em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG, em Roma. É Ph.D em Teologia Sistemática pelo Instituto Aquinas de Teologia, em Saint Louis.
Todd Salzman é doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica. Foi professor na University San Diego. Atualmente leciona na Creighton University. Foi homenageado pelas Nações Unidas e várias organizações não-governamentais (ONGs), em Nova York, em 2001. Autor de diversos livros e artigos científicos, citamos The Sexual Person: Toward a Renewed Catholic Anthropology (Georgetown University Press, 2008).
[1] KUHN, Thomas. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1971. [KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz. Vianna Boeira e Nelson Boeira. 12. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.]
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O ensino moral da Igreja no pontificado do Papa Francisco: avanços, desafios e perspectivas. Artigo de Todd A. Salzman e Michael G. Lawler - Instituto Humanitas Unisinos - IHU