É preciso focar no combate à pandemia e acabar com a farsa do Kit Covid. Artigo de Luiz Carlos Dias

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06 Mai 2021

 

"Nós não estamos mais no século passado, nós não podemos mais aceitar medicina baseada em achismos, crenças, opiniões pessoais ou esperança de que vá dar certo. A crença não pode substituir a ciência e a verdade", escreve Luiz Carlos Dias, professor Titular do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Força-Tarefa da UNICAMP no combate à Covid-19, em artigo publicado por Jornal da Unicamp e reproduzido por EcoDebate, 05-05-2021.

 

Eis o artigo.

 

No país que distribui kit Covid para tratamento precoce ou imediato, contendo ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e agora defende até o embuste nitazoxanida, onde sobra um tsunami de informações falsas e ignorância estrutural, mas falta vacina, falta kit intubação, falta oxigênio, falta teste de diagnóstico e falta vontade política para combater a pandemia, o vírus encontrou o cenário ideal para se espalhar.

Surpreendentemente, na contramão de todos os países, o Brasil adota os medicamentos do kit Covid no combate à Covid-19, apesar de todas as evidências científicas contrárias que mostram sua ineficácia e seus efeitos tóxicos. Por aqui, este famigerado kit é defendido por políticos, jornalistas e líderes evangélicos que não entendem nada de ciência, que se juntaram ao exército da pseudociência, que conta com alguns pseudocientistas e médicos. E a prática estimula a automedicação e o consumo excessivo de medicamentos sem supervisão médica, cujas combinações podem trazer enormes prejuízos à saúde devido às interações medicamentosas e até matar.

Diplomas, ética, dignidade moral, responsabilidade cívica e social, parece que está tudo sendo jogado no lixo. Mas no Brasil de hoje, tudo é permitido, até defesa do charlatanismo nas redes sociais e em programas de rádio e TV. São atos políticos com fins eleitorais disfarçados de atos médicos e alguns programas jornalísticos cheios de estratégias de manipulação e proliferação de informações falsas.

Ah, mas dizem os negacionistas: há uma conspiração internacional entre a OMS, as grandes farmacêuticas mundiais produtoras de vacinas, as melhores revistas científicas internacionais, os cientistas, muitos deles professores das universidades públicas brasileiras, esses comunistas, esquerdistas e esquerdopatas, que defendem pautas sociais, coletivas e humanistas, além das associações médicas, os grandes hospitais, os governos de esquerda, de centro e até de direita do mundo inteiro. Segundo esses fundamentalistas, todos viraram comunistas e se uniram em uma grande conspiração mundial para prejudicar quem está governando o Brasil. É assustador.

Fato é que nenhuma autoridade de saúde pública séria e respeitada, recomenda o usooff label” dos medicamentos do kit Covid. A OMS (aqui e aqui), Anvisa, FDA (aqui e aqui), a EMA (aqui e aqui) e as agências regulatórias do mundo inteiro as principais associações médicas e científicas mundiais, pelo contrário, todas alertam para complicações renais, hepáticas e cardíacas e contraindicam o uso dos medicamentos do kit Covid em qualquer estágio da doença.

A Associação Médica Brasileira, as dezenas de sociedades científicas e associações federadas e a Sociedade Brasileira de Infectologia, defendem que esses medicamentos sem eficácia contra Covid-19 sejam banidos.

O YouTube comunicou que vai tirar vídeos de sua plataforma contendo desinformação e recomendação de uso do kit covid, removendo conteúdos que contenham as palavras-chave: ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, além de mentiras sobre eficácia do falso tratamento precoce.

Na França, onde a farsa da cloroquina surgiu, eles zombam do Brasil. No discurso durante a Assembleia Nacional da França em que anunciou a suspensão de voos entre França e Brasil, o primeiro-ministro francês levou o Parlamento às gargalhadas ao mencionar que o Brasil usa cloroquina para tratar a Covid-19. Na França, o uso das cloroquinas é proibido desde meados de 2020, enquanto no Brasil, tem médicos usando até nebulização com cloroquina, prática que está levando a mortes (Em Manaus médicos ignoram protocolos para ministrar nebulização de cloroquina em maternidade e Entidades de Santa Catarina se manifestam sobre nebulização com hidroxicloroquina).

É surreal, é lamentável e além de pária internacional, o Brasil virou um grave risco sanitário para o mundo, vários países proíbem voos do Brasil e nós viramos piada e chacota internacional porque só aqui se distribui kit Covid, que traz prejuízos para a saúde pública e aumenta o risco de óbitos.

Cada vez mais aumenta o número de pessoas com casos graves de Covid chegando nos hospitais e após usarem os medicamentos do kit precoce, que podem esconder os efeitos da doença, podem retardar os sintomas mais graves da Covid e quando a pessoa começa a sentir os efeitos, pode ser tarde. Nas cidades brasileiras que adotaram o kit Covid, o número de infectados e óbitos só aumenta.

Uma meta-análise publicada recentemente na revista científica Nature, uma das mais respeitadas no mundo, mostra aumento de mortes relacionado ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina e mostra que não há qualquer benefício no uso destes medicamentos. Esta meta-análise usou publicações nas melhores revistas internacionais, dados do estudo Recovery da OMS e estudos clínicos registrados no clinicaltrials.gov.

Não custa alertar a população que a ivermectina pode levar a problemas neurológicos, danos no fígado, hepatite medicamentosa podendo levar a necessidade de transplantes de fígado e é contraindicada para mulheres grávidas, pois pode levar à má-formação congênita. Ivermectina contra a Covid não é nem placebo, é um risco, dependendo da dose que você está usando e da combinação com outros medicamentos. Eu já me manifestei sobre uma meta-análise fraudulenta da ivermectina.

Com o uso indiscriminado do antibiótico azitromicina, sem as pessoas terem infecção bacteriana, poderemos viver um cenário de bactérias super-resistentes no futuro e aumento de infecções hospitalares, considerada pela ONU e OMS, uma das 10 maiores ameaças à saúde pública no mundo. Será uma festa para as bactérias, como está sendo para o vírus hoje.

Mas os médicos negacionistas afirmam que as suas opiniões pessoais valem mais do que ciência bem-feita e baseada em estudos científicos padrão ouro, defendem uma narrativa política cruel e são ajudados por pseudocientistas e alguns jornalistas que seguem a mesma cartilha de poder.

E os órgãos e conselhos de classe que deveriam fiscalizar, não fiscalizam, pois são coniventes com tal prática que nos remete ao começo do século passado, durante a gripe espanhola, em 1918. Estes órgãos defendem a autonomia do médico, para que estes possam usar intervenções ineficazes, mesmo que perigosas, às custas da saúde, da segurança e do bem-estar de seus pacientes. Tudo vale a serviço de uma agenda política e para atender interesses financeiros escusos. Eu não sou contra a autonomia dos médicos, mas é ético falar em autonomia mesmo colocando em risco a saúde e a vida dos pacientes para atender um projeto de poder?

Para receitar o kit covid, basta haver consenso entre médico e paciente, que em muitos casos ambos são partidários de uma mesma corrente política, como se fosse um acordo entre membros de uma seita. Ou entre um médico favorável e um paciente indefeso, que confia no profissional. Ou entre um médico contrário à prática nefasta e um paciente que exige o tratamento.

Aí, o médico receita, o paciente assina, os órgãos responsáveis que deveriam fiscalizar e coibir a prática dão apoio, a mentira se espalha e o vírus também. Ah, mas se não faz mal, pode usar. Nananinanão, faz muito mal sim. Engana, traz prejuízos para a saúde das pessoas e para o controle da pandemia e pode matar. E o vírus adora, é tudo que ele quer e aí as variantes de atenção vão surgindo, porque vacina para todas e todos, que é bom, só em Israel e outros países onde esse negacionismo científico não tomou conta. Aqui, nós temos o vírus Sars-CoV-2, temos o vírus do negacionismo científico, das fake news e alguns jornalistas e pseudocientistas mentindo descaradamente nas redes sociais.

Mas muitos bons profissionais médicos se rebelaram, pois não aceitaram as imposições e coerções de alguns hospitais, de alguns planos de saúde privados e órgãos de classe para empurrar goela abaixo da população, a mentira em forma de medicamentos ineficazes contra a Covid-19. Como vem sendo denunciado na imprensa, muitos bons profissionais vêm sofrendo abusos, retaliações, ameaças ou sendo demitidos por não aceitarem aderir à farsa e ter que atingir a meta de distribuir indiscriminadamente um número X de receitas do kit Covid-19 por mês. Pasmem, entre os médicos, em alguns locais, tem meta a ser atingida. Parece loja de shopping center. Eu pergunto que autonomia é esta que obriga médicos a aderirem ao suposto tratamento precoce com o kit Covid ou serão penalizados? Eu espero que estejam fazendo pelo menos exame clínico para conhecer o histórico dos pacientes antes de prescrever o kit precoce.

A Merck, farmacêutica que desenvolveu a ivermectina nos anos 1980 e até hoje é a sua principal fabricante, divulgou nota afirmando que o medicamento não é eficaz no combate à doença. Mas há também muito interesse financeiro e pressão de algumas empresas de genéricos locais que produzem esses medicamentos, como uma fabricante de ivermectina que mantém o site internet de um grupo médico conhecido que defende o Kit Covid.

Vamos parar de falar que esses medicamentos não têm eficácia comprovada. Eles não têm eficácia nenhuma contra a Covid e fazem mal. Estes medicamentos foram submetidos a estudos randomizados, duplo cego, com grupo placebo, padrão ouro e se mostraram ineficazes. Todos foram testados em fases 1, 2 e 3 como as vacinas, mas infelizmente, não mostraram efeito benéfico nenhum.

Aí tem gente que é contra as vacinas, como a Coronavac, que está salvando milhares de vidas, porque diz que só tem 50% de eficácia, mas é favor de medicamentos do kit precoce que tem zero eficácia. Como entender isso e quem critica efeitos adversos leves das vacinas e não se preocupa em efeitos graves do uso desses medicamentos? Leiam as bulas destes medicamentos, gente, agora imagina usar tudo isso sem acompanhamento médico e combinando medicamentos? É surreal, é o pior do negacionismo, no Brasil, nós regredimos mais de 100 anos para a época da gripe espanhola.

O negacionismo científico, o charlatanismo e a picaretagem estão andando de mãos dadas, com alguns políticos, jornalistas, alguns líderes evangélicos, médicos e pseudocientistas, todos unidos atacando a ciência. A estupidez tomou conta e o vírus agradece.

Aos olhos da sociedade, médicos são profissionais respeitados, mas há excelentes profissionais médicos e outros nem tanto. Muitos são sérios e dignificam a profissão, são honestos, mas alguns são indignos de exercer a profissão, assim como pessoas em todas as profissões, incluindo alguns colegas meus, professores universitários. Um título de médico ou de doutor, ou um jaleco branco, não garante conhecimento profundo, nem credibilidade, nem caráter, nem ética.

Desde o início da pandemia, nós estamos vendo alguns médicos defendendo o uso dos medicamentos do kit Covid e outros absurdos como homeopatia e ozonioterapia retal, baseados não na ciência e no rigoroso método científico, mas em experiência pessoal, em relatos anedóticos, em convicções políticas, desrespeitando os pacientes, que foram transformados em cabos eleitorais, usando o kit Covid como plataforma para um projeto de poder político. Cuidado, você pode estar sendo usado da mesma forma nesta pandemia. Tudo para defender uma visão cruel de um mundo obscurantista e sem ciência.

Esses profissionais negacionistas não entendem que equívocos em suas condutas podem ter consequências graves. As pessoas querem acreditar em algo, então acreditam em qualquer coisa, até em charlatanismo e curas milagrosas. Quem está defendendo e quem está prescrevendo esse kit está cometendo um enorme desserviço de saúde pública e será julgado e responsabilizado pela história.

Nós não estamos mais no século passado, nós não podemos mais aceitar medicina baseada em achismos, crenças, opiniões pessoais ou esperança de que vá dar certo. A crença não pode substituir a ciência e a verdade. Quando a bomba estoura, com casos de Covid graves, com pessoas com arritmia cardíaca, arritmia cardíaca, complicações renais, comprometimento da saúde ocular, ou hepatite medicamentosa ou Covid mais grave por causa do uso do kit da ilusão chegando nos hospitais e nas UTIs, são os médicos que estão na linha de frente do combate à pandemia, onde falta kit intubação e oxigênio, que vão lutar para salvar vidas, não os médicos que receitam o kit com medicamentos ineficazes.

A pandemia está mostrando o que há de melhor e pior na ciência, na medicina, na política e no jornalismo brasileiro. A defesa do negacionismo nos trouxe até a variante P.1 e este cenário que já deixou mais de 383 mil brasileiros e brasileiras para trás. Infelizmente, em virtude da falta de apreço pela ciência, nós chegaremos às 400 mil vidas perdidas para a Covid-19, ainda durante o mês de abril.

 

E para a pandemia acabar?

Nós precisamos de vacinas, chega desse discurso de estupidez que está destruindo o País. Os países que estão vacinando suas populações estão começando a observar melhora acentuada na pandemia. Enquanto houver conflitos políticos e a defesa de pautas como a do suposto tratamento precoce ineficaz e mentiroso com o kit Covid, o Brasil não vai sair desta pandemia. Nós precisamos de uma estratégia nacional unificada de combate à Covid-19, combatendo também as desigualdades sociais, com todos e todas remando na mesma direção. Nós precisamos defender o uso de máscaras, o distanciamento físico, os hábitos de higiene das mãos, precisamos de milhões de doses de vacinas aplicadas rapidamente em cerca de 170 milhões de brasileiros e brasileiras, conscientizando a população sobre a importância da vacinação.

O Governo Federal precisa oferecer condições financeiras e pagar um auxílio emergencial decente para que a parcela mais vulnerável da população possa passar este período difícil, aderindo às restrições de movimento e a possível lockdown nos locais mais críticos. Se as pessoas forem para as ruas sem cuidados, vai aumentar a taxa de transmissão e variantes mais perigosas do vírus podem surgir. O lockdown funciona, salvou milhões de vidas e vários países conseguiram diminuir o número de casos, mas precisamos adotar outras medidas em conjunto, incluindo estratégias para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos. Nós precisamos de vigilância epidemiológica ativa, testando pessoas e isolando os casos suspeitos e os infectados e monitorando os seus contatos imediatos.

É fundamental também realizar vigilância genômica contínua, para acompanhar e prever os possíveis cenários epidemiológicos com o objetivo de fornecer subsídios para ações de prevenção e controle da transmissão e espalhamento das novas variantes do vírus, que vão permitir revisão de estratégias de vacinação, correção de rumos checando a efetividade das vacinas atuais e necessidade de adaptação das fórmulas das vacinas para conter o material genético das novas variantes de atenção.

Esse kit precoce precisa ser banido definitivamente, porque ilude as pessoas, traz falsa sensação de segurança e atrasa a procura por atendimento médico pela população. Além disso, estamos jogando dinheiro público fora, que poderia ser destinado para a compra de vacinas, para a compra de medicamentos para intubação, para compra de oxigênio, para o pagamento de auxílio emergencial decente e para compra de máscaras para distribuir para a população mais vulnerável. Pessoas estão sem condições de alimentar seus familiares, então que o governo comece a fazer o que não fez desde o início de 2020 e lute para combater e colocar fim a esta pandemia.

O tratamento precoce de verdade é a prevenção, é uso de máscara, é distanciamento social, é lavar as mãos, é evitar aglomerações e locais fechados, é testar pessoas e isolar infectados e contatos próximos, é fazer vigilância epidemiológica e vigilância genômica, é restringir deslocamentos não essenciais onde a pandemia estiver fora de controle, é estratégia de vacinação em massa com campanhas de conscientização da população para alta adesão às vacinas. Vamos exigir vacinas distribuídas de forma equitativa e igualitária para todas e todos. Não caia no conto dos negacionistas que estão destruindo este país.

O nosso papel como cientistas e cidadãos e cidadãs é o de alertar a população, mesmo com as ofensas e ameaças que constantemente recebemos do lado estúpido da força.

A opção por não usar os medicamentos do kit Covid é baseada na ciência, não na política. O Kit covid é uma falsa panaceia e a maior farsa criada nesta pandemia. O negacionismo científico nos trouxe até este momento triste e já causou muitos estragos. É difícil imaginar o que vai sobrar deste País devastado depois desta pandemia.

Mas eu sei que só a ciência vai nos salvar do obscurantismo.

 

Alto número de mortes e negacionismo científico

O Brasil fracassou miseravelmente no combate à pandemia, estamos isolados do resto do mundo, somos uma ameaça sanitária global e uma preocupação para nossos vizinhos sul-americanos e para o mundo. Esta alta no número de mortes por Covid-19 é vitória do negacionismo da ciência e da falta de política de combate efetivo à pandemia. O povo brasileiro está entregue à própria sorte, o resultado já é catastrófico e a pandemia poderá ficar ainda mais fora de controle. A organização internacional de ajuda humanitária “Médicos Sem Fronteiras” classificou a situação no Brasil como uma catástrofe humanitária.

O Brasil hoje está vendo mais jovens morrendo pela Covid-19 e temos a P.1, variante dominante que infecta mais e tem uma capacidade enorme de passar uma pessoa para outra. Nós precisamos urgentemente de um direcionamento central. Os responsáveis por dirigir esta Nação deveriam reconhecer os erros e admitir que falharam no combate à pandemia e deveriam passar a seguir a ciência.

Mas eu penso que esses personagens nunca vão reconhecer os equívocos e vão defender a mentira do kit precoce até o fim, adequando a narrativa. Eles não se importam se morrem 400 mil ou um milhão de pessoas ou mais do que isto. Para eles, os mortos são números, mera estatística, efeito colateral, o que importa é que o número de curados foi alto, esquecendo que o número de curados deveria ser ainda mais elevado, incluindo pelo menos cerca de 75-80% daqueles que morreram pela Covid-19 pela irresponsabilidade, incompetência, falta de empatia, falta de diplomacia, falta de respeito pelas vidas de milhares de brasileiros, por parte de quem deveria liderar uma resposta da Nação.

Nós temos bons exemplos a seguir e os países que estão vacinando suas populações estão começando a observar melhora acentuada na pandemia.

 

Vacinação X Imunização

Independente da vacina que for aplicada, nem os vacinados e muito menos os não vacinados estarão protegidos enquanto não vacinarmos a maioria da população brasileira. As vacinas fornecem um nível de proteção individual, mas para estarmos realmente protegidos, precisamos que cerca de 70%-80% da população seja vacinada. Assim, diminuímos a possibilidade de disseminação e espalhamento do vírus, diminuímos o número de pessoas suscetíveis e aumentamos a capacidade de proteção.

Com o vírus circulando, vacinação funciona se for estratégia coletiva. As vacinas são desenhadas para treinar o nosso sistema imunológico sem desenvolver a doença. Estar vacinado é diferente de estar imunizado. Vacinado, você tem um nível de proteção, mas se você não se cuidar, o vírus pode te infectar. As vacinas atuais foram desenvolvidas há alguns meses, com outra variante do vírus circulando, então precisamos vacinar rapidamente toda a população ou continuaremos a dar mais chances ao vírus. Ninguém fica blindado com as vacinas e se não estivermos preparados, podemos ser infectados.

Nos países com alta porcentagem de pessoas vacinadas como Israel e Estados Unidos, os números são muito alentadores e mostram redução em hospitalizações, mortes e transmissão do vírus com o aumento da vacinação em massa e adoção das medidas não farmacológicas e lockdown nos locais de maior circulação do vírus. Mesmo com vacinação lenta no Brasil, nós já observamos efeito das vacinas contra a Covid-19 protegendo idosos com 80 anos ou mais, com quedas no número de pacientes atendidos com síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Não há dúvidas que à medida que mais e mais pessoas forem vacinadas, nós vamos observar redução no número de mortes e hospitalizações, a circulação e espalhamento do vírus vai diminuir, mas precisaremos continuar mantendo uso de máscaras, distanciamento físico e higiene das mãos. Neste momento, nós precisamos de vacinas o mais rápido possível, nós ainda não precisamos de vacinas específicas contra a P.1. Todas as vacinas trazem benefícios.

 

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