18 Outubro 2019
Compartilhamos o Comunicado da Conferência de Religiosos no Haiti, que apresenta a visão de diversas comunidades frente a crise institucional e econômica.
O comunicado foi publicado por CPAL Social, 17-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Irmãos e irmãs haitianos, cidadãos do país,
“Se o Senhor não constrói a casa, os construtores trabalham em vão; se o Senhor não vigia a cidade, os vigilantes descansam em vão” (Salmo 127, 1).
Nós, consagrados católicos haitianos agrupados na Conferência de Religiosos do Haiti (CHR) observamos com muito sofrimento a profunda decadência da situação sociopolítica do país durante uns dez anos e a vertiginosa queda para o inferno durante esses últimos oito meses.
A ira que se desata em todo o país para expressar uma frustração legítima da população não pode nos deixar indiferentes. Pelo contrário, expressamos nossa grande proximidade, simpatia e solidariedade com nossa gente oprimida que já não aguenta mais.
Hoje, fazemos essa palavra profética de dom Helder Pessoa Camara, arcebispo de Olinda e Recife no Brasil de 1964 a 1985, segundo o qual: “Existem três tipos de violência. A primeira, mãe de todas as outras, é a violência institucional, que legaliza e perpetua a dominação, a opressão e a exploração, que esmaga e mata milhões de homens em suas rodas silenciosas e bem lubrificadas. O segundo é a violência revolucionária, que surge do desejo de abolir o primeiro. O terceiro é a violência repressiva, cujo objetivo é reprimir o segundo, tornando-se auxiliar e cúmplice do primeiro, que engendra todos os outros. Não há hipocrisia pior do que chamar de violência apenas a segunda, fingindo esquecer a primeira, que dá à luz, e a terceira que a mata”.
Juntamente com nossos pastores, os bispos católicos do Haiti, repetimos que ninguém deve aceitar a miséria, a pobreza, a injustiça e a violência institucional de maneira derrotista. Rebelar-se contra a irresponsabilidade, indiferença, incompetência, improvisação e má administração administrativa de nossos líderes, que servem quase exclusivamente em benefício de um pequeno grupo quase exclusivamente, agora é algo mais do que legítimo.
"El gen eleksyon vwa pèp el vwa Bondye - depi nou sou maywa vwa pèp el vwa chimè, epi se gas ak bal li merite", por que tanta violência inútil contra um povo que aspira viver dignamente? Pouvwa ap fini, pèp the ap toujou la! Quem é responsável da máquina infernal da violência, se não aqueles que se agarram ao poder a qualquer custo!
Unimos forças com todos os setores-chave da nação, aqueles que rejeitam corrupção, contrabando, lucros fáceis, para exigir que nossos líderes eliminem as consequências de sua inconsistência e pedimos a formação imediata de um governo de salvação nacional. Nós, Consagrados do Haiti, dizemos NÃO à politização e ao uso da Polícia Nacional Haitiana pelo executivo como aparato repressivo e máquina da morte. Vamos nos esforçar para reconstruir nossa nação com base nos valores absolutos de liberdade, igualdade, fraternidade e integridade. Vamos nos esforçar por essa tarefa nobre e difícil que inevitavelmente passa não por um diálogo oportunista e irresponsável, mas pela ideia de uma assembleia nacional, que convoca todas as forças vitais da nação. Vamos parar de nos matar, sufocar o país, beber o sangue dos mais pobres (Twòp san, nou bouke)! Escolhemos a vida para o nosso povo e para o nosso país!
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cuide do Haiti, cuide de seus filhos hoje e sempre!
Assinam,
Padre Eric Jasmin, CSC — presidente
Irmã Lourdes Toussaint, SJS — vice-presidente
Padre Jean Denis Saint Felix, SJ — conselheiro
Irmão Joseph N. Goie, CFX — conselheiro
Irmã Rose Marie César, Fdm — conselheira
Padre Gilbert Peltrop, C.Ss.R - secretário-geral
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Haiti. Comunicado da Conferência de Religiosos sobre a crise do país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU