09 Setembro 2019
O "Va', pensiero" de Giuseppe Verdi ressoa no Ceremony Building de Antananarivo, enquanto as autoridades da República do Madagascar aguardam Francisco para seu primeiro discurso público no país, a segunda etapa de sua viagem pela África. O coro cantado pelos escravos judeus na Babilônia serve de entrada para um pedido de libertação evocado em alta voz pelo Papa, a emancipação do "contrabando" e das "exportações ilegais", do "desmatamento excessivo para a vantagem de poucos", de uma degradação crônica, adverte, que "compromete o futuro do país e de nossa casa comum". Se poucos homens exploram o meio ambiente, muitos outros sofrem as consequências, como demonstram as centenas de pobres nas ruas de Antananarivo. Crianças, mulheres e homens são forçados à indigência mais absoluta, cenário que outro dia, atravessando a cidade de carro após a chegada de Moçambique, impressionou profundamente também Francisco: "Eu não imaginava tanta miséria", disse ele a seus colaboradores.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 08-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O coração do discurso do bispo de Roma, que desde a assinatura da "Laudato si'" nunca deixou de chamar as autoridades mundiais às suas respectivas responsabilidades com relação ao meio ambiente, está todo aqui: "As florestas restantes são ameaçadas por incêndios, pela caça predatória, pelo corte descontrolado de madeira preciosa”, diz ele, mas "não pode haver uma verdadeira abordagem ecológica" sem "uma justiça social que garanta o direito ao destino comum dos bens da terra às gerações atuais, mas também às gerações futuras".
O desmatamento em várias partes do planeta é um problema sentido pelo Vaticano. Não é por acaso que Francisco, depois de deixar o Ceremony Building, planta um baobá, o emblema da flora malgaxe, junto com o presidente Andry Rajoelina. Também não é por acaso que, em outubro, será realizado o Sínodo dos Bispos dedicado à Amazônia e seus problemas no Vaticano: "Se a Amazônia sofre, o mundo sofre", disseram recentemente os bispos latino-americanos.
Incluída no continente africano, a ilha de Madagascar é uma terra à parte, com espécies vegetais e animais únicas, povoadas por pessoas que, provenientes da Ásia das monções, introduziram seus próprios elementos culturais. A floresta tropical se estende no lado oriental, ramificando-se em direção ao planalto central, onde a cobertura vegetal foi comprometida pelo homem, com incêndios realizados para preparar a terra para ser cultivada. No lado ocidental, existem pradarias onde os baobás crescem, uma região zoogeográfica com diversidades importantes em relação à fauna africana.
No entanto, apesar das imensas riquezas e singularidades, a ilha continua sendo um dos países mais pobres do mundo e o padrão de vida de seus habitantes é menor do que o registrado na África Subsaariana. A própria Antananarivo é um platô pontilhado de vilarejos e pequenos núcleos compostos de cabanas de barro vermelho, com telhados de palha, que se erguem ao lado dos campos de arroz.
Segundo os dados mais recentes, mais de 56% dos habitantes da cidade se encontram em situação de extrema pobreza e, em muitos casos, vivem com menos de 100 Ariary por dia, cerca de 3 centavos de euro. É para essas pessoas que o Papa pede "mediações estruturais" para uma "melhor distribuição de renda e uma promoção integral de todos os habitantes, especialmente os mais pobres".
Daqui, Francisco fala ao mundo: se é verdade, de fato, que algumas atividades que interferem no meio ambiente "são aquelas que garantem no momento sua sobrevivência", é igualmente evidente que o próprio ambiente precisa de "proteção". E, no entanto, o desenvolvimento de uma nação, como Paulo VI já dizia, "não se reduz ao simples crescimento econômico". Aliás, "para ser um desenvolvimento autêntico, deve ser integral, o que significa voltado à promoção de cada homem e de todo o homem".
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O Papa Francisco e a crise climática: “Vamos salvar as florestas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU