24 Abril 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 24,13-35 que corresponde ao Terceiro Domingo da Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Ao longo dos anos, nas comunidades cristãs, foi-se colocando espontaneamente um problema muito real. Pedro, Maria Madalena e os outros discípulos tinham vivido experiências muito «especiais» de encontro com Jesus vivo após a Sua morte. Experiências que os levaram a «crer» em Jesus ressuscitado. Mas os que se aproximaram mais tarde do grupo de seguidores, como podiam despertar e alimentar essa mesma fé?
Este é também hoje o nosso problema. Nós não vivemos o encontro com o Ressuscitado que viveram os primeiros discípulos. Com que experiências podemos contar? Isso é o que é suscitado pelo relato dos discípulos de Emaús.
Os dois caminham para suas casas, tristes e desolados. A sua fé em Jesus apagou-se. Já não esperam nada Dele. Tudo foi uma ilusão. Jesus, que os segue sem se fazer notar, alcança-os e caminha com eles. Lucas expõe assim a situação: «Jesus começou a caminhar com eles, mas os seus olhos não eram capazes de reconhecê-Lo». Que podem fazer para experimentar sua presença viva junto deles?
O importante é que estes discípulos não esqueçam Jesus; «conversam e discutem» sobre Ele; recordam suas «palavras» e seus «atos» de grande profeta; deixam que aquele desconhecido lhes vá explicando o que aconteceu. Seus olhos não se abrem imediatamente, mas «seus corações começam a arder».
É a primeira coisa que necessitamos nas nossas comunidades: recordar Jesus, aprofundar a sua mensagem e na sua atuação, meditar na Sua crucificação... Se, em algum momento, Jesus nos comove, suas palavras nos alcançam por dentro e o nosso coração começa a arder, é sinal de que nossa fé está despertando.
Não é suficiente. Segundo Lucas, é necessária a experiência da ceia eucarística. Embora ainda não saibam quem ele é, os dois caminhantes sentem necessidade de estar com Jesus. Faz-lhes bem sua companhia. Não querem que os deixe: «Fica conosco». Lucas enfatiza com alegria: «Jesus veio para ficar com eles». No jantar, eles abrem os olhos.
Estas são as duas experiências-chave: sentir que o nosso coração arde ao recordar sua mensagem, sua atuação e toda sua vida; sentir que, ao celebrar a Eucaristia, sua pessoa nos alimenta, nos fortalece e nos conforta. Assim, cresce na igreja a fé no ressuscitado.
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Duas experiências-chave - Instituto Humanitas Unisinos - IHU