23 Março 2018
Neste Domingo se lê a narrativa da Paixão de Jesus no Evangelho de Marcos 14,1-15,47 correspondente ao Domingo de Ramos do ano litúrgico do ciclo B. É um texto muito extenso, por isso, para aceder a ele, sugerimos sua leitura na página da Bíblia on-line: ww.paulus.com.br/BP/_INDEX.HTM
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O comentário é realizado desde o ponto de vista dos discípulos e olhando algumas das atitudes de Jesus.
A primeira frase do Evangelho de Marcos oferece um panorama sobre aquilo que é desenvolvido ao longo de todo o Evangelho: a Boa Notícia de Jesus Cristo. Veremos que o centro desta Boa Notícia é Jesus. Por isso pode-se dizer que a pergunta que traspassa o Evangelho é “Quem é Jesus?”. Sua pessoa será revelada progressivamente ao longo do texto. Culmina assim com a exclamação do centurião romano ao ver Jesus na cruz, quando exclama: “realmente este homem é o Filho de Deus” (Mc 15,39).
A extensa narrativa que lemos neste dia apresenta Jesus decidido a ser fiel ao Pai, amando-o até o extremo. Jesus não é ingênuo daquilo que lhe vai acontecer. Ele sabe que esse é o caminho do Messias que o povo aguardava! Durante muitas noites e pela madrugada, reconhecendo a presença do amor do Pai e a confiança que tinha depositado nele, Jesus progressivamente aceita o sofrimento em favor dos mais pobres e desprotegidos. (Evangelho de Marcos: seguir Jesus a partir dos injustiçados)
Jesus, como lemos e celebramos na procissão com os ramos de Oliveira, entra na cidade montado num jumentinho e aclamado pelo povo como o Messias anelado, sabe que o aguarda um final que não é propriamente de glória como em geral se acreditava. Durante sua vida ele mesmo sofre o desprezo e a injúria dos que se consideravam os chefes de uma religião que oprimia as pessoas. O povo simples e fiel são os que, na sua entrada em Jerusalém, estendem seus mantos, colocam ramos a seus pés e clamam cheios de entusiasmo.
Nessa entrada de Jesus possivelmente lembraria as palavras do profeta Zacarias “...grita de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei vem montado num jumento... Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar” (Zac 9,9).
Jesus é para eles o Messias realmente esperado. Mas como era esse Messias tão desejado? Seria um Messias cheio de poder que os libertaria dos impérios que os escravizavam, do sofrimento, da opressão sofrida e assim “dominaria de mar a mar”.
A espera das pessoas estava orientada num Messias que abençoaria os oprimidos, estabelecendo um reino de paz e justiça tão desejado e aguardado. Jesus entra na cidade e o povo canta “Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Bendito seja o Reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto do céu!”.
Na expressão Hosana, eles suplicam “Nos salva Senhor, por favor!”. Na pessoa de Jesus o povo coloca as expectativas de muitas gerações, acrescentada pelo sofrimento da opressão e da injustiça que viviam cada dia. Não era simplesmente um desejo, era uma necessidade vital! E Jesus era para eles esse Messias esperado.
Na Procissão deste domingo lemos a aclamação do povo a Jesus, mas também na missa lemos os capítulos sobre a Paixão e Morte de Jesus.
Geralmente a morte de Jesus numa cruz é conhecida por todos e todas nós, mas nem sempre dedicamos tempo para meditar nela.
Imaginemos o sentir desse povo que aguarda um Messias poderoso em palavras e obras e neste momento está sendo partícipe da morte ignominiosa deste “messias”. As expectativas depositadas em Jesus morrem junto com sua morte. Possivelmente no seu interior vivem a experiência do fracasso, da decepção, da desilusão. Esta frustração deve semear neles e nelas dúvidas sobre a pessoa de Jesus.
Será verdadeiramente o Messias? É possível que uma pessoa que venceu a enfermidade, que libertou pessoas dos espíritos maus, que deu vista aos cegos, alimentou multidões e realizou tantos milagres não possa vencer os inimigos que procuram sua morte? Eles pensariam: então, fomos enganados?
Nos relatos da paixão que lemos hoje aparece a pergunta sobre a identidade de Jesus (quem é Jesus?) expressada por diferentes pessoas: religiosas – sumo sacerdote e logo os escribas – e romanas: Pilatos e o centurião romano, que confessa que ele é o filho de Deus.
Quase ao final do capítulo 14, o sumo sacerdote lhe pergunta se ele é o Messias (14, 61). Desde sua condição de juiz, Pilatos lhe pergunta se ele é o Rei dos judeus. Pouco mais adiante os sumos sacerdotes e os escribas exigem que, se ele é o Messias, que desça da cruz. Eles sempre estão esperando confirmações de uma realidade que só é aceita pela fé e abertura ao Senhor e seu Mistério. Finalmente o centurião romano, apesar de sua condição, quando o vê na cruz, realiza a confissão de fé em Jesus Crucificado como o Filho de Deus.
Num primeiro momento, juntos, Jesus e seus discípulos e suas discípulas, se dirigem ao monte das Oliveiras: “Depois de terem cantado salmos, foram para o monte das Oliveiras” (14,26). Apesar do tempo que estiveram juntos e foram particularmente ensinados por Jesus, os discípulos não podem acreditar no que está acontecendo. Como se a realidade fosse muito árdua para suportá-la. Jesus já lhes tinha dito: “Vocês todos vão ficar desorientados, porque a Escritura diz: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.’” (14,27). Uma vez mais Pedro tenta mostrar sua fidelidade até o fim: ele não ficara nem desorientado e menos ainda vai negar Jesus. E repete-o com força: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, mesmo assim não te negarei”.
Pedro, Tiago e João que foram levados de forma especial por Jesus junto dele, ficam dormindo e não escutam Jesus falar de sua tristeza, do medo e da angústia que sentia. Não conseguem vigiar.
Quando Jesus é preso pela multidão armada de espadas e paus enviados pelos sacerdotes e acompanhados por Judas, os discípulos fogem todos e abandonam Jesus.
Posteriormente Pedro tenta acompanhar Jesus, mas tem medo, e todas as vezes que é perguntado sobre sua relação com Jesus, ele o nega (14,66-72).
Jesus é, assim, abandonado por todos, mas as mulheres permanecem aos pés da cruz (15,40-41).
Somos convidados e convidadas por elas a derramar nosso afeto e nosso amor, como elas. Nesta semana deixemos que o Mistério do Crucificado entre na nossa vida, sua Pessoa, suas palavras, seu silêncio e sua ternura.
Que o centurião romano nos inspire a reconhecer, como ele, em Jesus o amor entregue, para exclamar juntos: “De fato, este homem era mesmo Filho de Deus!” (15,39).
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