20 Novembro 2018
Jared Eamons (Lucas Hedges) tem 18 anos e mora em Arkansas com sua família, o vendedor de carro e pastor batista Marshall (Russell Crowe) e sua esposa Nancy (Nicole Kidman). A Igreja é praticamente o centro de suas vidas.
Jared não parece se importar com as pregações extremamente moralistas de seu pai na missa. Embora beije a namorada, Chloe (Madelyn Cline), no final de um encontro, não corresponde à vontade dela de ir adiante. Ela acha que é porque seus pais queriam que ele esperasse o casamento para ter relações sexuais. Antes de ir para a faculdade, ele termina com ela.
O comentário é da Irmã Rose Pacatte, das Filhas de São Paulo (Daughters of St. Paul) e é diretora fundadora do Centro Paulino de Estudos Midiáticos (Pauline Center for Media Studies), em Los Angeles, publicado por National Catholic Reporter, 16-11-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Na faculdade, ele conhece Henry (Joe Alwyn). Jared demonstra que está interessado, mas não tem experiência. Ele fica traumatizado quando Henry abusa dele e depois confessa que já abusou sexualmente de outros jovens.
Jared decide ir para casa para fazer uma visita. Tudo parece estar correndo bem, até Henry ligar para Nancy e contar que Jared é gay (talvez por temer que Jared conte sobre suas transgressões, embora o filme não deixe isso claro).
Nancy e Marshall ficam perplexos com a revelação e confrontam Jared. Buscando sabedoria, Marshall pede aconselhamento sobre o que fazer a dois membros da Igreja, e decidem que o melhor é fazer terapia de conversão. Marshall dá um ultimato e diz que não pode permitir que Jared viva sob o mesmo teto nem trabalhe na revenda se ele não mudar.
Apesar de ser adulto, Jared concorda, sem opção. A mãe leva-o a um lugar chamado "O refúgio", onde ele passa por uma avaliação de duas semanas. Jared descobre que depois da avaliação a maioria passa para o programa de residência, que pode levar um ano. Em poucos dias, Jared percebe quem é, apesar das palavras cruéis do diretor Victor Sykes (Joel Edgerton) de que Deus não pode nem vai amá-los da forma como são naquele momento.
O filme é baseado no livro de memórias homônimo, lançado em inglês 2016: Boy Erased: A Memoir by Garrard Conley. Eu comprei o livro e li vários capítulos, e percebi que algumas partes foram resumidas ou adaptadas para o cinema. Mas no geral o filme retrata bem as memórias de Conley.
A terapia de conversão, um mito que muitos acreditam que possa curar as pessoas LGBT da sua orientação sexual, hoje é considerada nociva e continua sendo controversa. No entanto, apenas 13 estados e Washington, D.C. proibiram a prática de acampamento cruel - que parece um treinamento - que advém da crença de que todas as orientações sexuais não heterossexuais são escolhas, e não algo com que as pessoas nascem. É simplesmente impossível “orar para eliminar a homossexualidade” e mudar a pessoa ameaçando que Deus vai abandoná-la e mandar para o inferno.
O evento mais intenso do período de Jared no centro terapêutico é uma encenação do velório de um rapaz, Cameron (Britton Sear), que tem uma recaída. Em frente a um caixão, com todos olhando, ele tem que ficar de joelhos, inclinado, recebendo as agressões de Sykes, seus pais e sua irmã mais nova com uma Bíblia. A humilhação disso tudo me comoveu.
Mas é durante uma sessão que Sykes leva Cameron ao colapso. Pouco depois, Cameron comete suicídio.
Hedges ficou conhecido pela série "13 Reasons Why", da Netflix, sobre o suicídio de uma adolescente. O ator de 21 anos acaba por conseguir convencer que as crises da adolescência são reais. A mãe representada por Nicole Kidman deixa de seguir o rastro do marido e finalmente diz ao filho que o ama e ama a Deus, mas que o pai dele é complicado. O filme é um despertar para os pais, para que participem da vida dos filhos e os amem incondicionalmente, assim como Deus os ama.
A teologia que baseia a terapia de conversão é uma perversão de tudo o que o cristianismo representa, culpando a família ou a educação pela homossexualidade, em vez de explorar a natureza. Em "Boy Erased”, os participantes fazem uma árvore genealógica e indicam quem da família era alcoólatra, homossexual, quem fez um aborto, ou apontam outros equívocos morais para entender por que se tornaram gays. Muitas vezes o pai é culpabilizado, principalmente o pai.
Joel Egerton, que também dirigiu o filme, no papel de Victor Sykes. (Foto: Cortesia da Focus Features)
O personagem de Edgerton parece ter sido baseado em John Smid, diretor do grupo fundamentalista Love in Action na vida real e no programa do livro de memórias de Conley. Sykes é “ex-gay” no filme, e Smid, no livro. Depois, as figuras reais e ficcionais abandonam o programa e se casam com os namorados.
O filme tem muitos atores australianos, como Troye Sivan, no papel de Gary, um adolescente que aconselha a Jared a "fingir até conseguir” para sair da "terapia". O músico australiano Flea interpreta Brandon, o assustador sargento que supostamente destrói para construir.
É realmente um filme dirigido por Edgerton: ele escreveu o roteiro, faz um personagem importante, dirige e produz. Nota-se que há mais moderação do que a história merece. Nenhum personagem é diminuído por algum estereótipo, nenhum ator faz o personagem soar exagerado. Você vai se emocionar com o filme, enquanto a terapia de conversão fica desmoralizada. Até hoje, quase 700.000 pessoas nos EUA participaram de programas como o retratado no filme.
"Boy Erased” é um ponto de partida para os pais ansiosos por saber o que Deus quer deles quando descobrem que o filho ou filha é LGBTQ. Antes de mais nada, ame incondicionalmente. Não machuque seu filho nem cause dor e sofrimento para que o "bem" (a mudança de orientação sexual) surja a partir disso, como diz o manual elaborado pelo centro terapêutico do filme.
"Boy Erased" pode não ser perfeito, mas provavelmente será um dos filmes mais importantes que você verá este ano.
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'Boy Erased' retrata fatalidades da terapia de conversão homossexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU