Por: Jonas | 14 Junho 2012
Milhares de estudantes das universidades públicas e privadas fazem parte do movimento #EuSou132. Eles pertencem a uma geração que está emigrando da televisão para a Internet. Apesar das diferenças de origem social e econômica, de seus estilos de vida, da maneira em que veem o mundo, compartilham uma preocupação por como estão as coisas e possuem um anseio comum: um país melhor para todos. A seguir, uma mostra desse universo, com breves histórias do conglomerado, referenciando, de modo geral, como de jovens que hoje reivindicam seus lugares como cidadãos.
A reportagem é de Arturo García e Laura Poy, publicada no jornal Página/12, 13-06-2012. A tradução é do Cepat.
Ana Laura, formada na Universidade Ibero-Americana: “Eu sou uma cirurgiã e paramédica altruísta; também me interesso pelo movimento animalista. Sou 132 porque sou contra a imposição de um candidato, pela televisão, e em favor da liberdade de expressão. Em me politizei desde que comecei a perder pessoas pela insegurança, assassinadas ou sequestradas; dei-me conta de que como cidadãos, também, devemos fazer algo. Graças a Internet e as redes sociais, tenho recebido importantes informações para abrir os olhos para muitas coisas pelas quais não tinha conhecimento. O que mais me emociona é a união entre as escolas públicas e privadas. Não fazemos distinção se você tem mais ou eu tenho menos dinheiro. Estamos unidos pela mesma finalidade”.
Mara, estudante de Relações Internacionais, Universidade Insurgentes: “Sou 132 devido à miséria que vejo, a embromação cotidiana do governo, as desigualdades e a opressão social. Eu me preocupo com o meu futuro, mas também com o dos outros. Lamento pela instabilidade social e econômica em que vivemos, pela falta de oportunidades. Gosto de me informar por canais alternativos, na Internet e quase não assisto televisão. Conecto-me ao Facebook e Twitter quase três horas por dia. Hoje, pedimos uma solução, mas não só do meios de comunição; queremos garantir uma vida digna para cada pessoa que vive no país. Já não ficamos calados; a revolta estudantil de 1968 nos motiva, mas também outros exemplos, como os de nossos pais que trabalham todos os dias e cada vez ganham menos. Isto não acontece somente entre a classe média ou baixa, é por isso que existe esta união entre as universidades. É indiferente se a instituição é pública ou privada, a crise é igual para todos. Neste momento, estou feliz em lutar e saber que ainda posso fazer coisas por mim”.
Gabriela Martínez, segundo semestre na Faculdade de Ciências Políticas, UNAM: “Eu gosto de rock independente, um pouco de jazz e leio muito romance. O último que eu li foi “Travessuras da menina má”, de Mario Vargas Llosa. Antes de entrar na UNAM, eu era alheia a política. Porém, fui entrando na história do México, e da situação atual, e percebi que somos controlados, que vivemos como no livro “1984”, de George Orwell, num mundo em que não nos permitem expressarmos livremente. Antes do que aconteceu na Ibero, eu pensava que as universidades privadas eram alheias a qualquer problema social. Agrada-me o que aconteceu, porque rompem as barreiras que tanto nos separam e, apesar de diferentes, podemos lutar por um só objetivo”.
Antonio, engenheiro em eletrônica e comunicações pelo TEC de Monterrey: “Eu sou um empresário, radicado nos Estados Unidos. Tinha um comércio em Monterrey, mas foi embora porque a violência era insuportável. Alguns dizem que eu fui covarde, mas a única coisa que fiz foi cuidar de minha vida. Algum dia, eu retornarei e irei colaborar em alguma coisa em meu país. É incrível, mas foi vivendo fora que me dei conta do que realmente acontece, de como os meios de comunicação manipulam a informação. Por isso, venho apoiar, não pertenço a nenhum partido político, mas sou uma pessoa participativa, que se interessa pelo bem comum e que não gosta de se calar. Estou no limite com os governos que temos e com o fato das televisões descaradamente imporem candidatos. Sou uma pessoa alegre, desfruto a vida, gosto de trova, de rock em espanhol e em inglês e a leitura. Um de meus escritores favoritos é Eduardo Galeano, autor de “As veias abertas da América Latina”, em que escreve a história a partir (na perspectiva dos) dos vencidos e não dos vencedores”.
Omar, Ciências Políticas na Faculdade de Estudos Superiores Acatlán, UNAM: “É um movimento genuíno e plural. Não é a velha esquerda radical. Motivou-me denunciar a imposição de um candidato em que a maioria das pessoas não está de acordo. Conhecemos os dinossauros do PRI e o seu estilo repressor na forma de governar. Hoje, não há oportunidades para os jovens e somos o último boom demográfico; isso me preocupa. Este despertar causou muita empatia, porque busca democratizar os meios de comunicação e o país, além de mudar a forma de fazer política no México. Quase não assisto televisão, prefiro notícias imparciais e literatura latino-americana. Procuro me informar pelo Twitter ou Facebook. O que me deixa mais feliz é a liberdade, sem repressão e sem violência”.
Daniel López, sexto semestre na Faculdade de Direito da UNAM: “Vivo em Texcoco. Ouço rap, reggae e trova. O livro mais recente que li foi “As intermitências da morte”, de José Saramago. Eu sabia que algo acontecia no país, mas por preguiça não queria fazer nada, não participava da política porque as escolas sempre têm grupinhos de pessoas que sabem muito de Marx e falam entre si, mas são muito fechados. O ato da Ibero contra Peña Nieto não foi um despertar, mas sim um sopapo naqueles que estavam dormindo ou que faziam de conta que dormiam. Interessei-me pela política porque vi que outros jovens se interessavam e me senti identificado. Não se pode deixar de comparar este movimento com o de 1968, mas agora temos mais ferramentas para que nos escutem, basta pegar seu computador, e que um de seus contatos coloque algo no mural do Facebook, para que você fique inteirado. Isso nos coloca em igualdade com os que governam porque o Facebook é ingovernável.
Paula, Faculdade de Arquitetura, UNAM: “O movimento é importante para que percebam que os jovens têm opinião. Muitos de nós vamos votar pela primeira vez: é importante que nos escutem porque somos nós que vamos conduzir o país dentro de alguns anos. Eu me preocupo com a repressão e a violência. É uma pena que um país tão bonito como o nosso esteja tão escangalhado. Por isso, apoio esta luta, pois embora não assista a programação da Televisa e TV Azteca, sei que muita gente só tem essa opção e não é justo que só apresentem a informação que querem. Nós, que nos informamos pela Internet e redes sociais, somos poucos. Quando saio às ruas, fico feliz em ver o movimento. Sinto que há esperança. É razoável que todos queiram se informar antes de votar, porque se desconfiava que nós estávamos destinados a ser a geração da indiferença e agora veem, estamos aqui, na rua e na luta”.
Fernanda, 23 anos. Tradução, Anglo-Americano: “Eu fico motivada pela mudança que surge graças aos estudantes. Passamos por uma situação delicada para eleger presidente e, mais ainda, quando não estão sendo sinceros nos meios de comunicação, quando estão escondendo tudo. Eu fico angustiada pelo fato de governar alguém que ignora a realidade do país, que não está preparado para uma verdadeira transformação e que não se preocupa com o que acontece; por isso eu gostaria que todo mundo abrisse os olhos. Que não nos falem mais mentiras. Não queremos voltar ao velho sistema político, que não nos traz nenhum bem. Sou encantada por pintura; é minha paixão. Leio muito os jornais e acesso a Internet. Atualmente, o fato de que muitos estão se despertando me deixa feliz. O fato de começarem a enxergar o que acontece no México é reconfortante”.
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O protagonismo dos estudantes mexicanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU