Contemplar para compreender, entender a si mesmo para fazer o bem. Entrevista especial com Miroslav Milovic

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Por: Márcia Junges e Ricardo Machado | 15 Abril 2019

O mal não existe tão somente em suas formas escancaradas. É, também, sutil e ardiloso, tem seu feitio banal e quase invisível. O pensamento e a tentativa de compreensão de nosso espaço no mundo requer, como sugere Miroslav Milovic, recuperando os gregos antigos, a contemplação. “(...) Como pensa Sócrates, para agir precisamos saber o que é o mundo, o logos dele. Precisamos entender o que é a própria natureza para poder nos entender. Por isso este olhar teórico, a vida contemplativa tem a primazia para os gregos”, explica o professor, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. “É o caminho para conhecer o Bem. Simvalein é o verbo grego que ilumina este caminho do essencial. Sair deste caminho, indo para o particular, significa se aproximar do Mal. Diavalein é o verbo que aparece por aqui. E é a origem da palavra diabo, da metáfora do Mal”, complementa.

Nesse sentido, Milovic critica a rigidez biopolítica invisível de nossas sociedades, que acabam, por estratégias sofisticadas, afastando-nos do aprofundamento do pensamento, da contemplação, que tenta nos tornar mais operadores que pensadores. “Nesse mundo tão ordenado, quase não temos que pensar mais. O pensamento não muda a estrutura dominante do ser. Essa inabilidade do pensamento termina, no último momento, nas catástrofes políticas do nosso século. Tantos crimes, mas quase sem culpados. O indivíduo que não pensa e se torna cúmplice dos crimes: essa é a banalidade do mal diagnosticada por Hannah Arendt como a consequência dessa tradição filosófica que quase mumificou a estrutura do ser e nos marginalizou”, sustenta o professor.

Miroslav Milovic (Foto: Reprodução | Youtube)

Miroslav Milovic nasceu na Iugoslávia, em 1955, graduou-se em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Belgrado e possui doutorado na mesma área pela Université de Paris IV e pela Universität Frankfurt. Foi professor de Filosofia na Iugoslávia, Turquia, Espanha, Japão e, atualmente, é docente do Departamento de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Milovic é autor e organizador de diversas obras, entre elas Comunidade da Diferença (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2004), Filosofia da Comunicação (Brasília: Plano, 2002).

*Entrevista publicada originalmente na edição 538 da Revista IHU On-Line, de 24 de março de 2014.

 

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Filosoficamente, como se pode definir o que é o Mal?

Miroslav Milovic - Os gregos investigam o mundo, mas dizem algo que, vai determinar a nossa cultura. Por um lado, por exemplo, eles colocam as perguntas sobre a física. Por outro, acham que existe algo além das pesquisas sobre a física que determina o próprio fundamento dela. Além da física, existe a metafísica. No início, Platão [1] e Aristóteles [2] usam a expressão “filosofia primeira”. A metafísica como palavra vai aparecer depois, dentro da sistematização da obra aristotélica. Mesmo assim, podemos ficar com essa diferença. O mundo tem os fundamentos que a física ou, poderíamos dizer, a ciência não conhece. O mundo tem a estrutura metafísica. Isso, de novo, está no início da cultura europeia e chega até hoje. Aqui aparece o sentido da filosofia, a qual se identifica com a metafísica. Os amigos da sabedoria, como pensa Platão, que não se deixam seduzir pelo conhecimento das aparências, estão no caminho da metafísica. Então já temos uma ligação íntima entre a filosofia, a metafísica e a razão. Ao lado, poderíamos colocar a palavra ontologia. A ontologia é a pergunta sobre o ser que se abre para um olhar metafísico. Teoria poderia ser outra palavra neste contexto. Vem deste olhar contemplativo. Com a teoria como filosofia, como metafísica, o ser humano pode se entender. Entender a própria origem divina, talvez, e entender como agir. Ou, como pensa Sócrates, para agir precisamos saber o que é o mundo, o logos dele. Precisamos entender o que é a própria natureza para poder nos entender. Por isso este olhar teórico — a vida contemplativa tem a primazia para os gregos.

É o caminho para conhecer o Bem. Simvalein é o verbo grego que ilumina este caminho do essencial. Sair deste caminho, indo para o particular, significa se aproximar do Mal. Diavalein é o verbo que aparece por aqui. E é a origem da palavra diabo, da metáfora do Mal.

IHU On-Line - Quais são as principais abordagens filosóficas sobre o problema do Mal?

Miroslav Milovic - São as palavras de Hannah Arendt [3]. Em suas várias discussões sobre política, Hannah Arendt se refere à discussão fenomenológica, nos ajudando a compreender a importância histórica dessa radicalização do cartesianismo dentro da fenomenologia husserliana. Arendt acredita que a separação platônica entre o ser e a aparência marca um passo histórico não só para a vida dos gregos, mas para todo o caminho posterior da civilização. A desvalorização da aparência e a afirmação do ser são os aspectos da reviravolta na vida dos gregos e do Ocidente europeu. Com isso, tem início uma específica tirania da razão e dos padrões na nossa vida. Isso é o que Nietzsche [4] elabora como o começo do niilismo na Europa. A estrutura já determinada, estática, entre o ser e a aparência, tem consequências catastróficas para o próprio pensamento. Ele se torna mera subsunção das aparências às formas superiores do ser. Nesse mundo tão ordenado, quase não temos que pensar mais. O pensamento não muda a estrutura dominante do ser. Essa inabilidade do pensamento termina, no último momento, nas catástrofes políticas do nosso século. Tantos crimes, mas quase sem culpados. O indivíduo que não pensa e se torna cúmplice dos crimes: essa é a banalidade do mal diagnosticada por Hannah Arendt como a consequência dessa tradição filosófica que quase mumificou a estrutura do ser e nos marginalizou.

Mencionei Arendt porque aqui temos a ideia do Mal que se confronta com as leituras gregas. Entre os dois, poderíamos mencionar talvez Kant [5], que articula o nascimento da moderna filosofia da subjetividade. O Mal neste contexto é o abandono dessa autonomia da subjetividade.

IHU On-Line - Quais são as formas que o Mal assumiu em nosso tempo?

Miroslav Milovic - É conhecida a diferença aristotélica entre zoé e bios, entre o natural ou privado e público ou político. É a diferença que Aristóteles concretiza falando sobre a desigualdade dos homens. O escravo não possui de forma alguma a faculdade de deliberar na política. Assim ele chega à justificação da escravidão. A Modernidade mudou essa perspectiva. Nós somos iguais por natureza. Ou seja, zoé e bios não ficam contrapostos. A experiência moderna é uma específica inclusão da zoé no bios. Aqui podemos pensar em Hobbes [6] também e na questão da nossa autopreservação. Sobreviver, preservar a vida natural parece ser o projeto político no início da Modernidade. A liberdade é o fato natural. Nós somos livres como os seres naturais. Só depois, no contexto do idealismo alemão, vai ser feita uma específica separação entre natureza e liberdade e uma específica ligação entre liberdade e política. Nós não somos livres como seres naturais, mas dentro de uma específica afirmação espiritual sobre a natureza. Mas isso são as discussões posteriores. O que Agamben [7] quer entender é essa mudança moderna da relação entre zoé e bios. Se nós somos iguais e livres por natureza, como então podemos entender essa inclusão da zoé em bios? É o contexto em que Agamben se confronta com Foucault [8] avisando as consequências catastróficas dessa ligação moderna entre a natureza e a política. Para esclarecer essa inclusão moderna da zoé, Agamben vai voltar a um conceito que Foucault utiliza, mas indica os limites históricos dele. É o conceito da soberania. Em lugar do poder soberano da normação, pensa Foucault, a partir do século XVIII e XIX, temos o poder disciplinar da normalização. Em lugar do poder judiciário ligado ao poder soberano, temos a perspectiva cuja função não é de punir as infrações dos indivíduos, mas de corrigir suas virtualidades. É o novo tipo de poder que Foucault classifica como sociedade disciplinar. É o novo tempo do panoptismo e do olhar vigilante do poder controlando os indivíduos, os corpos e a população. A dúvida que Agamben, neste contexto, tem sobre Foucault é que assim não ficam claros os perigos do novo poder. O que Agamben vê nessa perspectiva é o poder que nos deixa expostos à morte, que nos deixa nos campos de concentração. A pergunta então é: como isso aconteceu?

Mas ficou clara a mudança. Na origem da política temos as condições da produção da vida nua. Ou da vida exposta à morte. A zoé incluída, como pensa a biopolítica de Foucault, fica agora incluída como excluída pelas estruturas políticas e jurídicas. Assim, a biopolítica da modernidade vai em direção a uma tanatopolítica. É o ponto em que Agamben tenta superar o projeto de Foucault.

IHU On-Line - Como é possível compreender que Adolf Eichmann [9] justificou a partir da filosofia kantiana o cumprimento de seus deveres como funcionário do Reich alemão?

Miroslav Milovic - É bom entender que Arendt primeiro procura a inspiração em Kant. Com a faculdade estética do juízo, o ponto, pensa Kant, é como compreendemos a natureza e não o que ela é em si mesma. “O que é a natureza?” é uma pergunta cognitiva e, portanto, não pertence à Terceira Crítica [10]. A natureza existiria mesmo se não houvesse nenhum sujeito transcendental. Ela só não seria determinada conceitualmente. Mas sem o sujeito a natureza não seria bela. Ainda assim, aquilo que se torna o discurso possível sobre o belo não é mais o pensamento teórico. Enquanto as condições de possibilidade da experiência, no que diz respeito à forma, podem ser buscadas na razão, as condições referentes ao conteúdo são fundamentadas pela relação geral das faculdades espirituais. Aqui temos dois motivos importantes para Arendt. Por um lado, temos uma implícita intersubjetividade do juízo e, por outro, essa intersubjetividade não é fundamentada nos conceitos. Temos a possibilidade do prático ou político que não depende da racionalidade. Temos a separação entre o teórico e o prático que Habermas [11] depois irá criticar, porque essa separação cria as condições de uma forte estetização da política. Estetização da política pode significar a política desligada das pessoas, o que Arendt coloca, falando sobre a modernidade, mas pode ser a política desligada da teoria e dos argumentos.

Mas essa arquitetônica do sistema kantiano articula as novas formas, modernas, da primazia do universal. Eichmann, mesmo sem entender, obviamente, as leituras kantianas sobre a subjetividade autônoma, segue isso. Na filosofia kantiana o universal ainda não se constitui pela presença dos Outros. Eichmann segue este dramático monólogo do pensamento.

IHU On-Line - Qual é a atualidade da constatação arendtiana da banalidade do mal, de que Eichmann, ao invés de um monstro, era, na verdade, um burocrata medíocre que não tinha capacidade para entender o mal que praticava?

Miroslav Milovic - Como observa Deleuze [12], Platão não só quer afirmar a primazia do universal representado na filosofia, mas quer expulsar do estado ideal tudo o que não o representa. O sentido do particular não reside na sua diferença, mas na representação do universal. O pensamento também representa e a filosofia é a melhor representação. Hannah Arendt procurará neste contexto o início do mal, ou da banalidade do mal, que determina a Europa moderna. Pensar se relaciona com o universal. Assim o particular desaparece. Eichmann só seguiu essa tirania do dever, que as futuras ontologias têm que enfrentar. Agamben fala sobre isso no final do seu livro Opus Dei (São Paulo: Boitempo, 2013). A burocracia nos fecha no mundo dado. E a nossa tarefa, hoje, é reinventar o mundo.

IHU On-Line - Em que sentido há uma relação entre o mal e a hiper-racionalidade que caracteriza a sociedade contemporânea?

Miroslav Milovic - Vou responder pensando a crítica que Hegel [13] articula contra o jusnaturalismo. O estado da natureza em que se afirma o novo sentido teórico da Modernidade não é o estado de liberdade e dos direitos. Não existem os direitos naturais, pensa Hegel. A questão do direito é um contexto social. O sentido do direito é uma relação com os outros. Hegel acha que isso é assim pelo conceito. Então temos que entender duas perspectivas: uma histórica, que Hegel entende como o caminho da saída de natureza e da afirmação da liberdade, e o outro, o caminho do pensamento, do conceito, de uma articulação conceitual do pensamento. O caminho da liberdade e o caminho do pensamento: duas perspectivas hegelianas inseparáveis. Ele volta para uma palavra quase abandonada na filosofia: a palavra ontologia. Por outro lado, Hegel quer analisar a lógica do pensamento com a qual se chega até o conceito. Desde o início a filosofia hegeliana é uma relação íntima entre a ontologia e a lógica. Só que sua ontologia não será grega. Hegel, mesmo tendo muita simpatia pelo pensamento grego, não concorda com uma pressuposta primazia do geral e do coletivo, que no sentido explícito encontramos em Platão e Aristóteles. Mesmo querendo afirmar o coletivo, de novo Hegel quer fazer isso justificando-o e não postulando-o. A primazia do coletivo tem que ser a consequência do próprio conceito. Por outro lado, Hegel se confronta com a ilimitada afirmação do indivíduo da época moderna, ligada ao avanço do liberalismo. Ele pensa sobre uma outra síntese entre o coletivo e o individual, mas não no sentido de um novo ecumenismo. Essa relação tem que ser entendida como a consequência do próprio conceito. Então, a ontologia que volta não é grega. Ela é história do próprio conceito e não de uma estrutura estática da metafísica, já determinada. O raciocínio de Hegel é fácil. O mundo pré-moderno é uma articulação da metafísica objetiva, onde temos de nos encaixar. É o contexto que ele, por causa disso, várias vezes chama de consciência infeliz e da humilhação do homem, da essência do homem que fica sempre fora dele. O povo judeu é talvez melhor exemplo para isso do que o povo grego. São os gregos, finalmente, que encontram o brilho do coletivo. Mesmo assim, Hegel liga a liberdade só com a Modernidade. Talvez o início que está no jusnaturalismo seja a teoria dos direitos humanos. Mas este mundo — que Hobbes é testemunha — é o mundo da violência, e temos que sair dele, como o próprio Hegel confirma no parágrafo mencionado. Aqui já temos um argumento a mais, ligado à mencionada relação entre a lógica e a ontologia. Temos que sair do Estado de Natureza, não só por causa da violência que lá se encontra, mas porque no direito natural e na natureza, conforme pensa Hegel, temos só a relação com as coisas e não com nós mesmos. Direitos naturais não criam o ambiente para uma específica autocompreensão do ser humano, que Hegel procura. Quem somos nós? E ainda mais, quem somos nós depois da Revolução Francesa? [14] O direito natural não é a nossa autoconsciência. A nossa autoconsciência fica ligada não à natureza, mas ao caminho histórico — que chega até a Revolução Francesa. A natureza não é o lugar do ser humano. Por isso, como mencionamos, fica até contraditório falar sobre os direitos naturais.

Hegel critica a racionalidade moderna, ou a nossa hiper-racionalidade voltando para os pressupostos dela. O sentido do pensamento hoje é devolver aos seres humanos este aspecto ontológico que se perdeu. A discussão sobre os direitos humanos pode se iniciar só por aqui. A dignidade do ser humano está na ontologia dele.

Mas, por outro lado, é fácil indicar as dúvidas sobre Hegel. Rápido. O ser humano não existe só em si, mas sim consciente da sua liberdade. A vida ética, o reconhecimento e, assim, a intersubjetividade é um acontecimento político. Hegel acredita que isso se realiza na Revolução Francesa. São conhecidas as dúvidas de Marx [15] sobre essa emancipação política. Habermas também está fundamentando toda a sua teoria nessa impossibilidade da realização da intersubjetividade na Modernidade. É um perigo político, como vamos ver ainda, pensar a Modernidade como a realização da democracia e da intersubjetividade. Para Habermas ainda é uma possibilidade, para muitos uma impossibilidade de ver a democracia na Modernidade.

Ao lado da questão da intersubjetividade podemos mencionar também a questão da diferença. Não podemos deixar o Estado e o conceito depender das contingências e das decisões individuais. A ideia do Estado é muito mais digna, acha Hegel. A natureza dele é diferente, é a realização da vontade espiritual. Assim, acho, outro nem pode aparecer como outro, mas dentro deste caminho glorioso do espírito. Parece-me que Hegel neste ponto não supera a filosofia kantiana. Em Kant não podemos pensar o encontro com o outro. Outro está dentro de um procedimento reflexivo da filosofia. Outro em Hegel também aparece só no caminho reflexivo do espírito. Essa dificuldade do encontro com outro chega talvez até o próprio Habermas. Ademais, como Hegel, Habermas também não procura uma intersubjetividade econômica, mas uma intersubjetividade política. Ele acha que Hegel ficou só com a filosofia da subjetividade, que agora se chama espírito, e que por causa disso o projeto da intersubjetividade ainda fica aberto. Mas, com todas as dificuldades da Modernidade que vamos discutir, outra pergunta aparece também, agora contra Habermas: qual é o sentido de procurar a intersubjetividade onde ela não pode acontecer? Modernidade não é o mundo da intersubjetividade como acha Hegel e como ainda acredita Habermas.

A teleologia do espírito no final das contas apaga com as diferenças. Neste sentido Hegel vai proclamar o fim da história e a impossibilidade das diferenças sociais. O exemplo das mulheres é ilustrativo. Na Filosofia do Direito, Hegel vai confirmar que elas não superam a natureza e o privado. Elas não chegam até o público e até a perspectiva geral do conceito. Assim, podemos concluir que a modernidade não chega nem até a ideia da intersubjetividade nem até a ideia da diferença. Isso é ainda hoje a diagnose do nosso mundo.

IHU On-Line - A despolitização da modernidade é um sintoma de que tipo de fenômeno mais profundo de nosso tempo?

Miroslav Milovic - A Modernidade, seguindo o raciocínio hegeliano, realiza a nossa liberdade. O indivíduo é reconhecido como tal, como geral, no âmbito social. Somos livres não só na nossa interioridade, mais no mundo também. E ainda mais. Todos somos livres. Por isso a Modernidade representa o fim da história. A razão se realizou e só temos que entender e segui-la. A nossa vida é a repetição do passado. Pouco depois, Marx vê no fundo da Modernidade não a realização da liberdade, mas o conflito profundo entre o capital e o trabalho. É o conflito que a própria Modernidade não pode resolver. Por isso Marx fala sobre a revolução, sobre a mudança ontológica na produção do social. Carl Schmitt [16] entendeu este recado marxista sobre o profundo conflito na Modernidade. Só ele acha que Marx, de uma certa maneira, ainda ficou neste horizonte liberal enfatizando as questões da economia. E as questões não só econômicas, são ainda as políticas. Só Schmitt vê um específico esquecimento da política na Modernidade. Assim, onde Hegel vê o projeto da realização política da liberdade, Schmitt vê as condições da profunda despolitização moderna. É o início de uma outra leitura, agora política, sobre a Modernidade.

O sistema apaga com as subjetividades. A perspectiva da reinvenção da política é a perspectiva dessa articulação das novas subjetividades. É talvez a possibilidade do povo. Ele é, para Schmitt, a subjetividade política que o sistema esqueceu. Ele é a subjetividade da constituição, fala Schmitt várias vezes. Ele é a possibilidade da democracia direta e assim a possibilidade da própria democracia. Todo o trabalho de Schmitt tentando repensar a origem da política é o trabalho que confronta o liberalismo e a democracia. O liberalismo não é a democracia, não porque não pode superar o próprio conflito entre o trabalho e capital, como diria Marx, mas porque se separa das próprias condições da legitimação. A legitimação desaparece no liberalismo, ou se reduz aos critérios técnicos do próprio sistema. Marx e Schmitt estão no início dessa leitura sobre a modernidade despolitizada.

IHU On-Line - O campo como paradigma político moderno é uma das ideias mais inquietantes de Giorgio Agamben. Em que medida essa concepção expressa a essência da máquina de extermínio que moveu a política nazista e as outras políticas persecutórias do século XX para cá?

Miroslav Milovic - A despolitização fica visível nos campos de concentração, como pensa Agamben, por exemplo. Pensamos que somos da cidade, mas no último momento o campo é o nosso espaço político. Os homens do campo são os novos exemplos do homo sacer. Agamben fala aqui dos muçulmanos. Abaladas de fome, ajoelhadas na terra, as pessoas do campo parecem os muçulmanos rezando. Parecem mortos-vivos. É a vida exposta à morte. Aqui fica mais claro o sentido da palavra biopolítica. É uma política sem a política. É uma consequência da despolitização moderna e da perda da liberdade. Estamos longe do otimismo hegeliano falando sobre a realização política da nossa liberdade. Auschwitz [17], Gulag [18], Guantánamo [19]... Ou os povos do Terceiro Mundo? Também incluídos como excluídos.

Estamos, parece, longe da superação da natureza onde aparece o espiritual. A diferença entre a natureza e a liberdade, entre o animal e o humano, tão importante para nossa cultura, existe ainda? E, ademais, fica impossível testemunhar sobre isso. A verdade está dentro do campo, e não fora. E quem está dentro morre e não pode testemunhar. O fato de poder falar, ou o a priori da comunicação não significa nada nessa situação. A possibilidade da comunicação ainda não significa que podemos falar. Um argumento que Agamben articula contra os pensadores de certo a priori da comunicação é o que podemos encontrar em Apel [20] e Habermas. Quem fala é quem sobreviveu. Mas quem sabe o que aconteceu, o Muçulmano, não pode falar. Quem é a verdadeira e única testemunha não pode testemunhar. Estamos neste silêncio sobre o Mal.

IHU On-Line - O aprisionamento e deportação dos judeus só pôde acontecer porque, antes de mais nada, essas pessoas eram tornadas apátridas. Como essa prerrogativa continua a endossar a política que é aplicada aos refugiados hoje?

Miroslav Milovic - Seguindo Hegel estamos chegando até a Revolução Francesa e a decisão política do reconhecimento. Aqui, de novo, Hegel se confronta com Kant. Sabemos que Kant chega até a reciprocidade das vontades, falando sobre o direito e as condições externas da nossa liberdade. Só Hegel acha que Kant não mostra de uma maneira argumentativa como se chega até essa reciprocidade. A solução de Hegel é pelo reconhecimento mútuo dos indivíduos com o qual o indivíduo se afirma como a finalidade em si. Ele chega, assim, até a ideia de que o reconhecimento é o direito de ter direitos. Hannah Arendt vai voltar a este projeto.

Onde esconder-se neste mundo perigoso, onde encontrar os lugares seguros? Seguramente não na casa de um utilitarista cujo cálculo nos pode extraditar aos criminosos. Seguramente não na casa de um kantiano que sempre tem que dizer a verdade. Teria muitas dúvidas sobre a casa de um habermasiano, porque tudo pode acontecer com a nossa vida até encontrarmos uma solução discursiva. Teria também muitas dúvidas na casa de um pós-moderno orientado pela perfeição estética da sua própria vida. O único lugar seguro parece a casa aberta para Outrem. Essa casa que nos oferece a hospitalidade sem a reciprocidade. A hospitalidade poderia ser a palavra para ética hoje.

 

Notas:

[1] Platão (427-347 a.C.): filósofo ateniense. Criador de sistemas filosóficos influentes até hoje, como a Teoria das Ideias e a Dialética. Discípulo de Sócrates, Platão foi mestre de Aristóteles. Entre suas obras, destacam-se A República (São Paulo: Editora Edipro, 2012) e Fédon (São Paulo: Martin Claret, 2002). Sobre Platão, confira a entrevista As implicações éticas da cosmologia de Platão, concedida pelo filósofo Marcelo Perine à edição 194 da revista IHU On-Line, de 04-09-2006. Leia, também, a edição 294 da Revista IHU On-Line, de 25-05-2009, intitulada Platão. A totalidade em movimento.  (Nota da IHU On-Line)

[2] Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.): filósofo nascido na Calcídica, Estagira, um dos maiores pensadores de todos os tempos. Suas reflexões filosóficas — por um lado originais e por outro reformuladoras da tradição grega — acabaram por configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se nos campos da ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural e outras áreas de conhecimento. É considerado, por muitos, o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. (Nota da IHU On-Line)

[3] Hannah Arendt (1906-1975): filósofa e socióloga alemã, de origem judaica. Foi influenciada por Husserl, Heidegger e Karl Jaspers. Em consequência das perseguições nazistas, em 1941, partiu para os EUA, onde escreveu grande parte das suas obras. Lecionou nas principais universidades deste país. Sua filosofia assenta numa crítica à sociedade de massas e à sua tendência para atomizar os indivíduos. Preconiza um regresso a uma concepção política separada da esfera econômica, tendo como modelo de inspiração a antiga cidade grega. Entre suas obras, citamos: Eichmann em Jerusalém - Uma reportagem sobre a banalidade do mal (Lisboa: Tenacitas, 2004) e O Sistema Totalitário (Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1978). Sobre Arendt, confira as edições 168 da IHU On-Line, de 12-12- 2005, sob o título Hannah Arendt, Simone Weil e Edith Stein. Três mulheres que marcaram o século XX e a edição 206, de 27-11-2006, intitulada O mundo moderno é o mundo sem política. Hannah Arendt 1906-1975. Veja também, na edição 207 de 04-12-2006, a entrevista Um pensamento e uma presença provocativos, de Michelle-Irène Brudny. (Nota da IHU On-Line)

[4] Friedrich Nietzsche (1844-1900): filósofo alemão, conhecido por seus conceitos além-do-homem, transvaloração dos valores, niilismo, vontade de poder e eterno retorno. A Nietzsche foi dedicado o tema de capa da edição número 127 da IHU On-Line, de 13-12-2004, intitulado Nietzsche: filósofo do martelo e do crepúsculo. A edição 15 dos Cadernos IHU em formação é intitulada O pensamento de Friedrich Nietzsche. Confira, também, a entrevista concedida por Ernildo Stein à edição 328 da revista IHU On-Line, de 10-5-2010, intitulada O biologismo radical de Nietzsche não pode ser minimizado, na qual discute ideias de sua conferência A crítica de Heidegger ao biologismo de Nietzsche e a questão da biopolítica, parte integrante do Ciclo de Estudos Filosofias da diferença - Pré-evento do XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana. Na edição 330 da revista IHU On-Line, de 24-5-2010, leia a entrevista Nietzsche, o pensamento trágico e a afirmação da totalidade da existência, concedida pelo professor Oswaldo Giacoia. Na edição 388, de 9-4-2012, leia a entrevista O amor fati como resposta à tirania do sentido, com Danilo Bilate. Na edição 513, de 16-10-2017, leia a entrevista Uma política de vida ao invés de uma política sobre a vida. A biopolítica afirmativa de Nietzsche. A edição 529 da IHU On-Line teve como tema de capa Nietzsche. Da moral de rebanho à reconstrução genealógica do pensar. (Nota da IHU On-Line)

[5] Immanuel Kant (1724-1804): filósofo prussiano, considerado como o último grande filósofo dos princípios da era moderna, representante do Iluminismo. Kant teve um grande impacto no romantismo alemão e nas filosofias idealistas do século XIX, as quais se tornaram um ponto de partida para Hegel. Kant estabeleceu uma distinção entre os fenômenos e a coisa-em-si (que chamou noumenon), isto é, entre o que nos aparece e o que existiria em si mesmo. A coisa-em-si não poderia, segundo Kant, ser objeto de conhecimento científico, como até então pretendera a metafísica clássica. A ciência se restringiria, assim, ao mundo dos fenômenos, e seria constituída pelas formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias do entendimento. A IHU On-Line número 93, de 22-03-2004, dedicou sua matéria de capa à vida e à obra do pensador com o título Kant: razão, liberdade e ética. Também sobre Kant foi publicado o Cadernos IHU em formação número 2, intitulado Emmanuel Kant - Razão, liberdade, lógica e ética. Confira, ainda, a edição 417 da revista IHU On-Line, de 06-05-2013, intitulada A autonomia do sujeito, hoje. Imperativos e desafios. (Nota da IHU On-Line)

[6] Thomas Hobbes (1588–1679): filósofo inglês. Sua obra mais famosa, O Leviatã (1651), trata de teoria política. Neste livro, Hobbes nega que o homem seja um ser naturalmente social. Afirma, ao contrário, que os homens são impulsionados apenas por considerações egoístas. Também escreveu sobre física e psicologia. Hobbes estudou na Universidade de Oxford e foi secretário de Sir Francis Bacon. A respeito desse filósofo, confira a entrevista O conflito é o motor da vida política, concedida pela Profa. Dra. Maria Isabel Limongi à edição 276 da revista IHU On-Line, de 06-10-2008. (Nota da IHU On-Line)

[7] Giorgio Agamben (1942): filósofo italiano. É professor da Facolta di Design e arti della IUAV (Veneza), onde ensina Estética, e do College International de Philosophie de Paris. Formado em Direito, foi professor da Universitá di Macerata, Universitá di Verona e da New York University, cargo ao qual renunciou em protesto à política do governo estadunidense. Sua produção centra-se nas relações entre filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre suas principais obras estão Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002), A linguagem e a morte (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005), Infância e história: destruição da experiência e origem da história (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006); Estado de exceção (São Paulo: Boitempo Editorial, 2007), Estâncias – A palavra e o fantasma na cultura ocidental (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007) e Profanações (São Paulo: Boitempo Editorial, 2007). Em 4-9-2007, o sítio do Instituto Humanitas Unisinos - IHU publicou a entrevista Estado de exceção e biopolítica segundo Giorgio Agamben, com o filósofo Jasson da Silva Martins. A edição 236 da IHU On-Line, de 17-9-2007, publicou a entrevista Agamben e Heidegger: o âmbito originário de uma nova experiência, ética, política e direito, com o filósofo Fabrício Carlos Zanin. A edição 81 da publicação, de 27-10-2003, teve como tema de capa O Estado de exceção e a vida nua: a lei política moderna. Em 30-6-2016, o professor Castor Bartolomé Ruiz proferiu a conferência Foucault e Agamben. Implicações Ético Políticas do Cristianismo. De 16-3-2016 a 22-6-2016, Ruiz ministrou a disciplina de Pós-Graduação em Filosofia e também validada como curso de extensão através do IHU intitulada Implicações ético-políticas do cristianismo na filosofia de M. Foucault e G. Agamben. Governamentalidade, economia política, messianismo e democracia de massas, que resultou na publicação da edição 241 dos Cadernos IHU ideias, intitulado O poder pastoral, as artes de governo e o estado moderno. Em 23 e 24-5-2017, o IHU realizou o VI Colóquio Internacional IHU – Política, Economia, Teologia. Contribuições da obra de Giorgio Agamben, com base sobretudo na obra O reino e a glória. Uma genealogia teológica da economia e do governo (São Paulo: Boitempo, 2011. Tradução de: Il regno e la gloria. Per una genealogia teológica dell’ecconomia e del governo. Publicado originalmente por Neri Pozza, 2007). Saiba mais aqui. Em 2017 a revista IHU On-Line publicou a edição Giorgio Agamben e a impossibilidade de salvação da modernidade e da política moderna, nº 505. (Nota da IHU On-Line)

[8] Michel Foucault (1926-1984): filósofo francês. Suas obras, desde a História da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte), situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento. Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas do termo. Em várias edições, a IHU On-Line dedicou matéria de capa a Foucault: edição 119, de 18-10-2004; edição 203, de 6-11-2006; edição 364, de 6-6-2011, intitulada 'História da loucura' e o discurso racional em debate; edição 343, O (des)governo biopolítico da vida humana, de 13-9-2010, e edição 344, Biopolítica, estado de exceção e vida nua. Um debate. Confira ainda a edição nº 13 dos Cadernos IHU em formação, Michel Foucault – Sua Contribuição para a Educação, a Política e a Ética. (Nota da IHU On-Line)

[9] Adolf Otto Eichmann (1906-1962): oficial do alto escalão na Alemanha Nazista e membro da SS (Schutzstaffel). Foi largamente responsável pela logística do extermínio de milhões de pessoas durante o Holocausto, em particular pelos judeus, na chamada Solução Final. Organizou a identificação e o transporte de pessoas para os diferentes campos de concentração, sendo por isso conhecido frequentemente como o executor chefe do Terceiro Reich. (Nota da IHU On-Line)

[10] Terceira Crítica ou Terceira fórmula de Kant: Refere-se a Crítica do faculdade do juízo (Crítica da faculdade do juízo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993) (Nota da IHU On-Line)

[11] Jürgen Habermas (1929): filósofo alemão, principal estudioso da segunda geração da Escola de Frankfurt. Herdando as discussões da Escola de Frankfurt, Habermas aponta a ação comunicativa como superação da razão iluminista transformada num novo mito, o qual encobre a dominação burguesa (razão instrumental). Para ele, o logos deve construir-se pela troca de ideias, opiniões e informações entre os sujeitos históricos, estabelecendo-se o diálogo. Seus estudos se voltam para o conhecimento e a ética. (Nota da IHU On-Line)

[12] Gilles Deleuze (1925-1995): filósofo francês. Assim como Foucault, foi um dos estudiosos de Kant, mas tem em Bérgson, Nietzsche e Espinosa poderosas interseções. Professor da Universidade de Paris VIII, Vincennes, Deleuze atualizou ideias como as de devir, acontecimentos, singularidades, conceitos que nos impelem a transformar a nós mesmos, incitando-nos a produzir espaços de criação e de produção de acontecimentos-outros. (Nota da IHU On-Line)

[13] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, desenvolveu um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a edição 217 da IHU On-Line, de 30-4-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel 1807-2007, em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261, de 9-6-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler Hegel; Hegel. A tradução da história pela razão, edição 430, disponível em  e Hegel. Lógica e Metafísica, edição 482. (Nota da IHU On-Line)

[14] Revolução Francesa: nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799, alterou o quadro político e social da França. Começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário, de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da independência estadunidense (1776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade. A Revolução Francesa é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), lema de autoria de Jean-Jacques Rousseau. (Nota da IHU On-Line)

[15] Karl Marx (1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século 20. A edição 41 dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx. Também sobre o autor, a edição número 278 da revista IHU On-Line, de 20-10-2008, é intitulada A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. A entrevista Marx: os homens não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcântara Figueira, foi publicada na edição 327 da IHU On-Line, de 3-5-2010. A IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro de Thomas Piketty O Capital no Século XXI, que retoma o argumento central de O Capital, obra de Marx. A revista IHU On-Line, edição 525, intitulada Karl Marx, 200 anos - Entre o ambiente fabril e o mundo neural de redes e conexões, em celebração aos 200 anos do nascimento do pensador. (Nota da IHU On-Line)

[17] Auschwitz-Birkenau: nome de um grupo de campos de concentração localizados no sul da Polônia, símbolos do Holocausto perpetrado pelo nazismo. A partir de 1940 o governo alemão comandado por Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio nesta área, então na Polônia ocupada. Houve três campos principais e 39 campos auxiliares. Como todos os outros campos de concentração, os campos de Auschwitz eram dirigidos pela SS comandada por Heinrich Himmler. (Nota da IHU On-Line)

[18] Gulag (em português, Administração Geral dos Campos de Trabalho Correcional e Colônias): era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão em geral que se opusesse ao regime da União Soviética. Todavia, a grande maioria era de presos políticos. No campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos comuns e 5200 presos políticos. Antes da Revolução, o Gulag chamava-se Katorga, e aplicava exatamente a mesma coisa: pena privativa de liberdade, pena de trabalhos forçados e pena de morte. (Nota da IHU On-Line)

[19] Guantánamo: capital da província de Guantánamo, situada no sudeste de Cuba. A 15km da cidade, foi implantada a base naval dos Estados Unidos da América de Guantánamo. É no interior desta base que se encontra a prisão de Guantánamo, medindo 117,6 km² e alugada pelo governo norte-americano por 4 085 dólares por ano. Desde janeiro de 2002 estão encarcerados nesta base prisioneiros afegãos e iraquianos acusados de ligação com os grupos Taleban e Al-Qaeda, em uma área excluída do controle internacional, concernando as condições de detenção de seus prisioneiros. Segundo a Cruz Vermelha internacional, esses prisioneiros seriam vítimas de tortura. (Nota da IHU On-Line)

[20] Karl-Otto Apel (1922): filósofo alemão que combina as tradições filosófica, analítica e continental. Professor emérito da Universidade de Frankfurt am Main. (Nota da IHU On-Line)

 

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