Diagnóstico e possibilidades da Ilha da Praia do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS

  • Terça, 19 de Abril de 2016

A partir da urbanização nas grandes cidades, alguns locais mantêm-se esquecidos. A Ilha da Praia, sendo um destes lugares, necessita de requalificação urbana em São Leopoldo. Assim, obteve-se um projeto de requalificação do entorno e toda a extensão da ilha, com ênfase na valorização do Rio dos Sinos e na educação ambiental a partir do estudo de Izabele Colusso e Julia Rolim.

Ampliar a análise e o debate sobre as realidades do Vale do Rio dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre a partir das contribuições de acadêmicos e trabalhadores por meio de sistematizações de pesquisas e/ou experiências de intervenção é o objetivo do edital de Apresentação de trabalhos para publicação pelo ObservaSinos/Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Em 2015, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o edital a fim de dar espaço para pesquisas e/ou experiências na região dos Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre, que contou com a participação de trabalhos que analisaram diferentes realidades a partir de diferentes perspectivas.

O trabalho “Diagnóstico e possibilidades da Ilha da Praia do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS” foi realizado pela graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos, Julia Rolim, sendo orientada pela professora Izabele Colusso do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Unisinos e Coordenadora da Especialização em CIDADES – Gestão Estratégica do Território Urbano e pela .

Eis o texto:

1. Introdução

A cidade de São Leopoldo está localizada próximo à capital do estado, Porto Alegre, RS. A cidade também faz parte do Corede do Vale do Rio dos Sinos-RS. Possui 214.087 habitantes e uma área total de 102,739 km2.

 

Imagem aérea da cidade de São Leopoldo

Imagem: wikipedia.org

São Leopoldo foi habitada por índios carijós e por imigrantes açorianos. Era um vilarejo conhecido como Feitoria do Linho-cânhamo quando chegaram os primeiros 39 imigrantes alemães à região, em 25 de julho de 1824, enviados pelo imperador brasileiro Dom Pedro I para povoar a localidade. Tradicionalmente, a cidade é reconhecida como sendo o berço da colonização alemã no Brasil, título este reconhecido, inclusive, por lei federal. (Wikipédia).

1.1 Fragmentos do passado: O Rio dos Sinos e sua relação com São Leopoldo

Imagem: wikipedia.org

Como podemos observar nas imagens, São Leopoldo tinha uma relação de cumplicidade com seu Rio, e as pessoas usufruíam dele de forma saudável e colaborativa. A cidade teve seu desenvolvimento às margens do Rio dos Sinos, o qual até hoje proporciona crescimento para seu município, apesar de este ignorar sua existência.

Imagem: wikipedia.org

O Rio dos Sinos representa importante elemento geográfico para a cidade. Sua Bacia Hidrográfica, apesar de representar uma região relativamente pequena em relação ao Estado do Rio Grande do Sul, concentra intensa atividade econômica, sobretudo industrial e agrícola, sendo responsável pelo abastecimento de água para uma população que gira em torno de 1.500.000 pessoas. O Rio dos Sinos (principal rio da Bacia Hidrográfica) exerce papel de fundamental importância como referencial geográfico, cultural e de recurso natural essencial à região. Ações para a utilização consciente desse patrimônio tornam-se urgentes, na medida em que a sociedade depende dele para a sua sobrevivência. Nesse contexto, trabalhar fatores envolvendo a atratividade turística se mostra de grande valia frente aos princípios constitucionais de desenvolvimento sustentável, solidariedade, educação ambiental, prevenção, entre outros. Portanto, no caso do Rio, é imperativo maior atenção no quesito de elaborar um projeto integrado e sustentável que possa favorecer a população no direito de uso desse bem, visando à sua valorização e preservação. (Fonte: A sustentabilidade em crise no Rio dos Sinos, RS: o sistema jurídico brasileiro e as possibilidades de turismo sustentável, 2011/2012).

Imagem: wikipedia.org

A área em questão – a Ilha da Praia – encontra-se às margens do Rio dos Sinos, mais precisamente na cidade de São Leopoldo. A Ilha da Praia possui uma área de 38.611,03 m², circundada de uma vegetação abundante e de edificações históricas que deram início à cidade de São Leopoldo. O local possui um grande desnível nos principais acessos, chegando a atingir 5,5 metros.

1.2 Área de Intervenção: RUA DA ILHA DA PRAIA

 

Imagem: Julia Rolim

 

Imagem: Julia Rolim

2. Diagnóstico da Situação Atual

A Ilha da Praia encontra-se em uma situação de completo abandono. A única rua existente no local não possui pavimentação e a iluminação é escassa, fazendo dali um lugar perigoso, pouco frequentado e, consequentemente, pouco conhecido. Mas, em contraponto a este abandono, encontramos belos visuais, onde a natureza, em meio à poluição, pede socorro. O lugar é rico em Fauna e Flora, podendo ser um refúgio verde no meio da loucura da cidade de São Leopoldo; além disso, seria o local em que as pessoas poderiam ter um contato mais próximo com o Rio dos Sinos, entendendo a importância da sua existência e o cuidado que é preciso ter com ele. Em seu entorno, possui edificações de importância histórica e cultural para São Leopoldo, como o Museu do Rio dos Sinos, a Ponte 25 de Julho, o marco dos Imigrantes, dentre outras edificações e símbolos que contam a história da cidade e como ela foi fundada.

Imagens ao longo da Rua.

Fotos: Julia Rolim

Como mencionado anteriormente, apesar do abandono, a área possui uma natureza exuberante e que ainda sobrevive a todos esses problemas, mas que pede socorro, que nos faz repensar a maneira como estamos desprezando a localidade que está definhando aos poucos, sem contar com a ajuda da sociedade e do poder público, que ignoram qualquer possibilidade de recuperação do local. Foi pensando nisso, como também para que as pessoas pudessem repensar a situação do Rio dos Sinos, que o projeto foi proposto.

Visuais que se encontram na área.

Foto: Julia Rolim

 

Restaurante e partida do Martin pescador (Barco que faz passeios pela região).

Foto: Julia Rolim

 

Foto: Julia Rolim

Foto panorâmica da Ponte 25 de julho, mostrando o vínculo da ilha com a cidade.

Foto: Julia Rolim

Arvore símbolo do projeto, foi inspiração para o conceito. Está localizada às margens da ligação da ponte coma Avenida Caxias do Sul.

Foto: Julia Rolim

Ponta da ilha, onde o Sol de põe, proporcionando um dos mais belos pores do sol, localização NORTE.

Foto: Julia Rolim

Local onde acontece o Nascer do Sol, localização SUL.

Foto: Julia Rolim

Face coma Ponte 25 de julho e o centro histórico.

Foto: Julia Rolim

 

Início da Rua, onde se encontra o Museu do Rio dos Sinos.

Foto: Julia Rolim

2.1 Levantamentos

A partir da escolha da área e do diagnóstico da localidade, fizemos uma série de levantamentos para podermos tomar as decisões pertinentes ao projeto, como seus principais acessos, a massa de vegetação, a cota de inundação, a vegetação existente no local e a taxa de poluição, que é elevada na localidade. Abaixo podemos verificar os resultados encontrados.

2.1.1 Rio dos Sinos e sua atual situação

Imagens: wikipedia.org / Gráficos: Julia Rolim

A situação atual do Rio dos Sinos é de grande preocupação, pois hoje ele se encontra na incômoda 4ª posição de Rio mais poluído do Brasil, segundo dados do IBGE. Se no passado o Rio era motivo de grandes diversões e podíamos usufruir dele de maneira efetiva, na atualidade não possui condições para banho, sendo que 95% de sua poluição é de esgoto doméstico e 5% é de esgoto industrial, segundo dados do COMITÊ SINOS. Vemos que a própria população tem responsabilidade nestes dados, assim como o poder público; ou seja, todos somos responsáveis.

2.1.2 Análise dos levantamentos
A área possui fácil acesso, pois existe todo o tipo de modal. A Rodoviária encontra-se em seu entorno, fazendo essa comunicação da região metropolitana; além disso, ônibus municipais passam ao lado. O trem possui uma estação a cerca de 2 km, podendo-se fazer o deslocamento a pé até o local; a BR 116 corta a área, dando acesso tanto pelo centro na Ponte 25 de julho, quanto pela Avenida Caxias do Sul. Podemos avaliar no mapa abaixo as possibilidades de chegada até a área.

Imagem: Julia Rolim

Na mobilidade urbana, podemos identificar as possibilidades de transporte que a localidade permite, os tipos de ônibus, quais passam pela área, de que maneira podemos chegar a pé ou de carro.

O mapa abaixo permite visualizarmos que o local tem grande potencialidade pela sua localização, que é muito privilegiada, situando-se em uma área nobre e central da cidade.

Imagem: Julia Rolim

A área possui grandes massas de vegetação, e, por se tratar de uma área de preservação ambiental, temos todo o interesse de que seja preservada a vegetação existente, estimulando o plantio de novas mudas.

Imagem: Julia Rolim

No mapa abaixo, temos a informação de que tipo de atividades o seu entorno possui, desta forma podemos diagnosticar o público que possuímos na região. Por se tratar do centro da cidade, temos amplas possibilidades em termos de usos.

Imagem: Julia Rolim

É de extrema importância sabermos o que a Legislação nos permite na área e o que o poder público imaginou para a localidade, mas isso é percebido de maneira não muito clara, pois o poder público não vai a fundo na área em questão, definindo o que pode ou não somente em um corte da área, sendo ela de interesse cultural, como podemos visualizar no mapa em questão.

Imagem: Julia Rolim

Foi feita a análise das edificações existentes em seu entorno e dentro da Ilha, avaliando uma a uma sua Importância Histórica e Arquitetônica. Além disso, possuímos bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado - IPHAE que de forma alguma podem ser descartados.

Imagem: Julia Rolim / Fotos: wikipedia.org

                                                                 Fotos: wikipedia.org

O mapa síntese nada mais é do que a situação atual geral. De forma ilustrativa, abaixo podemos verificar que a área tem como prioridade o carro, não possui nenhum tipo de acessibilidade, tem pouco comércio e algumas residências; além disso, há edificações de patrimônio histórico e cultural, mas seu potencial é pouco explorado.

Imagem: Julia Rolim

3. Delineamento de Possibilidades

Apesar de a área não possuir uma boa infraestrutura no momento, pude perceber, em minhas idas a campo, que os usuários que frequentam o local clamam para que a ilha seja devolvida a eles de maneira efetiva, com a reformulação do local, não perdendo sua identidade. Além disso, São Leopoldo representa a maior parcela em terra de seu território que tem a possibilidade de usufruir do Rio, e não como se encontra hoje, em que a cidade virou às costas pro seu Rio’’, com a criação dos diques nos anos 80 e 90 para combater as cheias que inundavam a cidade. Desta forma a população vê de maneira positiva a valorização deste local central e nobre, onde estaria vislumbrando a conscientização da importância que o Rio dos Sinos tem para a população do Vale do Sinos, com um vasto programa de Reeducação Ambiental e recuperação do patrimônio histórico existente na Ilha, ainda trazendo outras atividades de forma a movimentar de maneira saudável e responsável o território em questão.

Assim sendo, o tema prevê a requalificação da Ilha da Praia, consistindo na criação de conexões com a cidade e a preservação do bem histórico, bem como o cuidado com a fauna e flora existentes no local, devolvendo a São Leopoldo uma área nobre, que com o passar dos anos ficou esquecida. O projeto contempla espaços que estejam em harmonia com o rio. Toma como base o papel de preservação e valorização do Rio dos Sinos, trazendo atividades de educação ambiental, feiras temáticas, espaços de convivência, esporte, lazer, gourmet e os visuais que essa combinação proporciona e buscando futuramente usufruir do Rio para banho. O Comitesinos vislumbra, em uma posição otimista, que daqui a 16 anos possamos utilizá-lo para banho; desta forma o projeto prevê um espaço destinado a isso, que seria feito somente com esta afirmação, que depende de ações da comunidade e do poder público.

3.1. Mapa Proposta / Conceito / Mobilidade Proposta

Imagem: Julia Rolim

O mapa proposta prevê a inversão do que acontece na área hoje. O perfil existente seria dedicado ao usuário, com boa iluminação, bancos e atividades de interação em toda sua extensão, comunicação direta com o Rio e vegetação em abundância. Por se tratar de uma área de preservação ambiental, o carro é retirado da ilha, dando lugar às pessoas a pé e de bicicleta. O percurso prevê ciclovias e pistas de caminhadas; além disso, a acessibilidade universal é levada para localidade, fazendo do lugar acessível a todos.

O conceito utiliza uma imagem da área para demonstrar a interação do projeto com seu ideal. "Como uma semente que cultivamos e aguamos, ao longo do tempo se transforma em uma linda e frondosa árvore", isto é, a partir do momento que iniciamos um processo de recuperação de uma área, plantamos uma semente que leva um tempo para se tornar essa linda árvore. Tempo, dedicação e responsabilidade com o que queremos é fundamental para que os projetos realmente saiam do papel, e o projeto visa ao plantio desta semente em prol da recuperação do seu bem natural.

Imagem: Julia Rolim

O programa prevê atividades que interajam com os usuários tanto durante o dia quanto à noite, vislumbrando técnicas sustentáveis e que preservem o bem natural e histórico.

A mobilidade proposta prevê um percurso exclusivo para ciclovia, criando conexões com a cidade dando ligação à ciclovia existente em Novo Hamburgo e criando uma segunda em São Leopoldo, indo em direção ao trem. O carro não possui prioridade, ficando delimitado às bordas da área.

Imagem: Julia Rolim

Nos esquemas acima, podemos verificar, de maneira clara, os percursos propostos de pedestres e com acessibilidade, assim como as conexões de acesso à ilha e onde ficam os estacionamentos de veículos. O plantio de árvores em lugares onde ainda não havia também é levado em consideração.

3.2 Programa / Diretrizes

Imagem: Julia Rolim

O Programa está diretamente vinculado com as Diretrizes de projeto. Pensando em movimentar a área de maneira efetiva, a ilha recebeu uma série de atividades no intuito de valorização e desenvolvimento da área. Além disso, busca ligações diretas com seu entorno, criando envolvimento e dinamismo.

Abaixo a identificação destas atividades e suas funções para cada localidade da área:

Imagem: Julia Rolim

4. O projeto

A partir dos levantamentos mostrados anteriormente e do lançamento de proposta, chegamos ao projeto que se adequaria à situação do local e devolveria a área de maneira efetiva ao seu usuário. Desse modo se faria da Ilha um lugar de extrema importância para região do Vale do Sinos, pois ela representaria a recuperação do meio ambiente em um âmbito referente ao Rio dos Sinos e seria um marco para cidade de São Leopoldo, tornando-se referência em área verde sustentável e preservação da história e identidade da cidade.

4.1 Proposta para o Entorno

Imagem: wikipedia.org

Acima são mostradas as soluções adotadas para seu entorno, como o estacionamento verde, que busca versatilidade em sua formulação, pois possui uma ampla arborização, tendo respiros que permitem ter a função não somente de estacionamento, mas também pode ser um espaço de feiras, Food trucks e espaços de convivência, lugar de encontro de pessoas. Além disso, encontra-se no local a locação de bicicletas e carros acessíveis. Uma nova conexão foi criada, que seria um grande portal verde, uma ponte que abriga pedestres, bicicletas e carros acessíveis (carros de golfe adaptados para cadeirantes, pessoas idosas e pessoas com dificuldade de mobilidade). Com ampla vegetação, a ponte é feita de metal e será um grande marco visual na paisagem. Pensando na sustentabilidade, foi assumida uma bacia de contenção como uma lagoa de macrófitas, estimulando a técnica e trazendo grupos de estudo para área.

4.2 Implantação

Imagem: wikipedia.org

 

A Implantação contempla o programa e as diretrizes em forma de projeto. Se verificarmos a legenda, podemos identificar todas as atividades de entorno e na área de intervenção, a Ilha, as massas de vegetação, conexões, tipos de pisos, o projeto como um todo.

Abaixo, as imagens que representam o projeto:

Legenda na implantação: P - Acesso principal, portal verde - vista de dentro da ilha

Legenda na Implantação: P - Acesso principal, portal verde - vista da ponte

Legenda na implantação: L - Percurso de ciclovia e pistas de corrida, área de biblioteca ao ar livre, feita de mobiliários sustentáveis como Pallets

 

Legenda na implantação: b - Rua House Night, onde funcionam bares de containers, trazendo movimento durante a noite e sendo edificações flutuantes em função da cota de inundação

Legenda na implantação: b - Rua House Night, onde funcionam bares de containers, trazendo movimento durante a noite e sendo edificações flutuantes em função da cota de inundação.

Legenda na Implantação: b - Zona Gourmet, utilizando o dique de contenção com Containers, vista da ilha

Legenda na Implantação: b - Zona Gourmet, utilizando o dique de contenção com Containers, vista do Dique

Legenda na Implantação: O - FEIRINHA, com os mais variados produtos

Legenda na Implantação: I - Anfiteatro Rio dos Sinos

5. Considerações finais

Com o interesse de concretizar e viabilizar uma proposta de recuperação da área, a aluna Júlia Rolim, responsável pela proposta acima, que buscar mostrar o potencial do local, se uniu aos também arquitetos Carine Berger e Cléber da Rosa. São Leopoldo nasceu a partir do Rio dos Sinos. Com o Movimento Reviva não foi diferente. A partir de trabalhos finais de graduação, os arquitetos Júlia Rolim, Carine Berger e Cléber da Rosa – que pesquisaram a fundo a história da evolução urbana de São Leopoldo – perceberam que os assuntos como a qualidade da paisagem urbana e a valorização do patrimônio cultural estavam longe de se esgotarem. Não se tratava de uma hipótese que depois de defendida poderia ser arquivada com o sentimento de dever cumprido. O assunto merecia mais atenção.

Existe algo em São Leopoldo que prende o habitante, que o faz amar esta cidade. Algo que vai além de questões emocionais do imaginário particular. A cidade tem uma alma, mas ela desfalece. Não existe vida na cidade como outrora, apenas iniciativas isoladas que poderiam estar acontecendo em qualquer outro lugar sem prejuízo algum. A cada dia os prédios antigos dão lugar a empreendimentos nada acolhedores, e o sentimento de que a cidade está caminhando para a incerteza toma conta. É quase impossível um jovem olhar fotos antigas da cidade e não ser tomado por um sentimento de saudade de um lugar onde nunca esteve. Ora, se o passado parece melhor que o presente, o que aconteceu no meio do caminho? Por que a cidade é como é, e não é de outra forma?

São Leopoldo poderia ser muito mais interessante. Ela não se aproveita a si mesma. É comum verificarmos pessoas se deslocando para cidades vizinhas – às vezes a Porto Alegre – para tomar um simples chimarrão enquanto desfrutam de uma paisagem interessante. Por que temos de nos deslocar 80 quilômetros para termos isso?

Como aponta Carlos N. F. Santos (1988) “todos os habitantes formulam uma imagem coletiva do lugar onde vivem”. Sendo assim, o que é daqui que só poderia acontecer aqui? Quando essa resposta começa a demorar a sair ou nem acontece é sinal de que a cidade não vai bem.

O Rio dos Sinos, aquele que gerou São Leopoldo e até hoje nos alimenta, é sem dúvida uma das respostas para o problema da identidade cultural e da qualidade ambiental. Talvez a pergunta central que conceitua o Movimento Reviva seja: E se hoje fosse liberada verba para executar um projeto de requalificação da orla do Sinos junto à Ponte 25 de Julho (por exemplo), nós saberíamos o que fazer? Existe uma demanda, um projeto, um sonho que represente a comunidade leopoldense em sua integralidade cultural? A resposta é não, possuímos intenções de projeto com grande potencial, mas devemos ir mais a fundo neste assunto. Não só em relação à área central, mas também a outras partes da cidade.

Inspirado pelos princípios do Estatuto da Cidade, o Reviva é uma iniciativa de empreendedorismo social que busca ser um articulador entre o poder público, as instituições de ensino e a comunidade, promovendo eventos que abordem a dialética da requalificação da paisagem, da preservação da memória da cidade e do desenvolvimento sustentável. De maneira a viabilizar a proposta, teríamos como fontes de custeio o PAC, Recursos a fundo perdido, Emendas parlamentares (projetos levados por deputados), eventualmente até o FNC (Fundo Nacional de Cultura), além da possibilidade de apoio privado.

Como primeira atividade prática, os integrantes planejam uma Oficina de Desenho Urbano, a fim de debater ideias e projetos em torno da orla do Rio dos Sinos, envolvendo a Unisinos, o Poder Municipal e a comunidade em geral.

Reviva São Leopoldo: empreendedorismo social a serviço da requalificação da paisagem urbana e valorização do patrimônio cultural.

 

Por Izabele Colusso e Julia Rolim