Stédile refuta golpismo e diz que agenda de Renan 'é sacanagem'

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Por: Cesar Sanson | 14 Agosto 2015

A presidenta Dilma Rousseff recebeu, no Palácio do Planalto, lideranças dos sindicatos, movimentos sociais e do movimento estudantil. João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em entrevista à Rádio Brasil Atual, considera a Agenda Brasil proposta pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), uma ‘sacanagem’ e diz que Dilma não pode ficar refém de parlamentares e da mídia.

A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 13-08-2015.

Na opinião de Stédile, a situação em que o Brasil se encontra hoje é histórica e grave, por conta da aglutinação das crises econômica, social e política. A economia está parada, com um processo de desindustrialização que afeta o emprego e o salário dos trabalhadores. As grandes cidades apresentam graves problemas sociais. E a crise política ocorre, acrescenta, porque a democracia foi "sequestrada" pelas empresas, por meio do financiamento privado de campanhas eleitorais, que resultou em bancadas de empresas, em vez de partidos, no Congresso.

Diante desse cenário de crise, diz Stédile, é preciso encontrar saídas coletivas, em contraposição às propostas dos empresários, que pretendem o realinhamento da nossa economia com os Estados Unidos, a defesa do Estado mínimo, com corte de gastos em políticas e programas sociais, e redução do que os empresários chamam de Custo Brasil, com a retirada de direitos trabalhistas. Mas ele lembra que tais propostas foram derrotadas por quatro vezes consecutivas nas urnas.

O integrante da coordenação nacional do MST critica setores da classe média brasileira reacionária que, segundo ele, se identificam com as ideias atrasadas da direita e acham que a saída para a crise é o golpe, com a destituição de Dilma da presidência.

"Isso é uma idiotice completa porque, primeiro, a saída da presidenta não representaria nenhuma solução, nem para a crise econômica, nem para a crise política, nem para a crise social. Ao contrário, só agravaria tudo porque introduziria então uma nova crise, a institucional. Porque o povo brasileiro, nas eleições de outubro, elegeu não só a presidenta, elegeu governadores, o parlamento, e nós temos que preservar essa democracia, senão todos os eleitos estarão sub judice.”

Para Stédile, a defesa dos direitos dos trabalhadores deve ser o eixo central a unir movimentos populares e militantes de partidos políticos em uma agenda unificada que aponte saídas para o cenário de crise.

"Lutamos 20 anos contra a ditadura, contra o neoliberalismo, e agora não podemos aceitar nenhum recuo nos direitos dos trabalhadores. (...) Temos que defender os direitos sociais que atingem a toda a sociedade. (...) Não podemos aceitar nem golpe, nem nenhuma formula jurídica mirabolante de afastamento dos governantes. Eles podem estar certos ou errados, mas têm o direito de ir até o fim. (...) Temos que defender a soberania do nosso país frente aos ataques que vêm de fora, que não é paranoia, e que se expressam na tentativa de privatizar o pré-sal, de aumentar as privatizações das nossas empresas."

No dia 5 de setembro, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, está marcada uma grande conferência nacional popular para debater uma plataforma de desenvolvimento do país. Stédile espera que o esforço de construção dessa unidade não se restrinja ao combate à direita, ou tenha apenas um caráter eleitoral, mas que garanta consistência programática para levar adiante "mudanças estruturais e populares que o Brasil precisa", dentre elas as reformas tributária, agrária, educacional, dos meios de comunicação e do poder Judiciário.

"Na minha opinião, essa proposta que o (presidente do Senado) Renan Calheiros e o PMDB apresentaram, com o nome de Agenda Brasil, é uma sacanagem, no bom português. Isso é uma tentativa de mudar a verdadeira agenda do Brasil e aceitar, de forma dissimulada, aquele programa que a burguesia quer implementar."

Apesar da conjuntura de crise, Stédile diz que não há as mínimas condições políticas e institucionais para um golpe. "O que os donos do capital querem é a estabilidade institucional para continuar ganhando dinheiro."

No entanto, o líder do MST reconhece o recrudescimento de posições reacionárias, principalmente no seio da classe média, "que não suporta essa política de ascensão social que tirou 40 milhões da miséria, que levou a que muitos pobres andassem de avião, que garante carteira assinada para as empregadas domésticas. Uma classe média, sobretudo paulistana e carioca, que não aceita."

"Para enfrentar essa insatisfação popular, que o povo já está sentido no supermercado, na elevação da tarifa da luz elétrica, na diminuição do emprego, o governo tem que mudar a política econômica. Parar de pagar juros. Neste ano, está previsto o pagamento de R$ 250 bilhões em juros. Deslocar esses recursos para o BNDES, para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica, e fazer investimentos pesados na construção civil, para resolver o problema da moradia, no transporte público, o governo poderia encomendar milhares de ônibus, mandar fazer trens para o metrô, e na indústria, que é a única que pode dar emprego com qualidade", afirma o dirigente do MST.

Outra prioridade para o líder do MST é a reforma política, que não depende do governo, mas ele pode agir politicamente, convocando a sua base parlamentar para trabalhar nessa questão. "Enquanto não houver uma reforma política séria neste país, a cada eleição teremos uma Lava Jato."

Na semana passada, o MST ocupou o ministério da Fazenda e todas os escritórios nos estados. Como resultado, Stédile diz que interlocutores do governo se comprometeram a recuperar o orçamento da reforma agrária e assumir o compromisso da presidenta durante a campanha eleitoral de acelerar os assentamentos de 120 mil famílias que estão acampadas.

Stédile afirma que a militância estará nas ruas. "Não vamos deixar que aconteça um golpe. Não seria um golpe contra Dilma, mas contra a democracia e a possibilidade de mudanças reais."

No dia 20, está prevista uma grande manifestação em resposta aos ataques da direita, com mobilizações e passeatas em todas as capitais do Brasil. Em São Paulo, a concentração será no Largo da Batata, e a caminhada deve seguir até a sede da Rede Globo. No dia 7 de setembro, os movimentos populares voltam às ruas no Grito dos Excluídos, realizado há mais de 20 anos, no centro da capital paulista.

O líder do MST condenou ainda o silêncio da mídia sobre o atentado contra o Instituto Lula no último dia 30, e deixou um recado. "Repito a ousadia que Ciro Gomes disse em uma entrevista recentemente: 'vocês não ousem se atrever a fazer um golpe, porque nós somos bons de briga e não vamos ficar em casa parados'", afirma, acrescentando que grande parte da população permanece atônita, mas que se perceber riscos reais à democracia e às mudanças sociais em curso, "aí sim teremos grandes mobilizações de massa em todo o país".

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