O Papa anuncia o “Jubileu da misericórdia”

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16 Março 2015

“A mensagem de Jesus é a misericórdia. Para mim, digo-o humildemente, é a mensagem mais forte do Senhor”, disse, na homilia na Igreja Paroquial de Santa Ana no Vaticano, quatro dias depois de ter sido eleito Papa.

“Eu creio que este é o tempo da misericórdia”, disse durante a conferência de imprensa quando voltava de sua primeira viagem internacional ao Brasil, aos 29 de julho de 2013.

“A misericórdia não é somente um virtude pastoral, e sim a própria substância do Evangelho”, escreveu numa carta enviada segunda-feira passada à Universidade Católica Argentina.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 13-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.

O tema da misericórdia tem sido central nestes primeiros anos de Pontificado, e hoje, no segundo aniversário de sua eleição como Pontífice, Francisco anunciou a promulgação de um Ano Santo da Misericórdia. Foi o Papa em pessoa quem o comunicou, durante a liturgia penitencial que presidiu na Basílica de São Pedro e na qual ouviu a confissão de alguns fiéis. Este Jubileu Extraordinário começará no próximo dia 8 de dezembro, no quinquagésimo aniversário de fechamento do Concílio Ecumênico Vaticano II, e durará até a festa de Cristo Rei, em novembro de 2016.

São estas as palavras com as quais o Papa anunciou o Ano Santo: “Queridos irmãos e irmãs, tenho pensado amiúde como poderia a Igreja tornar mais evidente sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual. Por isso decidi promulgar um Jubileu Extraordinário que tenha em seu centro a misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da Palavra do Senhor: “Sejam misericordiosos como o Pai” (Lc 6, 36). Este Ano Santo iniciará na próxima solenidade da Imaculada Conceição e concluirá no dia 20 de novembro de 2016, Domingo de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do universo e face viva da misericórdia do Pai”.

“Encomendo a organização deste jubileu – acrescentou o Papa – ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, para que possa animá-lo como uma nova etapa do caminho da Igreja em sua missão de levar a todas as pessoas o Evangelho da misericórdia. Estou convencido de que toda a Igreja poderá encontrar neste jubileu a alegria para voltar a descobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual somos todos chamados a dar consolação a cada homem e a cada mulher de nosso tempo.

Encomendamo-lo desde agora à Mãe da Misericórdia, para que dirija a nós o seu olhar”.

Durante o vôo de regresso do Rio de Janeiro, em julho de 2013, Francisco respondeu à pergunta de um jornalista dizendo: “Eu creio que este é o tempo da misericórdia. Esta mudança de época, incluídos muitos problemas da Igreja – como um mau testemunho de alguns sacerdotes, inclusive por problemas de corrupção na Igreja -, como o problema do clericalismo, para dar um exemplo, deixou muitos feridos, muitos feridos. E a Igreja é mãe: deve ir curar os feridos, com misericórdia. Se o Senhor não se cansa de perdoar, nós não temos outra possibilidade além desta: antes de tudo curar os feridos... É mamãe, a Igreja, e deve seguir em frente por esta via da misericórdia. E encontrar uma misericórdia para todos. Eu penso, quando o filho pródigo voltou para casa, o pai não lhe disse: “Vejamos, tu, senta-te. O que fizeste com o dinheiro?” Não! Fez festa! Depois, talvez, quando o filho quis falar, falou. A Igreja tem que fazer assim. Quando há alguém... mas, não só é preciso esperá-los, é preciso ir buscá-los! Esta é a misericórdia. E eu creio que isto é um “kairós”: este tempo é um “kairós” de misericórdia. Mas, esta primeira intuição a teve João Paulo II, quando começou com Faustina Kovalska, a Divina Misericórdia... Ele havia intuído que era uma necessidade desta época”.

O “kairós”, segundo a tradição bíblica, é a circunstância conveniente, o tempo oportuno para uma iniciativa de Deus, que deve ser aproveitada no presente. Com o anúncio de hoje, Francisco quer favorecer a redescoberta do sacramento da penitência e da reconciliação, e recordar que “Deus não se cansa nunca de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir-lhe perdão“.

A bula será publicada no mês que vem no Domingo da Divina Misericórdia (12 de abril), instituído por João Paulo II. Este novo Ano Santo não é parte da série dos “ordinários”, celebrados a cada 25 ou 50 anos (o último foi o grande Jubileu de 2000), senão que faz parte dos Jubileus “extraordinários” que a Igreja promulga e momentos particulares da história, como o do Papa Wojtyla em 1983, para celebrar os 1950 anos da redenção que Jesus cumpriu na Cruz no ano 33.

“A via da Igreja” – disse o Papa durante a homilia do passado dia 15 de fevereiro com os novos e velhos cardeais – é a de não condenar eternamente ninguém: infundir a misericórdia de Deus a todas as pessoas que a pedem com coração sincero; a via da Igreja é justamente a de sair do próprio âmbito para ir buscar os que estão longe, os que estão nas “periferias da existência”, isto é, adotar integralmente a lógica de Deus e seguir o Mestre que disse: “Não são os sadios que necessitam de um médico, senão os enfermos; eu não vim chamar os justos, senão os pecadores, para que se convertam”.

Particularmente significativa, para compreender o olhar do Papa sobre este argumento, foi a homilia que pronunciou nesta tarde em São Pedro e que concluiu com o anúncio do Jubileu. Francisco, comentando a passagem evangélica da pecadora que se prostra diante de Jesus para ungir-lhe os pés com ungüentos perfumados, explicou sua atitude e a de Simão, o fariseu. No primeiro caso, está “o amor que vai além da justiça”, enquanto Simão, o fariseu, pelo contrário, não consegue encontrar a via do amor. Permanece quieto no umbral da formalidade... Em seus pensamentos invoca somente a justiça e, desta maneira, se equivoca. Seu juízo sobre a mulher o afasta da verdade”.

“O chamado de Jesus impele cada um de nós a não nos determos jamais na superfície das coisas – explicou o Papa -, sobretudo quando estamos frente a uma pessoa. Somos chamados a ver além, a apostar pelo coração para ver de quanta generosidade cada um é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus: todos conhecem a via para aceder a ela, e a Igreja é a casa que acolhe a todos e não rechaça ninguém. Suas portas permanecem abertas de par em par, para que todos os que tenham sido tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Se maior for o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja expressa aos que se convertam”.

Após o anúncio do Jubileu extraordinário e antes de ouvir a confissão de alguns fiéis, o Pontífice argentino se dirigiu aos confessionários de São Pedro e se ajoelhou para confessar-se pessoalmente.

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